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domingo, 2 de novembro de 2025

FAVORITISMO OU VOTO CASADO? O QUE O HISTÓRICO DA DISPUTA PELO SENADO SINALIZA PARA 2026

Por ipuemfoco   Postado  domingo, novembro 02, 2025   Sem Comentários


A disputa para o Senado Federal em 2026 tem ganhado força nas tratativas pré-eleitorais no Ceará, com uma lista de

possíveis postulantes que cresce tanto na base quanto na oposição. 


O histórico de articulações dos últimos 15 anos mostra a oscilação de estratégias nesse sentido, passando pelo favoritismo de ex-governadores e pelo chamado “voto casado”, no qual candidaturas aliadas buscam aglutinar eleitores em conjunto.

Os atuais senadores Cid Gomes (PSB) e Eduardo Girão (Novo) indicam que não disputarão a reeleição. Com as vagas em aberto, as negociações partidárias englobam a tentativa de coalizão da direita e o amplo leque de aliados da base governista. Na oposição, o grupo busca manter pelo menos uma das cadeiras contrária ao governismo no Estado.

Faltando cerca de um ano para as eleições gerais, o grupo opositor já trabalha com as pré-candidaturas do deputado estadual Alcides Fernandes (PL), da vereadora de Fortaleza Priscila Costa (PL) e do general Guilherme Theophilo (Novo). A aliança também envolve o União Brasil, sigla que possui nomes na ala contrária ao Governo Elmano de Freitas (PT), mas que ainda não apresentou nomes para a disputa e aguarda a formalização da Federação com o PP.

Professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mariana Dionísio de Andrade analisa que, pelo histórico das disputas ao Senado, a oposição tem buscado alinhar candidaturas senatoriais com postulantes competitivos ao governo estadual e dividir geograficamente as bases para evitar “canibalização de votos”. 

“De 2010 a 2024, por exemplo, essa estratégia se manteve mesmo com a crescente fragmentação partidária e volatilidade eleitoral que temos visto. Para 2026, o desafio será coordenar múltiplos partidos oposicionistas num contexto de maior imprevisibilidade, negociando para evitar competição entre membros da mesma legenda. O sucesso depende da combinação entre capital político consolidado dos candidatos e sofisticada coordenação estratégica entre os partidos”
Mariana Dionísio de Andrade
Professora da Unifor e doutora em Ciência Política pela UFPE

Por outro lado, a relação de cotados ao Senado da base governista é mais extensa, embora ninguém tenha sido confirmado até aqui. São eles: os deputados federais José Guimarães (PT), Eunício Oliveira (MDB), Júnior Mano (PSB) e Moses Rodrigues (União); o ex-senador Chiquinho Feitosa (Republicanos); o ex-vice-governador Domingos Filhos (PSD); e o chefe da Casa Civil, Chagas Vieira. A deputada federal Luizianne Lins (PT) chegou a ser lançada pré-candidata pelo Campo de Esquerda.

CANDIDATURAS ‘CASADAS’

Professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas analisa que, historicamente, é comum um “casamento” entre candidaturas exitosas ao Governo do Estado e ao Senado. Nesse sentido, o pesquisador lembra do pleito de 2002, quando Tasso Jereissati (PSDB) e Patrícia Saboya (PPS) foram eleitos senadores, como aliados de Lúcio Alcântara (PSDB), que venceu a disputa pelo Palácio da Abolição. 

No entanto, pondera Emanuel Freitas, um cenário de competitividade se instaura em 2010. Naquele ano, a eleição teve Tasso Jereissati (PSDB), Eunício Oliveira (MDB) e José Pimentel (PT) como os principais candidatos na corrida por duas vagas ao Senado Federal. 

Em 2010, Tasso era franco favorito à reeleição e ainda fazia parte da base governista no Ceará junto com os parlamentares do PSDB, sendo aliado do então governador Cid Gomes até as vésperas do pleito. No entanto, a postura da sigla de forte oposição ao Governo Lula (PT) fez com que o apoio federal fosse crucial para a formação de um candidatura “casada” entre os outros dois concorrentes. Resultado: o ex-governador registrou sua primeira derrota em uma corrida eleitoral.

“O Tasso era mais oposição nacional. E aí aqui entra em cena aquele famoso vídeo do Lula com o Cid, o Pimentel e o Eunício, em que o Lula e o Cid dizem que quem vota no Pimentel vota no Eunício, quem vota no Eunício vota no Pimentel, não precisa mais votar em ninguém. E o Tasso vai à TV para dizer que tinha sido traído por pessoas que até então eram suas amigas. Então, penso que a eleição ali de 2010 ainda não é resolvida entendendo ali o plano da oposição para o Senado, você teve ali ainda uma disputa entre pessoas próximas”
Emanuel Freitas
Professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

Para a cientista política Cleris Albuquerque, a disputa de 2010 inicialmente apontava a reeleição de Tasso Jereissati como certa, mas o cenário foi alterado com a forte intervenção de Lula com objetivo de emplacar seus candidatos. 

