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sábado, 13 de setembro de 2025

SUCESSÃO AO GOVERNO NO CEARÁ: OS IMPACTOS DA CONDENAÇÃO DE BOLSONARO

Por ipuemfoco   Postado  sábado, setembro 13, 2025   Sem Comentários


A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), nessa quinta-feira (11), por cinco crimes, inclusive tentativa de

abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado, tem repercussões diretas sobre o cenário eleitoral, tanto brasileiro como cearense. 

Mesmo antes da sentença, da qual ainda cabe recurso, Bolsonaro estava inelegível após condenação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023. Contudo, se confirmada, a pena de 27 anos e 3 meses em regime fechado, retira, por completo, o ex-presidente da campanha eleitoral. 

Cientistas políticos divergem sobre quais devem ser as consequências para a conjuntura política cearense, em meio a tentativa de unificação da oposição ao Governo Elmano de Freitas (PT) — grupo que reúne desde bolsonaristas 'raiz', como André Fernandes (PL), até antigos aliados dos governos petistas, como Ciro Gomes (PDT) e Roberto Cláudio (sem partido). 

Os especialistas apontam que, por um lado, a priorização de um discurso de defesa do ex-presidente, inclusive em contexto eleitoral, poderá contribuir para uma fragmentação da oposição, já que alguns oposicionistas são críticos históricos de Bolsonaro. 

Por outro, no entanto, a ausência de Bolsonaro no palanque — seja como candidato ou mesmo como principal cabo eleitoral — pode facilitar candidaturas de atores não tão ligados ao bolsonarismo, como Ciro Gomes, que tem sido apresentado, inclusive por bolsonaristas, como a candidatura mais competitiva. 

As decisões nacionais, como a escolha de quem será o candidato à Presidência no campo da direita, também deve ter influência nas negociações e nas estratégias escolhidas para 2026, assim como deve retornar o discurso da polarização, e seus impactos para a política estadual. 

Fragmentação ou fortalecimento?

A cientista política Monalisa Soares pontua que, com a prisão, "Bolsonaro se torna mais dependente" das lideranças bolsonaristas, já que "cada vez menos, ele vai ter condições de fazer a sua defesa em sua própria voz". "Isso, inclusive, é fundamental para a manutenção do capital político do Bolsonaro", argumenta ela, que coordena o Laboratório de Estudos e Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC). 

Isso, portanto, pode aumentar a tensão entre os diferentes grupos que compõem a oposição cearense, apenas semanas depois de rusga surgir entre oposicionistas após o deputado federal André Fernandes reforçar que o PL terá candidato próprio ao Governo do Ceará e que o partido não apoiará eventuais candidaturas de Ciro Gomes ou de Roberto Cláudio. 

Na época, houve uma demonstração de confiança de que seria possível retomar o diálogo e as negociações, para evitar uma fragmentação de candidaturas para enfrentar Elmano de Freitas em 2026. E, relembra Soares, esses "dissensos recentes ocorreram em torno da figura do ex-presidente". 

"Então, para o cenário do Ceará, essa condenação coloca assim um pouco essa pedra no caminho. (...) A gente vai precisar observar se ela será contornada em nome do projeto local, de derrota ou de enfrentamento com os petistas, ou se, de fato, ela se consolidará como uma pedra no caminho para a aliança".
Monalisa Soares
Cientista política e coordenadora do Lepem/UFC

O cientista político Emanuel Freitas apresenta uma leitura diferente das repercussões para o cenário eleitoral cearense. Professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), ele afirma que a condenação oferece a "possibilidade de radicalização do discurso de perseguição" por parte dos bolsonaristas cearenses. 

Uma narrativa que poderia ser sobre "Bolsonaro e, por extensão, a eles próprios", mas que não é uma grande alteração do discurso já empregado por este grupo. "Apenas tem uma sentença do STF que pode ser utilizada por eles para legitimar aquilo que eles vêm falando desde sempre", situa. 

