Antônio 'Conin' Filho foi reconduzido à presidência do PT Ceará após conquistar mais de 90% dos votos de filiados e
filiadas petistas no Processo de Eleição Direta (PED) do partido, realizado no último domingo (6).A votação ocorreu em todo país e renovou as direções municipais, estaduais e nacional do PT.
Experiente no cargo, Conin esteve no comando da sigla em três disputas eleitorais — 2020, 2022 e 2024. Contudo, a eleição de 2026 deve reservar novos desafios ao dirigente estadual do PT, indo desde fissuras internas do partido até disputa para definição das candidaturas ao Legislativo, principalmente ao Senado, e a necessidade de fortalecimento da aliança para a reeleição do governador Elmano de Freitas (PT).
O dirigente petista foi indicado como candidato pelo Campo Democrático, após impasse na decisão sobre quem seria o candidato — outros três nomes foram ventilados pelo deputado federal José Guimarães (PT), principal liderança do grupo, mas não houve consenso.
Assim, Conin deixou o comando da Secretaria Regional I, em Fortaleza, para fazer campanha. O nome dele teve apoio de diferentes grupos dentro do PT, incluindo o Campo Popular – formado por aliados próximos ao ministro da Educação, Camilo Santana (PT) e ao governador Elmano de Freitas e responsável por eleger o novo presidente do PT Fortaleza, Antônio Carlos.
"A primeira palavra é de gratidão", disse Conin ao PontoPoder, sobre a vitória na disputa interna. "Foi um reconhecimento muito forte, fico muito grato e com muito senso de responsabilidade também". O novo diretório deve tomar posse em setembro, quando ocorrerá o Congresso Estadual do PT. Nele, também devem ser elaboradas resoluções que "vão orientar a ação dessa nova direção partidária".
"Nós queremos um partido funcionando permanentemente, nos anos ímpares e nos anos pares, ano que tem eleição e ano que não tem eleição", afirma. Conin explica que deve, durante o congresso, ser discutido o funcionamento das instâncias partidárias, mas também a conjuntura política e eleitoral.
"O PT se organiza para ser porta-voz, instrumento de uma agenda, de um projeto político para a sociedade. Nesse sentido, a nossa centralidade está na reeleição do presidente Lula, na reeleição do governador Elmano no Ceará e temos ainda o objetivo de ter o Guimarães candidato ao Senado. A presença do PT na chapa do Senado, ampliar nossa presença na assembleia e ampliar nossa bancada de deputados federais. Então, é a construção da nossa agenda eleitoral para 2026".
Reeleição de Elmano
A reeleição do governador Elmano de Freitas, colocada como central na organização do PT para 2026, deve enfrentar um cenário desafiante para o próximo ano. Um dos elementos para isso é a reorganização da oposição, que tenta construir uma aliança para chegar com "palanque único" na disputa pelo Palácio da Abolição.
Entre os nomes que tentam formar essa unidade estão ex-aliados do PT, como o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-prefeito Roberto Cláudio (sem partido), e também adversários políticos consolidados, como o deputado federal André Fernandes (PL) e o presidente do União Brasil, Capitão Wagner.
"Se a oposição no Ceará se reorganizar e surgir com um nome competitivo, de perfil conservador e forte capilaridade regional, a disputa poderá se acirrar, principalmente porque, em nível federal, o PT tem perdido popularidade", pontua a professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mariana Dionísio.
A queda na aprovação do Governo Lula (PT) pode ter impacto direto na construção eleitoral da candidatura de Elmano. Quanto a isso, Conin enxerga uma tendência de "redenção do desgaste do governo (federal) e recuperação da popularidade".
Ele cita a derrubada do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo Congresso Nacional, que desagradou parcela da população, e o anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que irá impor tarifa de 50% aos produtos brasileiros como exemplos de enfraquecimento da direita e extrema-direita.
"Mas acho também que o governador Elmano, com esse período no Governo do Estado, tem identidade política, legado político e autoridade administrativa pelo que está fazendo, pelas entregas que está realizando, para ele próprio liderar a sua reeleição", destaca.
Mariana Dionísio avalia que essa imagem de gestor — elogiada por Conin — precisará ser percebida pela população. "Ele precisará consolidar sua imagem como um gestor autônomo e eficiente, e não apenas como 'candidato do Lula', como foi em 2022", diz.
"Como governador de primeiro mandato, Elmano será cobrado por resultados nas áreas sensíveis, como saúde, segurança pública, infraestrutura e combate à pobreza, que são essenciais para sustentar o discurso da reeleição".
Elmano também reforçou, mais de uma vez, que a intenção é discutir a eleição, inclusive para o Governo do Ceará, apenas em 2026 e que o foco agora é "trabalhar". "A gente tem que ter essa humildade, tranquilidade e saber de que nós temos que agora trabalhar muito, trabalhar muito e pensar menos em eleição, porque quem trabalha muito tende a colher melhor o reconhecimento popular", pontuou o governador em entrevista à live PontoPoder na quarta-feira (9).
