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terça-feira, 28 de agosto de 2018

"A INDÚSTRIA DA MACONHA É UM ESPAÇO EM QUE O TRABALHO DA MULHER PODE FINALMENTE SER RECONHECIDO"

Por ipuemfoco   Postado  terça-feira, agosto 28, 2018   Sem Comentários


A feminista americana é criadora e editora-chefe da Broccoli, uma revista para “mulheres que amam maconha”. 

Seu objetivo é tornar legal a indústria da Cannabis, hoje dominada por homens

1. Qual é a relação entre feminismo e maconha?

Os direitos à saúde reprodutiva das mulheres estão sempre sendo colocados em risco ou tirados de vez, de modo que o acesso à maconha legal é uma forma de a mulher ter poder sobre sua própria cura. No campo profissional, é importante lembrar que a maconha legal é uma indústria muito nova e em rápido crescimento nos Estados Unidos. 

Podemos nos fazer ouvidas enquanto as regras ainda estão sendo escritas. Temos mais poder para repelir estruturas corporativas misóginas do que jamais tivemos antes. Há muito dinheiro fluindo para a maconha agora, e, infelizmente, as empresas são quase sempre lideradas por homens, que carregam seus antigos pontos de vista.

2. A maconha é mesmo uma “causa” relevante para o feminismo?

As mulheres estão acostumadas a ver seu trabalho duro ser ignorado ou seu crédito ser dado a outra pessoa, a um homem, não? A indústria da maconha é um espaço em que o trabalho da mulher pode finalmente ser reconhecido. Fato é que muitas mulheres qualificadas e poderosas estão entrando nessa indústria e atuando como líderes.

3. A senhora já deve ter ouvido de homens dessa indústria a pergunta:“O feminismo não tem questões mais sérias para resolver, como a luta pelo direito ao aborto ou contra o feminicídio?”. O que diz a eles?

Vivemos em uma sociedade que prioriza as experiências e as necessidades dos homens brancos. A princípio, pode parecer frívolo dizer que fazer uma revista para mulheres que gostam de maconha é um ato feminista político e importante. 

Mas somos uma empresa de mídia independente, de propriedade de mulheres e feita por mulheres. Nossos colaboradores são quase sempre mulheres, pessoas não binárias ou queer. Não há muitas empresas de mídia por aí que podem dizer isso. 

Priorizamos vozes marginalizadas e tentamos mostrar uma visão muito abrangente do que significa ser alguém interessado em maconha, o que ajuda a romper estereótipos e conectar pessoas. Imagine uma mulher que vive onde a maconha é ilegal, que se sente culpada e não consegue falar com amigos sobre isso. 

Ela vê uma revista como a Broccoli e lê outra mulher contar experiências que espelham as dela. Ser aberta sobre o consumo de maconha é estar num lugar muito vulnerável, e a Broccoli procura mostrar que é ok ser quem você é. É um reforço que diz: “Você não deve sentir vergonha do que é, do que faz”.

4. Como surgiu a ideia de fazer uma revista feminina sobre maconha?

Com a legalização se desenrolando nos EUA, vemos grandes avanços na percepção cultural do que significa consumir maconha. Nos mercados legais, geralmente é possível encontrar marcas com embalagens lindamente desenhadas, lojas de varejo que se parecem com lojas de grife, e eu não vi ou ouvi nada que fosse assim no campo das mídias. 

As revistas sobre maconha em geral têm foco na indústria, tratam de temas como o crescimento ou a produção da planta e são dominadas por homens, que tratam as mulheres como uma novidade. Por outro lado, eu via que as mulheres que fumam maconha são supercriativas e têm muitos outros interesses, para além do negócio e da produção. 

Por isso fizemos uma revista que olha para a maconha através das lentes da arte, da cultura e da moda. É um amplo escopo editorial, por isso somos capazes de tocar em muitos assuntos. Na edição atual (a revista está no terceiro número) temos um ensaio de uma mulher de 60 anos do Japão sobre o significado cultural da maconha no país. 

Temos um ensaio fotográfico com louquíssimas artes de unha com o tema 4:20 (números associados à maconha, símbolo cunhado desde que um grupo de estudantes americanos achou um mapa com a localização de uma suposta plantação de maconha em Point Reyes; os alunos combinaram de se reunir às 4h20 para procurar o local, que nunca foi encontrado). 

Também publicamos perfis de mulheres da indústria, textos sobre músicas que você pode tocar para suas plantas de maconha ou trabalhos científicos na área. Temos artigos sérios e outros totalmente tolos. A maconha é multifacetada, e queremos mostrar isso. Tudo bem ser sério, não há problema em ser sensível e é ok ser estranho e rir. Há espaço na maconha para uma vasta gama de expressões.

5. A senhora costuma dizer que a indústria da maconha legal é dominada por homens. Por que uma indústria tão jovem já é sexista?

Como qualquer indústria, a da Cannabis é financiada sobretudo por homens ou grupos de investimento que construíram impérios em outras indústrias, como a da tecnologia. Estamos familiarizados com o panorama sexista dessas corporações, e por isso é frustrante quando alguém abre um negócio de Cannabis sem pensar em mudanças. 

Há, claro, empresas de maconha de propriedade feminina incríveis, mas são minoria e geralmente não tão ricas quanto outras. Essa comunidade de mulheres empreendedoras da maconha é muito receptiva à Broccoli, e fazemos tudo para recompensá-la. Existe um espírito de “estamos todas juntas nessa”.

6. Os produtos da maconha espelham o domínio de homens nessa indústria?

Atualmente é difícil acompanhar todos os novos produtos e marcas, especialmente com o canabidiol. As pessoas estão muito curiosas para experimentá-lo. Isso é emocionante, mas também assustador. 

As empresas fazem promessas sobre seu poder medicinal e nem sempre podem cumpri-las. Como consumidor, é difícil saber o que é real e o que é falso. Há muita confusão, e nesse sentido eu diria que, sim, os produtos são um espelho da indústria. Prestar informações precisas sobre a maconha é uma das prioridades da Broccoli. 

Temos um editor de ciência aqui, para garantir que os dados que publicamos estejam embasados. Como a maconha é ilegal no âmbito federal nos EUA e em tantos outros países, os caminhos para a pesquisa científica ainda são restritos. Então precisamos ser cautelosos. Queremos que os leitores aprendam conosco e aceitem que ainda há muitas incógnitas no mundo da maconha. 

Adoramos falar sobre pesquisas e também compartilhamos experiências pessoais com a Cannabis. No entanto, é importante fazer uma separação clara entre evidência anedótica e fato científico.

7. A senhora acredita que o mercado está evoluindo e contemplando mulheres?

A indústria muda a cada dia, e as pessoas em todo o mundo são muito curiosas em relação à maconha. Os estereótipos estão desaparecendo, e temos uma visão mais diversificada e sem julgamento do que é ser um usuário de maconha. 

A própria história das mulheres com a Cannabis está extremamente popular, e isso ajuda muito quando se trata de mudar estigmas. Mas o estigma é apenas uma parte do problema, temos de ir além da superfície e dar poder real às mulheres, financiando suas empresas, comprando seus produtos e fazendo tudo que pudermos para equalizar o campo de atuação da indústria.

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