“Quem não se lembra do ‘quem vota em um vota no outro’? Essa dobradinha chancelada por Lula enfraqueceu a campanha de Tasso”, pontua a especialista. 

“As candidaturas ao Senado, quando é em eleição para duas vagas, elas precisam ser casadas. É um voto duplo. E o Tasso tinha naquela eleição como segundo voto o Alexandre Pereira (PPS) que acabou marchando sozinho, ele não fez uma campanha casada, do mesmo jeito que o Tasso também não fez”, acrescenta Emanuel Freitas.

UM PROJETO DE OPOSIÇÃO

Em 2014, foi a vez do favoritismo dar o tom da disputa e consagrar o retorno de Tasso Jereissati (PSDB) ao Senado Federal, desta vez como oposição nos campos estadual e federal. À época, o tucano entrou na candidatura apoiando Eunício Oliveira, que disputava o Governo do Ceará contra Camilo Santana, aliado de Cid Gomes. 

Camilo conquistou o Palácio da Abolição naquele pleito, mas não conseguiu emplacar Mauro Filho (PROS) para a vaga do Senado. Ao fim da corrida eleitoral, o projeto da oposição triunfou: Tasso foi eleito senador, ao somar 57,9% dos votos.

“O Tasso teve uma campanha muito fácil, por quê? Por que o nome do governo, o nome da chapa governista, que era o Mauro Filho, fez uma campanha bastante tímida. Parecia até em alguns momentos que estava apenas ali cumprindo tabela, porque tinha que ter uma candidatura senatorial na base governista”, avalia Emanuel Freitas. 

“Considerando que em 2014 o candidato governista era Mauro Filho, e só havia uma vaga, foi a hora de Tasso nadar de braçada e voltar ao Senado. O que podemos tirar como conclusões? O apoio do governo federal faz diferença, mas uma boa campanha pelo estado também tem seu valor, além de articulações políticas (para fortalecer a chapa)”
Cleris Albuquerque
Cientista Política

Para Mariana Dionísio de Andrade, houve uma mudança de estratégia da oposição com a incorporação de "perfis mais combativos e anti-governistas" entre 2014 e 2018, capitalizando crises políticas e diversificando além dos nomes tradicionais. 

“De 2018-2022, a oposição de direita avançou significativamente, e o ex-presidente Bolsonaro influenciou a vitória de 15 dos 27 eleitos para o Senado, incluindo cinco ex-ministros”, pontou a especilista, salientando o cenário nacional. 

UMA VAGA PARA OPOSITORES

Em 2018, com duas vagas em jogo, Cid Gomes (então PDT) entrou na disputa como favorito após dois mandatos de governador do Ceará. O aliado de primeira ordem seria Eunício Oliveira (MDB), outro nome apoiado por Camilo Santana, que buscava o segundo mandato ao Palácio da Abolição. 

Entretanto, a chapa governista que se pretendia “casada” não emplacou. Eunício enfrentou resistência de alguns nomes da base, levando em conta que, quatro anos antes, era opositor de Camilo e havia votado a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, como aliado de Michel Temer (MDB).   

O racha interno abriu margem para a oposição ficar com uma das vagas do Senado: o empresário Eduardo Girão (à época, Pros) — estreante em eleições — foi eleito senador da República com 17% dos votos, levemente à frente de Eunício (16,93%). Por sua vez, Cid Gomes ganhou com folga, ao atingir 41,62%.

No pleito, Girão contou com o apoio de lideranças oposicionistas, como Capitão Wagner, então candidato a deputado federal, e de Tasso Jereissati (PSDB). Outro nome da oposição para o cargo era Mayra Pinheiro (PSDB), que ficou em quarto lugar, com 11,37% dos votos.

“Penso que com a eleição do Eduardo Girão em 2018 para o Senado, agora sim, um projeto de oposição, como também era a candidatura do Tasso em 14, não em 10, mas em 14. Então com essas duas vitórias consecutivas para a chapa de oposição, pensa então que foi mostrando aí a possibilidade de que grupos não alinhados ao governismo local podem vencer essa eleição majoritária para o Senado”
Emanuel Freitas
Professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

Já nas últimas eleições gerais, outro ex-governador entrou no pleito para o Senado com largo favoritismo e consagrou-se para o cargo: Camilo Santana (PT), repetindo os feitos de Tasso e Cid. Atualmente a vaga está com a suplente em exercício Augusta Brito (PT), após o político assumir a titularidade do Ministério da Educação (MEC).  

