Eram cerca de 22h30m da última sexta-feira quando aproximadamente dez mil pessoas se reuniam na Praça Cardeal Câmara, em frente aos Arcos da Lapa, para acompanhar o show gratuito da cantora Daniela Mercury, seguido de um espetáculo de projeções sobre o símbolo maior da região. Próximo dali, jovens de diversas idades começavam a lotar a Travessa do Mosqueira, uma entre as tantas ruas do local com depósitos de bebida e bares. “Vai pó, vai maconha?”, perguntou um garoto, menor de idade, sem qualquer inibição, quando o repórter do GLOBO chegou à esquina da Rua Joaquim Silva, a um quarteirão de distância dos policiais militares e dos guardas municipais que patrulhavam a Avenida Mem de Sá.
A situação, corriqueira, de acordo com testemunhas, ilustra o atual estado da Lapa, berço da boemia e da malandragem cariocas, local de grande circulação de turistas e onde assaltos, venda e consumo de drogas ainda são frequentes, apesar do policiamento e das obras de revitalização na região, transformada oficialmente em bairro há quase dois meses.
De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), a 5ª DP (Gomes Freire), delegacia da região, registrou 140 roubos e 479 furtos em maio deste ano. Em abril, os números foram semelhantes: 131 e 466, respectivamente. Se comparados com os dados do ano passado, não há grandes mudanças nos índices: 149 roubos e 427 furtos em maio, contra 187 e 512 em abril. No entanto, o número de casos pode ser ainda maior, já que muitos ainda preferem não registrar ocorrência por acharem “natural” a situação.
— A Lapa tem um problema que é a naturalização da violência. Ou seja, boa parte das pessoas que são assaltadas não presta queixa e aquelas que assaltam não se intimidam — afirma o gerente de um bar próximo aos Arcos que preferiu não ser identificado. — A Lapa está longe de ser uma área segura. Já tive clientes assaltados após sair daqui e, num caso mais grave, uma menina foi estuprada, em outubro do ano passado.
A Polícia Civil informou que sabe da venda e do consumo de drogas na área, acrescentando que tem feito operações para reprimir o tráfico. A PM, por sua vez, disse que atua na região com quatro viaturas de dia e 12 à noite, além do policiamento montado e de 20 policiais no patrulhamento a pé — nos fins de semana, ele é reforçado. Após saber, pela equipe de reportagem, da venda de drogas na Joaquim Silva, a corporação disse que passará a deixar uma patrulha na rua.
A Secretaria municipal de Assistência Social admitiu que há uma concentração de adultos e menores de rua na Lapa que fazem uso de drogas. O órgão informou que equipes atuam diariamente na abordagem dessa população, mas que muitas pessoas levadas aos centros de tratamento os deixam por causa do vício em álcool ou drogas.OGLOBO
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