Caso se confirme, uma eventual saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL deve deixar o partido sem representantes na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE). Ontem, o pesselista admitiu a parlamentares que deve deixar a agremiação, a qual se filiou para concorrer às eleições do ano passado.
Deputado estadual pela sigla, André Fernandes disse ao O POVO que só permanece hoje no partido por causa do presidente. "Na hora em que ele sair, eu saio junto, sou o primeiro. Faço até campanha de desfiliação", afirmou o parlamentar.
Fernandes já havia criticado na última terça-feira os rumos do PSL, que, segundo ele, estaria "afundando" e desacreditado mesmo no campo da direita. A avaliação negativa do deputado mira sobretudo no presidente do partido no Estado, o deputado federal Heitor Freire.
No Ceará, além de André Fernandes, mais votado nas eleições de 2018 para a AL-CE, a bancada pesselista na Casa conta ainda com Delegado Cavalcante. Ambos estão rompidos com Freire, de quem pediram afastamento alegando mau uso de recursos públicos e quebra de decoro partidário.
À reportagem, Cavalcante reiterou as falas de Fernandes. De acordo com o deputado estadual, eles estão apenas "aguardando orientação do Bolsonaro" para ficar ou sair do PSL. "A gente faz parte do projeto do Bolsonaro. Aonde ele for, nós vamos. Não tem o que discutir", completou.
Freire foi procurado para que comentasse se deve se desfiliar ou se fica no PSL mesmo com a possível ida de Bolsonaro para outro domicílio partidário. Por meio da assessoria, o pesselista respondeu que não falaria nada sobre o assunto, por ora. Questionada se o parlamentar havia participado de reunião entre 17 deputados do PSL e Bolsonaro na tarde de ontem, a assessoria respondeu que desconhecia se Freire tinha integrado a comitiva.
O ponto máximo dessa crise entre Bolsonaro e o PSL foi o episódio no qual o presidente pediu a um apoiador, na terça-feira, para que esquecesse o partido. Na hora, Bolsonaro gravava um vídeo com o apoiador, que é de Recife e mencionou o presidente nacional da legenda, deputado federal Luciano Bivar, investigado em Pernambuco por suspeita de comandar esquema de candidaturas laranjas.
A declaração de Bolsonaro causou mal-estar imediato. Houve reação na Câmara e no Senado. Entre os que rebateram o presidente, estão exatamente os dois líderes do partido: Delegado Waldir e Major Olímpio.
O próprio Bivar encarregou-se de responder ao presidente dizendo que o filiado ilustre já não tem nenhuma relação com o PSL. "Quando ele diz a um estranho para esquecer o PSL, mostra que ele mesmo já esqueceu. Mostra que ele não tem mais nenhuma relação com o PSL", disse o deputado ao Estadão.
As tensões entre Bolsonaro e o partido provocam incertezas não apenas sobre o futuro dos pesselistas, mas quanto ao rumo do partido. Em jogo, estão a segurança para que deputados que o acompanhem possam mudar de sigla sem risco de perder o mandato, mas também o fundo milionário a que o PSL tem direito.
Segundo participantes da reunião com o presidente, intenção é tentar bloquear parte dos recursos disponíveis para a legenda, na hipótese de Bolsonaro de fato abandoná-la.
Atualmente, o PSL tem à disposição mais de R$ 100 milhões do fundo, quantia rateada conforme o cálculo de representação parlamentar. Antes nanico, o partido inflou com a eleição de Bolsonaro, chegando aos atuais 53 deputados federais. Estima-se que, desse total, ao menos 15 adeririam ao movimento de saída de sua principal liderança.Por Henrique Araújo/OPOVO
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