E, nesse cenário, o papel do presidente do PT Ceará deve ser estratégico para fortalecer a candidatura de Elmano em 2026, tendo como "missão prioritária" o diálogo e alinhamento dos partidos que integram a base aliada — até para evitar potenciais rupturas, aponta Dionísio.
"O presidente do PT Ceará precisará agir como ponte entre os diversos grupos internos do partido, conter disputas internas, definir estratégias claras e negociar com as demais forças políticas do campo progressista para ampliar a frente eleitoral de Elmano, especialmente com PSD, MDB e setores independentes do PDT", elenca.
Disputa para candidatura ao Senado
As duas candidaturas para o Senado na chapa governista têm sido o maior alvo de disputa dentro da base aliada do Governo Elmano de Freitas. São, pelo menos, sete nomes citados como pré-candidatos, com dois deles sendo do PT.
Líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados, José Guimarães tem feito declarações e movimentos contundentes para viabilizar a pré-candidatura ao cargo. "O PT tendo uma vaga para o Senado no Ceará, esqueça, o nome é José Nobre Guimarães. Pode cobrar isso de mim", destacou em entrevista à live PontoPoder em abril.
A postulação encontra apoio na estrutura partidária. "Não tenho dúvida que o PT terá, sem muita dificuldade, essa unidade em torno do nome do Guimarães", disse Conin. Questionado sobre a outra pré-candidatura do PT ao Senado, da deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), ele disse que "ela não chegou a colocar a pré-candidatura".
A pré-candidatura de Luizianne ao Senado foi lançada no início de abril, durante ato do Campo da Esquerda. Na época, a deputada disse que "ninguém pode fugir às tarefas que coletivamente estão colocadas" e que a pré-candidatura "é um processo da gente fazer essa discussão dentro e fora do partido".
Conin, no entanto, afirma que ela "nunca chegou para o partido colocando essa decisão de disputar a vaga do Senado, não". "A Luizianne nunca manifestou para o PT nem oficializou essa decisão de disputar a vaga para o Senado", garantiu. O PontoPoder entrou em contato com a assessoria da deputada para saber se houve ou não oficialização, mas não houve retorno.
Sobre os partidos aliados, que possuem os próprios pré-candidatos ao Senado, ele considera que a demanda petista por uma vaga "não gerará nenhuma dificuldade". Conin cita que existem outras vagas a serem ocupadas, como a segunda vaga de candidato a senador, as suplências do Senado e a vice-governadoria. "Dá pra gente fazer uma boa construção com todos os partidos da base e ter a base unida", considera.
Ao PontoPoder, Elmano de Freitas listou alguns nomes para o Senado, incluindo Guimarães e Luizianne, mas disse que a decisão deve ficar para maio ou junho de 2026, justificando que "precisamos agora nos concentrar em fazer o debate com a sociedade daquilo que o nosso governo está realizando".
"É legítimo que os partidos apresentem seus nomes, dialoguem, animem sua militância e, ao mesmo tempo, debater com a sociedade o que o nosso projeto está realizando de mudança na vida do povo cearense. E ter tranquilidade que efetivamente em algum momento, que será em 2026, a decisão será tomada", disse.
Uma decisão que deve recair nas principais lideranças não apenas do PT como da aliança governista no Ceará: o próprio Elmano de Freitas e o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e até mesmo o presidente Lula, aponta Dionísio.
Ela reforça ainda as razões para a disputa ser tão acirrada: "é uma das vagas mais cobiçadas porque representa visibilidade nacional, poder político e influência direta no Congresso, sem falar na própria longevidade do cargo".
A formação das chapas de deputados
A montagem das chapas que irão concorrer à Assembleia Legislativa do Ceará e a Câmara Federal também podem representar desafios para o PT. Enquanto o fortalecimento das candidaturas federais é necessária dentro da estratégia nacional — já que os recursos partidários são calculados com base no número de deputados federais —, a nível estadual o PT viu a bancada aumentar mesmo fora da janela partidária, o que pode dificultar a construção da chapa.
Hoje, a Federação formada por PT, PCdoB e Rede Sustentabilidade possui 11 deputados estaduais — em 2022, foram 9 eleitos. A isso se soma o grande número de novos filiados que chegaram ao PT, com o Ceará tendo superado 39 mil novas filiações. Em alguns casos, isso significa grupos políticos inteiros chegando ao partido nos municípios.
Integrante do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia, a socióloga Paula Vieira afirma que o primeiro desafio para a montagem das chapas será "organizar os desejos internos". "Começa que nós temos três grupos principais que disputaram agora o PED do PT, o processo interno. Então, como acomodar esses grupos é um primeiro desafio porque a gente está falando das decisões internas do partido, tanto em termos estaduais como em termos federal", argumenta.