Agora, o outro grupo, liderado por Ciro e Roberto Cláudio, são, na avaliação de Freitas, aqueles que "parecem mais ganhar". "Por quê? Desde o primeiro instante que Roberto Cláudio e Ciro se aproximaram do grupo bolsonarista no Ceará, havia a questão de como é que eles vão fazer para se desvencilhar de um possível apoio ao Bolsonaro no plano nacional, das ideias bolsonaristas no plano nacional", afirma. 

Sendo apoiado pelos bolsonaristas, a tendência é que fosse exigido um "apoio desvelado ao discurso bolsonarista" por parte de Ciro ou Roberto Cláudio, que foram, em anos anteriores, críticos do ex-presidente. Com a condenação de Bolsonaro, o nome de Tarcísio Freitas, governador de São Paulo, lidera as apostas para a disputa presidencial. 

"E será mais fácil ou menos problemático para Ciro ou Roberto Cláudio, uma vez se consolidando a candidatura ao Governo do Estado, pedir votos ao Tarcísio — e por pedir votos ao Tarcísio, ser obrigado a dar as mãos a esse grupo bolsonarista do estado. Então, eu penso que quem mais ganha nesse sentido é o eventual candidato ao Governo que venha do outro lado da oposição, ou seja, do PDT rachado".

Indagado se não considera a fragmentação de candidaturas na oposição um risco, Emanuel Freitas argumenta que, na verdade, ter uma candidatura do PL "pode trazer mais prejuízos eleitorais" do que um candidato de outro partido oposicionista, como União Brasil ou PSDB. Na avaliação dele, uma candidatura de outra sigla pode trazer para a oposição eleitores indecisos. 

"Esses sujeitos não precisam convencer ninguém de que são bolsonaristas raízes, (...) mas precisam trazer pro campo deles quem ainda não está. No caso aqui do Ceará, é a oposição que vai precisar desses indecisos. E aí que entra em cena, penso eu, o papel jogado por essa oposição que até ontem era de centro e que agora tá se aproximando deles". 
Emanuel Freitas
Cientista político e professor da Uece

Para Monalisa Soares, no entanto, não será tão fácil colocar de lado a figura do ex-presidente. "Está muito evidente que a relevância da figura do Bolsonaro é fundamental e não é negociável", ressalta. 

"Não é negociável para esse grupo, que ao longo do tempo tem se fortalecido e tem conseguido arregimentar inclusive o voto antipetista em torno das suas lideranças. (...) O Bolsonaro faz parte dessa estratégia do discurso central desse grupo político e quem vier a se aliar a eles, que é hoje quem detém um capital político de visibilidade, de mobilização expressiva, deve no mínimo fazer o aceno".
Monalisa Soares
Cientista política e coordenadora do Lepem/UFC

E a base governista?

Quando indagados sobre as possibilidades de candidatura oposicionista, lideranças ligadas ao Governo Elmano de Freitas, como o ministro Camilo Santana (PT), tem reforçado que "adversário ninguém escolhe"

O fortalecimento ou a fragmentação da oposição, no entanto, tem impacto direto sobre as estratégias do campo governista, inclusive encarecendo ou não o apoio de lideranças de outros partidos que integram a base aliada ao Palácio da Abolição — algumas com insatisfações até públicas, como o senador Cid Gomes (PSB).

Emanuel Freitas ressalta que, duas décadas depois, Elmano deve conhecer um cenário que derrotou o ex-governador Lúcio Alcântara: o de oposição fortalecida. Em 2006, Cid Gomes derrotou Alcântara. "Foi o único momento em que um governador do Ceará, disputando a reeleição, encontrou uma oposição forte", lembra o cientista político.

Por isso, acrescenta, "o governo deve estar preocupado com essas movimentações".

