Os estádios da Copa do Mundo são capítulo à parte na Lava Jato e trazem as investigações para o Poder Executivo do Ceará.
Não é nenhuma surpresa as denúncias generalizadas envolvendo a obra. Escrevi seis anos atrás, em uma de minhas primeiras colunas como titular desse espaço: “(a Copa pode ser) uma porta aberta para a maior farra de corrupção que o País já conheceu”.
Para ler o que escrevi acesse, leia a nota “Maior espetáculo da Terra pode virar a maior roubalheira do Brasil”, neste link: http://bit.ly/copacorrupcao
O ministro Edson Fachin encaminhou para a primeira instância as informações sobre fraudes no Maracanã (RJ), Mané Garrincha (DF), Arena da Amazônia (AM), Arena Pernambuco e no nosso Castelão velho de guerra.
Há ainda o caso do Itaquerão (SP), que será investigado no próprio Supremo Tribunal Federal (STF). Seis dos 12 estádios construídos ou reconstruídos para a competição.
O evento seria catalizador de recursos e indutor de investimentos públicos e privados. Deveria ser instrumento para o progresso por pelo menos uma década. O País entrou em recessão no ano seguinte e até hoje peleja para sair. Nesse meio tempo, muita gente enriqueceu.
Para piorar, os estádios quase todos se tornaram elefantes brancos. Os que são públicos estão praticamente todos subutilizados, o Castelão incluso. Sob gestão privada, a administração é pífia. A rotina de shows que viabilizaria as “arenas” tem sido tímida. Conseguiram esvaziar até um templo sagrado do esporte mundial, caso do Maracanã.
As promessas da Copa não se concretizaram em aspecto algum: econômico, esportivo, social, coisa nenhuma. Um fracasso completo e muito maior que o 7 a 1. Só funcionou para quem arrancou dinheiro de lá. Não parece ter sido pouca gente.
CASTELÃO
Desde antes de o resultado da licitação sair, havia notícias sobre direcionamento da licitação. Essa é a denúncia que Fachin encaminhou para ser investigada: conluio entre empresas para que uma delas saísse vencedora.
Um dos pilares teóricos do capitalismo é a livre concorrência. Porém, as empresas, como regra, adoram monopólios. Se valem deles para cobrar preços maiores. Um dos fundamentos do sistema econômico é instrumento que seus atores fazem de tudo para burlar. A essência do escândalo investigado na Lava Jato está no conluio e no suborno para driblar licitações, evitar concorrência e assegurar contratos.
Essa realidade define muito da situação do capitalismo nacional, mas não só aqui. A livre concorrência nem sempre é a realidade nos mercados. A tendência de quem tem poder é monopolista.
O liberalismo econômico muitas vezes não é menos utópico que o socialismo.
PAPEL POLÍTICO
Qual a abrangência das possíveis irregularidades no Castelão? É cedo para responder. Por ora, fala-se em conluio entre empresas. Esse tipo de combinação não necessariamente envolve os governos — no caso, o de Cid Gomes (PDT).
Há muitas situações nas quais os gestores e o Estado são vítimas do esquema, pois acabam pagando mais por certames manipulados. Porém, a Lava Jato também está repleta de casos nos quais os governos foram parceiros no direcionamento das licitações.
A Petrobras está repleta de exemplos. Qual o caso do Ceará — se houve mesmo fraude e com participação de quem — o tempo dirá. Até lá, muita gente está sob a lupa das investigações.
TEMPO PARA A POEIRA BAIXAR
Não deixa de ser engraçado ver a confusão instaurada na disputa pelo diretório do PT em Fortaleza, enquanto não se sabe o que vai sobrar do partido e da política com as denúncias da Lava Jato.
ALTERNATIVAS
O PT deveria seriamente buscar construir alternativas que tragam alguma novidade. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstra impressionante resiliência ao seguir em folgada liderança nas pesquisas de intenção de voto. Mas, diante dos desdobramentos das investigações, não me parece a hipótese mais provável vê-lo como candidato em 2018.
ÉRICO FIRMO
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