Há algumas décadas, a esquerda vem submetendo as Universidades brasileiras ao seu domínio, notadamente na área de Ciências Humanas.
Os esquerdistas negam tal domínio, mas suas próprias e escancaradas práticas o confirmam. Exemplos e registros são muitos e variados, com todo tipo de abusos. Na esquerda universitária predomina, como sabemos, o marxismo. Hoje menos na sua versão ortodoxa marxista-leninista e mais na moderna versão da Escola de Frankfurt ou ainda no revivido pensamento do comunista italiano Antonio Gramsci.
Convém notar que a intolerância da esquerda universitária não é espontânea, mas ponto de doutrina, como podemos comprovar na repulsiva frase do festejado frankfurtiano Herbert Marcuse: “Toda a tolerância para com a esquerda, nenhuma para com a direita.”
Alargando o conceito de direita para incluir todos os que a ela ousem se opor, a esquerda universitária brasileira valeu-se desse preceito para conquistar sua hegemonia, conceito esse que é central ao seu complexo projeto psicopedagógico totalitário.
Como alguns leitores já sabem, também eu fui vítima dessa – assim chamada pelo próprio Marcuse – “tolerância libertadora”, que concretamente é a demonstração cabal de um alto grau de intolerância e covardia. A notícia ruim para o “moderno príncipe” universitário é que sua hegemonia está sendo contestada com cada vez mais desassombro. Não nos apraz, porém, remoer diretamente esse assunto.
O que pretendemos nesse texto é apontar para um problema educacional sutil que talvez tenha relevância para as discussões hodiernas. Defenderemos o seguinte ponto: a missão do professor é uma missão formadora, mas não política.
A educação brasileira não é um ponto fora da curva, mas o reflexo de uma inflexão teórica muito mais abrangente do que podemos equacionar a partir das vicissitudes do nosso sistema educacional. Não se trata de desprezar o trabalho técnico necessário para a melhoria do ensino, mas atentar para o fato de que é necessário descobrir o real problema a ser equacionado por um novo modelo educacional que porventura venha a surgir.
O que dá dignidade ao trabalho de docência é o talento individual e o respaldo moral adquirido pelo professor às custas da sua experiência e do seu esforço. O contato pessoal com o educador é de fato um impulsionador de mudanças de comportamentos e de valores.
O trato quase diário com aquele por quem se tem admiração responde por uma troca que conduz o educando à tentativa de superar suas limitações a fim de se moldar pelo exemplo daquele que lhe serve momentaneamente de modelo.
O objeto dessa relação é menos o conteúdo ensinado que o influxo empático na troca de experiências intelectuais. Isso precisa ser levado em consideração como algo corriqueiro, inerente ao processo educativo.
Não se pode negar que um dos pontos-chave do processo educativo é a relação professor-aluno, mestre-discípulo e que essa relação não poderá ser trocada por uma ferramenta tecnológica de ensino a distância sem que haja uma perda profunda de conteúdo.
Isso posto, vemo-nos diante de outro problema: mestres são raros, são exceções. Já não é tão comum encontrarmos nas escolas ou faculdades esses indivíduos nobres dotados a um só tempo de eloquência, vivacidade, simplicidade de espírito e real interesse de aprender e ensinar.
Não há mestre se não houver discípulo e só há discípulo se houver professor capaz de despertar interesse, admiração, simpatia, atração. Justificamos o tratamento desse assunto aparentemente desconexo dos prementes problemas da nossa educação para dizermos algo breve e sucinto acerca da nossa falência nesse setor: a falência educacional não é simplesmente técnica ou burocrática; é uma falência moral.
O que importa ao educador hoje em dia é ou o bom desempenho técnico do seu aluno (no caso de se tratar aqui de um simples burocrata no papel de professor) ou o êxito da lavagem cerebral que transforma o neófito em revolucionário – revolução essa que, sabemos, busca menos as armas do que a transmutação e a dissolução dos valores morais. Esse segundo tipo é o mais comum: trata-se do militante travestido de professor.
Não há incongruência entre ser professor e fazer política, mas há sim incongruência em fazer da atividade docente uma atividade política. Ou se está interessado no conhecimento ou se está interessado no poder, seja para subvertê-lo, seja para alcançá-lo.
O político é aquele que se ocupa do bem comum e do poder, enquanto o pedagogo é aquele que se ocupa do indivíduo e de sua instrução. O indivíduo não é alcançado pelo político e por isso o uso político da atividade docente a descaracteriza enquanto tal.
O nosso diagnóstico, portanto, é o de que há uma necessidade impostergável de rever as teorias pedagógicas que louvam e incentivam a assunção, por parte do professor, de uma função política. Pedagogia do oprimido, pedagogia crítica, pedagogia revolucionária, pedagogia política: nada disso é pedagogia. É demagogia e política, simplesmente.
Tudo isso deturpa e conspurca uma definição mais refinada e nobre de processo educador e de formação humana. Não é à toa que as faculdades de Ciências Humanas têm sido palco de cenas as mais bizarras: são laboratórios de engenharia social que, por tentativa e erro, sem compaixão com as vítimas (cobaias) tentam construir o novo tipo humano, aquele que não tem gênero, não tem limites, não tem lei, não tem regra, não tem ordem; aquele que transgride tudo – até a natureza – só não transgride a ética interna da esquerda progressista que os instrumentaliza, manipula suas ideias, seus desejos, sua sexualidade, fazendo crer a esses jovens que o critério de realidade está na sua vontade, no seu desejo, no seu princípio de prazer.
Um professor não tem que ser um sujeito político para o seu aluno; um professor não é alguém que induz à transgressão, à revolta, à rebeldia, à anarquia. O professor é o mestre que, com toda a sua experiência existencial, intelectual e moral, volta-se cautelosamente para uma alma mais incipiente, carente e curiosa a fim de arejar aquela mente com ideais mais nobres, conhecimentos mais sólidos, ideias mais originais, reflexões mais sutis.
O professor é uma espécie de guia turístico no país desconhecido do conteúdo que leciona: não especula sobre a impressão que o visitante deve ter diante da nova paisagem; não tenta sugestionar outra emoção senão a da curiosidade. O guia/professor sabe que a emoção virá naturalmente no aluno que procura integrar-se no amplo campo do conhecimento humano, na longa história das ideias.
Não podemos pedir ao professor de hoje que deixe para trás suas ideologias, mas podemos pedir e talvez devamos exigir que eles respeitem a autonomia política e moral dos jovens que estão momentaneamente sob a sua tutela ou influência. Qualquer restauração da educação precisará passar pelo resgate do significado de ensinar. E ensinar não é e jamais será insuflar politicamente.
O profetismo revolucionário fomentado por professores irresponsáveis levou a crer que a negação de valores equivale à liberdade e que a contumácia política equivale a um despertar profícuo da consciência. Esqueceram, porém, que antes do despertar da dita consciência social é necessário o despertar de si mesmo, da própria nobreza de espírito e das altas pretensões morais. Preferiram o caminho mais difícil de projetar a transformação social a partir de suas ações desequilibradas.
Esbravejar bravatas, criar inimigos imaginários e rotular de fascista todos que não comungam de uma visão materialista, hedonista e reducionista é fácil; difícil é lutar para se fazer portador de uma ideia.
Insuflar estudantes, fazer do pátio da faculdade um palanque, tentar destruir a reputação de colegas que têm opinião política distinta é fácil; difícil mesmo é aprender a ser gente e a honrar o digno e nobre cargo de professor.FOCUS
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