O ex-ministro da Integração e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, que até então estava no Partido Democrático Trabalhista (PDT), já tem data para retornar ao Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB), ao qual foi filiado até o fim dos anos 1990. O ato será nesta quarta-feira (22), em um hotel na orla de Fortaleza.O político chega ao partido com a possibilidade de ser lançado como candidato ao Palácio da Abolição em 2026. Mas, apesar disso, a agremiação partidária que o membro do clã Ferreira Gomes irá encontrar é muito diferente da que deixou há quase três décadas.
Se em 1997 — ano em que se desfiliou — a sigla era a mesma do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e do então governador cearense Tasso Jereissati, hoje ela acumula o resultado de uma série de cisões e divergências internas, e busca voltar a ter protagonismo no jogo político.
Nesta matéria, o Diário do Nordeste examina qual o tamanho do PSDB e qual a força do partido atualmente, tendo em vista a ocupação de cargos eletivos no Poder Executivo e no Legislativo Ceará afora. A reportagem também conversou com especialista, que ajudaram a avaliar o cenário atual.
Contornos do PSDB
Em 2024, o PSDB estimulou, visando o pleito, a promoção de uma “renovação”, como sinalizaram especialistas ouvidos em setembro do ano passado, e um afastamento da legenda de “vícios da política atual”, conforme afirmou Jereissati, um dos líderes tucanos, na época do aniversário de 35 anos da agremiação.
Como resultado dessa mobilização para a eleição, o PSDB conquistou duas prefeituras no interior do Ceará — Iguatu, com a eleição de Roberto Filho, e Massapê, com a escolha de Ozires Pontes pelo eleitorado — e 36 mandatos de vereador em 20 Casas Legislativas municipais.
Uma derrota representativa na última corrida eleitoral foi a Vice-Prefeitura de Fortaleza, que era ocupada por Élcio Batista. O político tentou reeleição, na chapa encabeçada por José Sarto (PDT), mas não obteve um bom resultado nas urnas ainda no primeiro turno.
Na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), o PSDB tem somente um assento no Plenário 13 de Maio, o da deputada estadual Emília Pessoa. Já no Congresso Nacional, são 13 vagas na Câmara dos Deputados e 3 no Senado Federal — nenhuma delas é ocupada por um cearense.
E, no rol de governadores, não há mais peessedebistas, devido à desfiliação recente de lideranças como a governadora pernambucana Raquel Lyra (que migrou para o PSD), o sul-mato-grossense Eduardo Riedel (que foi para o PP) e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (que desembarcou no PSD).
Embates internos
Presidido oficialmente por Ozires Pontes desde abril, dois meses depois do então dirigente, Élcio Batista, se afastar do comando, o partido social-democrata foi o maior do Ceará por duas décadas. No decorrer dos últimos anos, embates internos, com desdobramentos judiciais, apresentaram desafios aos seus filiados.
Um deles ocorreu em 2022, quando as divergências internas sobre quem apoiar na corrida pelo Palácio da Abolição acabaram gerando um embate judicial, inviabilizando a candidatura tucana ao Senado pelo Ceará.
O racha que antecedeu as últimas Eleições Gerais também foi percebido no cenário nacional, com a divisão criada entre os nomes de Eduardo Leite e João Dória, pré-candidatos ao Palácio do Planalto nas prévias naquele ano.
A mais recente, ainda no contexto nacional, foi a que levou ao fim da federação que mantinha com o Cidadania. A parceria foi encerrada em março deste ano, quando o diretório nacional da sigla decidiu não renovar a federação com o PSDB, alegando uma “desvantagem” na manutenção dela — a exemplo da redução da representação em prefeituras e Legislativos em todo o Brasil.
Nas palavras da professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mariana Dionísio de Andrade, “o PSDB é uma legenda tradicional, mas que precisou de uma mudança de configuração ao longo dos anos”.
“Hoje o PSDB no Ceará aparece mais como uma máquina de alianças e de agregação de lideranças, demonstrando capacidade para incorporar figuras poderosas e até rivais históricos, como é o caso do retorno de Ciro, que tende a usar o partido como alavanca estratégica para retomar o capital eleitoral em 2026”, avaliou a especialista.
“O PSDB no Ceará, embora ainda mantenha lideranças históricas e um bom número de prefeitos, perdeu parte de sua relevância nacional e estadual com o declínio de Tasso Jereissati e o esvaziamento ideológico do partido. Some-se a isso o fato de que temos hoje um país extremamente polarizado”, complementou ela, que vê a chegada de Ciro como “um bom negócio” para a sigla.
As origens do partido
Formado a partir de parlamentares dissidentes do então PMDB (hoje MDB), o PSDB foi criado em 1988 e ganhou, já na primeira eleição da qual participou ao nível nacional, grande protagonismo ao eleger, em 1989, a terceira maior bancada do Congresso Nacional, com oito senadores e 37 deputados federais.
No Ceará, a sigla acabou abrigando empresários do Centro Industrial do Ceará (CIC). A entidade já vinha ganhando holofotes desde que apoiou a candidatura de Gonzaga Mota ao Governo do Ceará, em 1982.
Em 1986, o CIC também articulou a campanha vitoriosa de Tasso Jereissati — que havia presidido a organização anos antes — para governador do Ceará. Na época, ele ainda estava no PMDB, mas construía um grupo independente nesta legenda.
