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domingo, 15 de julho de 2012

O LADO TRÁGICO DO CIÚME

Por .   Postado  domingo, julho 15, 2012   Sem Comentários



Uma história de amor iniciada há quatro anos que terminou em agressão e morte por ciúme excessivo. É assim que pode ser resumido o relacionamento do corretor de imóveis Bruno César Augusto Ribeiro, 30 anos, com sua mulher, a ex-modelo Babila Teixeira Marcos, 24. Após uma discussão regada a muita bebida alcoólica, Bruno matou Babila a facadas. Um dos golpes desferidos esfacelou a maçã direita do belo rosto da jovem, que jazia deitada na cama quando policiais entraram na casa do casal no bairro do Jabaquara, em São Paulo. No quarto ao lado, o filho de 2 anos dormia alheio à discussão dos pais. Bruno foi indiciado por homicídio qualificado e motivo torpe na semana passada. O derradeiro desentendimento do casal parecia apenas mais um entre tantos, geralmente motivados pelo ciúme exagerado dele. Logo no começo do namoro, Bruno proibiu Babila de seguir trabalhando como modelo. Não satisfeito, escolhia as roupas que a mulher poderia vestir e a afastou dos amigos de São Bernardo do Campo, município do ABC paulista onde ela nasceu e se criou. “Ele a exibia como se fosse troféu. Um objeto que ele poderia usufruir quando quisesse”, afirma o comerciante Alexandre Marcos, pai da ex-modelo, que tem uma distribuidora de água mineral onde a filha trabalhava. 

Considerado por muitos o “tempero das relações”, o ciúme é um sentimento comum a quase todos os humanos e pode até mesmo ter desempenhado papel fundamental na evolução da espécie. Segundo teorias da psicologia evolucionista, é uma característica biológica que herdamos de nossos ancestrais, que usaram esse sentimento como um mecanismo de sobrevivência. “As mulheres das cavernas sentiam ciúme de seus machos para que eles não copulassem com outras fêmeas, o que colocaria em risco a sua própria prole.

Já os homens usavam o ciúme como uma forma de garantir que a parceira não geraria filhos de outros machos”, diz o psicólogo Thiago de Almeida, especializado em relações difíceis e autor do livro “Ciúme e Suas Consequências para os Relacionamentos Amorosos” (Editora Certa). Dos primeiros enlaces românticos até hoje, o ciúme muitas vezes apareceu atrelado a conceitos positivos, como zelo e proteção. A máxima de que “quem ama cuida” é comumente citada pelos ciumentos para justificar seus atos. “Porém, quando esse sentimento passa a ser um sofrimento muito grande, a ponto de prejudicar a vida daquele que o sente, ou a de seu parceiro, pode se tratar de um quadro de ciúme patológico”, alerta Almeida.
O retrato mais emblemático de ciúme doentio provém da literatura. No clássico “Otelo – O Mouro de Veneza”, de William Shakespeare (1564-1616), o general protagonista da história acredita piamente estar sendo traído por sua esposa, Desdêmona. Cego pelo ciúme e pela raiva, ele asfixia a mulher. Depois, no entanto, ao descobrir que ela não era adúltera, tira a própria vida com um punhal e antes de morrer ainda beija o corpo inerte de Desdêmona. A tragédia shakespeariana acabou por batizar a condição chamada de ciúme patológico, também conhecida como “síndrome de Otelo”. “Diferentemente do ciúme normal, o doentio não precisa de uma motivação. Ele pode surgir sem que algo desencadeie uma suspeita”, explica a psicanalista Tatiana Ades, autora dos livros “Hades: Homens Que Amam Demais” e “Escravas de Eros” (Editora Isis). De acordo com especialistas, há dois tipos mais comuns de ciúme (leia quadro na pág. 78). No ciúme normal, ou protecionista, o ciumento se sente ameaçado por alguma situação ou por um rival em potencial e quer proteger a relação ou a pessoa que ama. Já no doentio ou retaliador, o medo de perder o ser amado faz com que a pessoa aja de forma punitiva, sem considerar argumentos racionais. “O ciumento patológico acredita em seus próprios delírios e essa autoilusão, em casos extremos, pode levar a agressões ou até à morte”, diz Almeida. 
A combinação de amor, ciúme e tragédia, que sempre pontuou as crônicas policiais, também está presente em outro caso recente que mobilizou o País. Em 16 de junho, a policial federal Angelina Filgueiras, 42 anos, irmã da modelo Ângela Bismarchi, morreu com um tiro no peito durante uma discussão entre ela, o namorado, Jolmar Wagner Alves Milato, 40, e o ex-marido, o capitão reformado da Marinha Márcio Luiz Dias Fonseca, 48, que também faleceu. Segundo o advogado de defesa de Milato, o ex-marido de Angelina não aceitava o fim do casamento e teria feito ameaças a ela e a seu cliente, antes de entrar armado na casa dela naquela noite. Desesperada pela briga entre os dois, Angelina atirou em si mesma, e Milato, agindo, conforme alega, em legítima defesa, disparou três vezes contra Fonseca. Parentes da vítima disseram que o sentimento que Fonseca nutria por Angelina era doentio. “Quem sofre de ciúme patológico acaba se tornando uma marionete dos próprios sentimentos, mas a violência é um processo cumulativo”, explica Almeida. “Quando o cônjuge aceita uma reação violenta ou uma agressão psicológica do ciumento, acaba reforçando esse comportamento.”

A escalada de agressões verbais, psicológicas e físicas é bem conhecida da enfermeira Bernadete Segatto, 50 anos. Na semana passada, ela chegou à Primeira Delegacia de Defesa da Mulher, em São Paulo, munida com quase uma dezena de Boletins de Ocorrência (BO) contra o ex-namorado, Robert de Lima Fonseca, 48 anos. Os documentos relatam parte da história do casal, que começou há quase três anos e teve várias idas e vindas até o fim definitivo, em novembro do ano passado. Bernadete conta que Fonseca a agride desde o início do relacionamento. “Sempre que acontecia, eu terminava o namoro, mas ele ia atrás de mim e me ameaçava. Eu não voltava por amor, voltava por medo”, diz. Conforme relato da enfermeira, Fonseca a agrediu fisicamente várias vezes, a jogou de um carro em movimento, a prendeu em cárcere privado, a estuprou quando ela tentou terminar a relação e ameaçou os filhos dela, que hoje vivem com o pai por determinação do Ministério Público. Tudo por ciúme. “Enquanto eu estava com ele, era proibida de trabalhar, de fazer esportes, de qualquer coisa. Ele sempre me acusava de estar tendo um caso com alguém, fosse o professor da academia ou o pastor da igreja. Uma vez ele cortou meu cabelo para tentar me deixar mais feia”, diz.
ISTOÉ

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