"Tem um movimento muito claro dessa oposição, e exatamente por isso, essa oposição quer a qualquer custo retirar esse grupo do poder e retirar esse grupo do poder envolverá, tanto da parte de Ciro e Roberto como da parte dos bolsonaristas, fazer concessões a alguns elementos".
Emanuel Freitas
Cientista político e professor da Uece

Para Monalisa Soares, será preciso que a oposição faça um cálculo se o discurso deve focar no "desejo de mudança", que estaria alinhado ao antipetismo, ou se querem seguir com uma narrativa "mais alinhada ao bolsonarismo estritamente".

"O Ciro tem esse lugar, de uma oposição que fala de um cansaço de um determinado grupo liderando por muito tempo. Os bolsonaristas não são só... O antipetismo é uma parte disso, ele atrai o eleitorado antipetista, mas eles têm esse caráter muito forte de um discurso que é alinhado ao bolsonarismo", diz.

Segundo ela, é preciso ver como a oposição irá construir esse discurso. "Para o governo, o quanto eles não conseguirem consensuar em torno do que de fato constitui a disputa contra os atuais comandantes do poder estadual, é sempre uma boa notícia.", completa Soares. 

Influência nacional

O nome de Tarcísio Freitas, atual governador de São Paulo, lidera as expectativas para unificar a direita, com a impossibilidade de candidatura de Jair Bolsonaro. A forma como a definição deve ocorrer, entretanto, deve respingar nas decisões eleitorais em todos os estados, inclusive o Ceará.

"O impacto agora, mais imediato, da condenação é uma organização no campo da direita e definição clara de quem efetivamente vai ser o nome da disputa presidencial para 2026", resume a cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luciana Santana.

"A depender de como a definição do líder da direita, que deve reunir essa base bolsonarista para a eleição de 2026, a influência (nos estados) pode ser maior, no sentido de ampliar outros nomes também com o mesmo perfil no âmbito dos estados", projeta.

Não apenas a definição do nome, mas a escolha de qual será o discurso para a campanha de 2026 — que, de certa forma, já começou. Monalisa Soares pontua que existia uma mobilização do Centrão e de setores econômicos para a construção de uma "imagem mais de centro-direita" para Tarcísio. 

Contudo, o tom dos discursos no 7 de Setembro e o voto de Luiz Fux, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), durante o julgamento de Bolsonaro, parece ter dado fôlego a uma estratégia menos pragmática.  

"Parece-me que eles recompuseram, os bolsonaristas mais fidelizados, uma estratégia narrativa de caminho para buscar o máximo manter a relevância política do ex-presidente. Ou seja, não torná-lo carta fora do baralho tão rápido", descreve Soares. 

"É um pouco um compasso que vai precisar ser observado: o quanto que os bolsonaristas vão conseguir manter a relevância para tensionar esse processo de definição das candidaturas e da relevância que o ex-presidente inclusive terá na candidatura de direita ou o quanto que esse outro grupo, que é mais pragmático e que precisa resolver logo as negociações, vai conseguir avançar". 
Monalisa Soares
Cientista política e coordenadora do Lepem/UFC

A queda de braço, entre o pragmatismo e a defesa de Bolsonaro, pode influenciar a forma como as negociações serão feitas também nos estados. "E a gente tem muita pesquisa que mostra que o bolsonarismo é forte", acrescenta Luciana Santana. 

"Então, mesmo que a gente tenha mudanças no percentual do capital político de Bolsonaro, ele continua sendo uma liderança forte. A gente não pode trabalhar com a ideia de que 'não, ele agora tá frágil, ele não tem capacidade de influenciar'. Pelo contrário, isso seria um erro de estratégia, de análise, a gente não considerar a sua forte influência por um longo período".
Luciana Santana
Cientista política e professora da Ufal

A definição de qual projeção deve ser realizada deve depender dos desdobramentos da própria condenação de Bolsonaro, da qual ainda cabem recursos, inclusive uma tentativa de pedido para que aconteça um novo julgamento, desta vez pelo plenário do Supremo. 

Além disso, discussões como a da PL da Anistia no Congresso Nacional devem tomar forma nas próximas semanas e influenciar diretamente nas estratégias eleitorais, inclusive para o Ceará. PONTO DO PODER


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