Prejuízos ambientais se agravam à medida que óleo se espalha sobre as praias nordestinas e que governos não
A medida que o petróleo cru avança, instável, sobre as praias nordestinas, aumenta a preocupação a respeito do consequente agravamento do desastre ambiental.
Mais ecossistemas se desequilibram, mais bichos morrem, o solo fica comprometido e as indústrias turística e de pesca estremecem.
O maior risco, agora, é que o óleo invada manguezais, tidos como os "úteros da vida marinha". No Ceará, vestígios do piche já foram registrados no mangue da Sabiaguaba, em Fortaleza, e no banco de algas de Barreiras, em Icapuí.
O relatório mais recente divulgado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) na última quinta-feira, 24, dá conta de que o Ceará tem ao menos 11 praias oleadas. Somado ao restante do Nordeste, já são mais de 238 áreas afetadas.
Em coletiva para a imprensa ontem, 25, em Recife, Pernambuco, o almirante de Esquadra Leonardo Puntel, comandante de Operações Navais da Marinha do Brasil, considerou esse o momento "mais inusitado" vivido no País.
"Totalmente diferente de todos os acidentes de poluição hídrica provocados por óleo no mundo ocidental", observou. Disse, também, que o inquérito para chegar às causas do desastre seguem "com muita seriedade e competência".
Ministro do Turismo e representante único do Governo Federal na coletiva, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) se disse preocupado com o setor, que, segundo ele, estaria sofrendo perdas financeiras, principalmente, em venda de pacotes turísticos.
E, para garantir capital de giro ao ramo, anunciou "R$ 200 milhões em linhas de crédito àqueles pequenos e médios empresários que se sentirem impactados, que possam ver seus rendimentos abalados".
Contudo, se não controlada logo, a situação pode gerar prejuízos ambientais imensuráveis. Pela última contagem oficial, que depende do que aparece na costa brasileira, se sabe que pelo menos 39 animais, entre aves, tartarugas, peixes e répteis, foram afetados pelo óleo. Isso acontece porque, na superfície do mar, os bichos entram em contato com o piche e não conseguem se desprender.
Luís Ernesto Arruda, professor de oceanografia no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), explicou que, quando adere ao corpo dos animais, o óleo os impede de se locomover e de regular a própria temperatura corporal. Além disso, no caso das aves, a tentativa de se limpar da substância com o bico faz com que elas acabem ingerindo parte dela, o que causa danos ao fígado, pulmão e rins.
Quando se trata da possibilidade de o óleo invadir o mangue, ou seja, o lar de jacarés, caranguejos, moluscos e outros animais típicos, a preocupação cresce exponencialmente. Luís Ernesto explica o porquê: "É muito difícil de limpar. A lama é muito fina. Não é como a areia da praia que você consegue empacotar o óleo".
Sendo assim, a tendência é que a substância fique presa entre as raízes profundas e ramificadas das plantas e contamine toda a fauna.
Especialistas cobram, portanto, monitoramento dos estuários e das áreas de transição entre rio e mar para conter o avanço do óleo. Célia Ferreira, 48, vendedora que mora próximo à praia de Parajuru, e que nem é estudiosa do assunto, reforça:
"Vimos uma equipe no mangue tentando fazer uma limpeza decente. Mas você acha que 15 pessoas simples da comunidade vão dar jeito em um desastre desse tamanho? Tudo é feito de forma amadora, sem apoio do Governo Federal", provocou. (Com informações dos repórteres Alexia Vieira, Ítalo Cosme e Flávia Oliveira)
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