"O PT não tem uma tradição de barrar candidaturas, mas a estrutura partidária vai investir naquelas que entende como mais competitivas. Então essa distribuição de recursos, a visibilidade nos palanques do Elmano e do candidato à presidência, (...) que aumentam a possibilidade de competitividade por estarem visíveis, por serem pauta, por termos o Executivo puxando votos para o legislativo".
Para a pesquisadora, esse é o primeiro desafio do presidente eleito do PT Ceará, Conin. O segundo é pensar "em quem são os principais opositores ao projeto e quem são os candidatos que vão competir diretamente com a força oposta". Nesse caso, a bancada conservadora, que tem ganhado força tanto a nível estadual como federal.
Ela cita, por exemplo, a necessidade de apoio nos municípios para tornar as candidaturas competitivas, inclusive a formação da frente ampla de oposição no estado. "E esse desafio de levar uma bancada do Partido dos Trabalhadores e aliados para o Congresso Nacional, se torna essencial para esse contrapeso do sistema entre Executivo e Legislativo diante dos desafios que a gente tem visto nos últimos tempos", completa.
Divisão interna no PT
Conin enfrentou apenas uma candidatura, da vereadora Adriana Almeida (PT), pelo Campo de Esquerda, liderado pela deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. O grupo liderado pela ex-prefeita tem sido o mais crítico a posicionamentos de alas majoritárias do PT, inclusive com questionamentos quanto ao recorde de filiações ao partido durante a Campanha Nacional de Filiações, de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025.
"Uma coisa é você brigar com petista. Outra é lidar com seres estranhos ao partido, que fizeram filiações estranhas, prestando conta com pessoas estranhas ao partido para poder fazer maioria", disse em entrevista. "Ninguém sabe o que vai sobrar desse processo todo... que PT vai sair das urnas do PED", ressaltou.
A ex-prefeita foi respondida por Camilo, Elmano e pelo prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), que reforçaram que o partido que sai do PED é "o da maioria". "É o PT que a grande maioria vai escolher, dos filiados", disse Evandro. Camilo seguiu linha similar: "Estamos numa democracia, é o PT da vontade da maioria dos filiados do PT, que têm o direito de escolher seus representantes", afirmou.
"Sai o PT eleito pelas suas bases. Sai o PT eleito pelos seus filiados. Sai o PT, penso eu, muito unido para os enfrentamentos que precisamos fazer na sociedade", reforçou Elmano. As declarações foram feitas no último sábado (5), véspera do PED.
O governador reforçou as falas em entrevista à live PontoPoder, na última quarta-feira (9), já depois dos resultados. "O PT que saiu, ao meu ver, é um PT com uma participação muito intensa de filiados. Mas o mais importante que considero é sair um PT com um grau de unidade muito grande, por uma maturidade alcançada", ressaltou.
"O PT é uma sigla que tem falado diferentes línguas", discorda Mariana Dionísio.
"Uma parte defende a militância, outra considera o pragmatismo como tábua de salvação eleitoral. Quando Luizianne Lins faz críticas aos grupos majoritários do partido, acaba por expor uma fratura interna entre a ala mais orgânica, ligada aos movimentos sociais e à base histórica de construção ideológica, e o novo perfil do PT, voltado à ampliação da governabilidade".
O aprofundamento desses conflitos internos, que começam ainda na disputa interna pela candidatura do PT para a Prefeitura de Fortaleza e seguem no PED, pode gerar problemas eleitorais para o partido, considera Dionísio.
Ela cita a possibilidade de lançamento de candidaturas paralelas — em um cenário em que há mais de um pré-candidato ao Senado dentro do partido, além daqueles de siglas aliadas — ou "resistência a apoiar nomes indicados pela cúpula estadual", o que geraria "desgaste" não apenas para o partido como instituição como para as candidaturas petistas. "Prejudicando a unidade da campanha, reduzindo o engajamento e desgastando a imagem de coesão do partido para o eleitorado", resume.
A visão de Conin, no entanto, é diferente. "O que tem no PT é pluralidade de ideias. Isso não é divisão, isso é debate, são pontos de vista diferentes", defende o dirigente partidário. Sobre as críticas ao número de filiações, ele responde que não considera que "houve excesso", mas que "não custa nada a gente checar, observar o que o deputada está colocando".
Ele pontua ainda que a conjuntura unifica os petistas. "Não tem nenhum petista que seja exceção a isso é o enfrentamento à extrema direita, derrotar a extrema direita no Brasil, evitar os ataques à democracia, proteger a soberania nacional, defender a reeleição do presidente Lula. Isso nos unifica a todos". PONTO DO PODER
ACOMPANHE NOSSAS REDES SOCIAIS-
Instagram: @radiopalhano_web
Youtube- @radiopalhanoweb
RP: O SEU ENCONTRO COM O JORNALISMO SÉRIO E INDEPENDENTE É NA RÁDIO PALHANO WEB,COM O RADIALISTA ROGÉRIO, A PARTIR DAS 12;00 HORAS, DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA.
0 comentários:
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.