Eduardo Girão, Camilo Santana e Cid Gomes no Senado Federal.
Legenda: Eduardo Girão, Camilo Santana e Cid Gomes no Senado Federal.
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado.

Em 2022, Camilo enfrentou duas concorrentes da oposição: Kamila Cardoso (à época, no Avante) — apoiada por Capitão Wagner (União), que disputava o Palácio da Abolição — e Erika Amorim (PSD). O pleito ficou marcado pelo fim da aliança estadual entre PT e PDT, o que fez o ex-governador receber o apoio informal de muitos pedetistas, fragilizando as candidaturas opositoras. 

Ao final da disputa, Camilo ficou com a única vaga de senador em disputa com 69,8% dos votos, o maior percentual desde a redemocratização. Já Kamila Cardoso ficou em segundo lugar, com 26,2% dos votos, enquanto o pódio foi fechado por Érika Amorim (3,98%), que detinha o apoio da ala do PDT alinhada à candidatura de Roberto Cláudio ao Governo do Estado. 

DUAS VAGAS EM DISPUTA

O pleito eleitoral de 2026 deixa novamente duas vagas ao Senado em aberto, exigindo estratégias da oposição para evitar uma divisão interna e para barrar a investida de aliados do Governo do Ceará, que podem tentar uma nova dobradinha “casada” que beneficie os candidatos do grupo, o que leva em conta também a campanha pela reeleição de Elmano de Freitas.

No atual cenário da oposição, além de Theophilo pelo Novo, há dois pré-candidatos pelo PL: Alcides Fernandes e Priscila Costa (PL). Enquanto o deputado foi lançado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ainda no primeiro semestre, a vereadora foi anunciada como nome da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em setembro, ambos com chancela do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.

Como tem mostrado o PontoPoder, conversas nos bastidores dão conta que a pré-candidatura de Priscila incomoda o grupo de Alcides, já que tem potencial para dividir votos da direita na disputa pelas duas cadeiras do Senado. Interlocutores estariam tentando fazer com que a parlamentar reavalie a postulação, ao mesmo tempo em que alegam que ela própria está tentando seguir na disputa em articulação com a esposa de Bolsonaro.

Emanuel Freitas observa que houve um movimento de “certo freio” à candidatura de Priscila por correligionários do PL. “Talvez por entender que ela estava marchando muito individualmente, embora amparada ali por dois pesos nacionais, a Michele e Valdemar, e que agora ela precisava voltar para a realidade, porque embora tenha esse apoio nacional, no frigir dos ovos, o apoio da cúpula estadual é que será importante”, projeta o professor de Teoria Política da Uece.

“Obviamente que todas essas articulações de nomes da oposição, de nomes do governo, que na chapa governista também tem muita gente, vai passar pela escolha do candidato ao Executivo”, acrescenta Emanuel. 

“Teremos uma briga de titãs em 2026, não apenas na disputa do governo, mas também do senado. A base governista deve pensar com bastante cautela nos seus candidatos, considerando que as peças para a disputa do governo já estão bem definidas. Considerando que Eduardo Girão já manifestou ser pré-candidato ao governo e Cid não tente a reeleição, será que teremos novamente um revival de um apoio de Lula para emplacar novamente seus aliados ao Senado do Ceará?”
Cleris Albuquerque
Cientista política

Avaliando as articulações da oposição para a eleição de 2026, Mariana Dionísio aponta que a principal mudança foi abandonar a rigidez de sempre lançar ex-governadores tradicionais, passando a negociar caso a caso conforme viabilidade eleitoral local.

A professora da Unifor também indica outros elementos que evidenciam as táticas da oposição para o embate eleitoral: antecipação estratégica, com pré-candidatos que se posicionam com mais de um ano de antecedência; predominância bolsonarista, evidenciando que a direita busca consolidar hegemonia no campo oposicionista; além de maior diversidade de perfis de cargo eletivo anterior. 

“Por outro lado, isso gerou uma visível disputa interna: três pré-candidatos para provavelmente duas vagas (se renovação de 2/3) ou uma vaga (se 1/3) indica que ainda há coordenação incompleta”, pondera Mariana. 

“O desafio será evitar fragmentação e canibalização de votos entre candidatos do mesmo campo ideológico. A definição final dependerá de negociações para evitar competição fratricida que beneficie o governo”, finalizou.PONTO DO PODER

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