Quase três décadas depois de pedir desfiliação do PSDB, o ex-governador cearense Ciro Gomes está de volta à
legenda tucana sob as bênçãos do ex-senador Tasso Jereissati (PSDB). A filiação, na manhã desta quarta-feira (22), formaliza o realinhamento do político e da legenda que já lideraram o Estado, mas agora apostam na reaproximação como tentativa de sobrevivência.Apesar do baixo desempenho nas últimas eleições, de ter visto seu grupo político reduzir e hoje ter como adversários antigos aliados, os movimentos de Ciro continuam reverberando. Desde que passou a ser cotado como candidato ao Governo do Ceará, ele foi assediado por várias siglas, arregimentou apoios, virou alvo da base governista e passou a ser uma das principais apostas da oposição para frear o domínio petista no Estado.
“Essa troca partidária (do PDT pelo PSDB) mexeu no tabuleiro da sucessão do governador Elmano de Freitas, trouxe de volta um protagonismo do qual o Tasso Jereissati parecia já ter lançado mão, o próprio PSDB ganha um novo fôlego, cria-se a expectativa de termos uma eleição mais competitiva, obriga o PL e o bolsonarismo radical nele obrigado a ser mais pragmático e menos ideologizado e obriga o governo a ceder mais espaços na chapa governamental”, analisa o professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas.
DE VOLTA PARA CASA
O retorno de Ciro ao PSDB, avaliam especialistas, não é apenas uma mudança de sigla, mas um movimento que reacomoda forças no Estado e recoloca o partido e Tasso Jereissati no jogo político. Para o professor e pesquisador Emanuel Freitas, é uma espécie de “refundação do partido” a nível local.
“Quando o Ciro saiu, o PSDB era o grande partido do Ceará, Tasso estava encerrando seu Governo e seria reeleito, depois ainda teria o Governo Lúcio Alcântara (...) O Ceará e o Ciro eram vitrines nacionais do PSDB e (a saída) significou uma guinada à centro-esquerda de Ciro, o que se estendeu até os dias de hoje”, disse.
“De lá pra cá, o PSDB foi perdendo protagonismo, perdeu um de seus grandes líderes, o Tasso caminhou para projetos nacionais e teve a derrota do Lúcio em 2006. Agora, esse retorno me parece indicar para o partido a possibilidade de um novo fôlego”
DA ASCENSÃO METEÓRICA À CRISE ELEITORAL
Nacionalmente — e em especial no Ceará —, o nome de Ciro Gomes está ligado a uma trajetória de destaque. Entre o fim dos anos 1980 e os 1990, ele e Tasso Jereissati simbolizaram um Ceará em transformação. Sob as bênçãos do tucano, Ciro foi deputado estadual, prefeito de Fortaleza e, em 1991, tornou-se o primeiro governador do PSDB eleito no Brasil. Depois, ganhou projeção nacional como ministro da Fazenda no Governo Itamar Franco e participou da criação do Plano Real.

Com ambições presidenciais e sem espaço em um PSDB dominado por caciques, rompeu com o partido em 1997 e se filiou ao PPS, pelo qual disputou — e perdeu — o Executivo Nacional em 1998 e 2002. Ainda passou por PSB, Pros e PDT consolidando a influência ao lado do irmão, o senador Cid Gomes, que montou uma ampla base de prefeitos.
Pelo PDT, Ciro tentou novamente a Presidência em 2018 e 2022, mas amargou o pior desempenho da carreira. O resultado acentuou o declínio de sua influência: o grupo ruiu, o PDT se dividiu, ele rompeu com Cid e se aproximou de antigos adversários — entre eles, o bolsonarista André Fernandes (PL).
IDEOLOGIA x PRAGMATISMO
Na avaliação da professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mariana Dionísio de Andrade, a filiação de Ciro nesta quarta-feira é “símbolo de um tempo em que as fronteiras ideológicas se dissolveram e o pragmatismo voltou a reger a política cearense”. Para ela, o movimento de Ciro é menos um retorno às origens e mais um movimento de conveniência.
“É uma tentativa de reconfigurar o próprio sistema político cearense, devolvendo ao partido visibilidade e um novo arranjo, oferecendo rumo à oposição e reacendendo o velho sonho de um Ceará modernizador, agora em busca de nova forma. Agora, os partidos precisam se realinhar e decidir se vale realmente a pena manter as divergências ou participar de um projeto comum de oposição”
O cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), acrescenta que esse movimento tem limites claros.
Segundo ele, a sustentação de lideranças políticas regionais passa pelo apoio de prefeitos. Atualmente, ele avalia como improvável uma grande adesão de mandatários municipais às investidas eleitorais de Ciro no Ceará, dado o peso da máquina estadual.
“Sabemos da tradição histórica dos prefeitos cearenses e o Governo do Estado, além disso, pela análise da temperatura política e pela avaliação do Governo Elmano de Freitas, é pouco provável que haja uma debandada de prefeitos para o PSDB, não é um movimento crível no momento”
Para Cleyton, Ciro deve atrair nomes pontuais, mas dificilmente provocará uma migração em massa. “O cenário de muitos prefeitos apoiando Ciro é, neste momento, irreal”, conclui.
OPOSIÇÃO À DIREITA
Além disso, os analistas apontam outros obstáculos para o futuro tucano. Um dos principais, segundo eles, é a mudança do discurso de “terceira via entre o lulopetismo e o bolsonarismo” para um nome apoiado por bolsonaristas no Estado.
Para Mariana Dionísio, o espaço da chamada “terceira via” está enfraquecido. “Há espaço social e eleitoral para um discurso de ‘terceira via’, mas ele está enfraquecido politicamente e exige uma reformulação profunda para ter viabilidade real. Ou seja, existe demanda difusa, mas oferta desarticulada. O eleitorado cearense até quer uma terceira via, mas não com a mesma roupagem”, afirma.
Emanuel Freitas reconhece que o movimento é pragmático, mas reforça o quanto é contraditório. Segundo o pesquisador, nos últimos anos, à medida que a polarização cresceu no Brasil, o ex-governador cearense também radicalizou sua estratégia de se apresentar como alternativa.
“Então, ele sai da denúncia da polarização para cair no colo de um dos polos dessa polarização, no colo do bolsonarismo, já que ele está auxiliado e catapultado para a condição de governador do Ceará não apenas pelo PSDB, mas por esse grupo”, explicou.
“Ele sai do ataque à polarização para juntar-se a um dos elementos e dizer que o outro polo é culpado por tudo. Se ele assim o faz, então ele reconhece que a polarização existe, mas não é odienta como ele falava, odiento parece ser um dos elementos dessa polarização, que é o PT, e aí ele se junta com todos os inimigos do PT”, conclui Freitas. PONTO DO PODER
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