Com a criação em 1988, o partido chegou ao Estado sob comando da então deputada federal Moema São Tiago, que saiu do PDT para integrar a sigla tucana. Ela propôs a aproximação do PSDB com o Governo Tasso, em uma tentativa de angariar o apoio do governador cearense à candidatura do então senador Mário Covas para a Presidência da República, em 1989.
Em janeiro de 1990, último ano de seu primeiro mandato como governador do Ceará, Jereissati assinou a ficha de filiação ao PSDB. Com ele, se filiaram ao partido o então prefeito de Fortaleza, Ciro Gomes, prefeitos da Região Metropolitana e 15 deputados estaduais — passando a ser a maior bancada no legislativo estadual. Naquele ano, foram realizados ainda 18 encontros do PSDB em todo o estado para a filiação de prefeitos cearenses ao partido.
No mesmo período, Cid foi outro Ferreira Gomes que passou pelo PSDB, tendo sido líder do partido na Alece entre 1991 e 1993 e, depois, presidente da Casa Legislativa — de fevereiro de 1993 a janeiro de 1995.
Primeiras divergências
Em 2006, o irmão do apadrinhado político de Tasso Jereissati e ex-tucano Ciro Gomes, o então ex-prefeito de Sobral, Cid Gomes, concorreu, pelo PSB, ao Governo do Ceará. A movimentação provocou efeitos no PSDB.
Cid teve, ainda que informalmente, o apoio de Tasso na campanha contra o então governador tucano Lúcio Alcântara. O ex-governador, inclusive, deixou o PSDB em 2007, após perder a disputa pela reeleição.
A eleição de 2010 mostrou a perda de força do PSDB no Ceará, principalmente após romper com o grupo político liderado pelo então governador Cid Gomes e por Ciro Gomes. Os irmãos apoiaram as candidaturas de José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (MDB), deixando Tasso Jereissati sem apoio para a candidatura à reeleição no Senado.
A derrota de sua principal liderança reflete nos resultados do PSDB em outros cargos. Desde a chegada ao Ceará, a bancada tucana eleita em 2010 no Ceará foi a menor, com apenas 2 deputados federais e 7 estaduais eleitos. Dois anos depois, em 2012, apenas 13 prefeitos foram eleitos pelo partido.

Tucanos na oposição
Na oposição desde o rompimento com os irmãos Ferreira Gomes, em 2010, o PSDB apoiou a candidatura a governador de Eunício Oliveira em 2014 — que acabou derrotado por Camilo Santana (PT) no segundo turno.
Apesar da derrota na disputa pelo governo estadual, Tasso Jereissati conseguiu voltar ao Senado Federal neste ano. Em Fortaleza, o PSDB também apoiou a candidatura oposicionista de Capitão Wagner em 2016, contra o então prefeito Roberto Cláudio.
Em 2018, o PSDB lançou General Theophilo, que tinha como cabos eleitorais tanto Tasso como o então deputado estadual Capitão Wagner — que concorria à Câmara dos Deputados. Contudo, Camilo foi reeleito ainda no 1º turno com quase 80% dos votos.
Três anos depois, no entanto, Tasso iniciou uma reaproximação com Ciro Gomes, após quase uma década de afastamento. Com trocas de elogios, ambos convergiram, na época, nas críticas feitas ao então presidente Jair Bolsonaro (PL).
A reaproximação com Ciro acabou se revertendo em aliança eleitoral para 2020, quando o PSDB decidiu apoiar a candidatura de José Sarto à Prefeitura de Fortaleza.
O partido, no entanto, chegou dividido na disputa, já que parlamentares tucanos prosseguiram apoiando a candidatura de Capitão Wagner. O grupo político liderado por Roberto Pessoa, na época no PSDB, manteve apoio ao candidato opositor. Em dois anos, este grupo deixaria o PSDB e embarcaria no recém-criado União Brasil.
Em 2022, a proximidade política e eleitoral entre Tasso e Ciro convergiu para aliança em torno do nome de Roberto Cláudio como candidato ao Governo do Ceará.
O rompimento entre PDT e PT ao nível estadual acabou tendo repercussões no PSDB, no qual o então presidente estadual do partido, Chiquinho Feitosa (hoje no Republicanos), enfrentou o ex-senador e comandou convenção partidária na qual ficou definida a neutralidade do PSDB na disputa pelo Palácio da Abolição.
A manobra foi chamada de “truque jurídico de infiltrados no PSDB” por Tasso, na época. O impasse acabou envolvendo a Executiva Nacional do PSDB, que interveio e devolveu o comando ao ex-senador, e gerou um embate judicial que inviabilizou a candidatura tucana de Amarílio Macêdo como senador.
Segundo opinou Mariana Dionísio de Andrade, é provável que o novo momento do PSDB reabra a “possibilidade de uma oposição com discurso articulado e rosto conhecido”. Cenário este que, segundo ela, “não existia desde 2018”. “Mas essa unidade só será viável se ele conseguir ser mais 'ponto de convergência' do que 'centro exclusivo'”, continuou.
Ao que indicou a estudiosa, a tática destacada por ela consistiria em “se aceitar dividir protagonismo com lideranças como Capitão Wagner, Tasso Jereissati e o bloco empresarial que busca alternativa ao petismo” no Estado. PONTO DO PODER
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