Não é só nacionalmente que a disputa polarizada entre o presidente Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) impede
o surgimento ou atravanca o fortalecimento de candidaturas que possam se apresentar como opção política mais equilibrada ante a esses dois extremos.Situação análoga se verifica, por exemplo, nos três maiores colégios eleitorais do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Os dois projetos hegemônicos de poder que disputam o comando do País acabam por fazer reproduzir a polarização também nesses estados. Bolsonaro e Lula trabalham pela polarização e pelo esvaziamento de candidaturas de centro.
Ambos se beneficiam disso, já que garantem importantes alianças e vistosos palanques regionais. Garantir espaço nesses três estados do Sudeste é crucial em qualquer eleição presidencial, mas torna-se ainda mais importante numa disputa acirrada como a que se desenha.
O caso de São Paulo, que concentra 20% do eleitorado do País, é emblemático: Lula e Bolsonaro estão praticamente em empate técnico na preferência dos eleitores. O centro do espectro político, até então representado pelos tucanos, se desintegra a olhos vistos. Pela primeira vez em 28 anos, o PSDB, até então partido hegemônico no estado, apresenta dificuldades para fazer decolar a candidatura da sigla para o Palácio dos Bandeirantes.
Nas pesquisas de intenção de voto, Rodrigo Garcia, o vice que assumiu o governo depois que João Doria renunciou para disputar a Presidência, aparece atrás do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), do ex-governador Márcio França (PSB) e do ex-ministro Tarcísio de Freitas, o homem de Bolsonaro no estado. Um segundo turno entre os candidatos bolsonarista e o petista é viável a esta altura do jogo.
Em Minas, Lula aliou-se ao PSD de Gilberto Kassab e está apoiando o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, na corrida pelo Edifício Tiradentes. Para garantir a aliança, o PT retirou a candidatura do deputado federal petista Reginaldo Lopes ao Senado e vai apoiar o senador Alexandre Silveira (PSB), que vai tentar a reeleição.
Sem um nome forte no estado – a candidatura do senador Carlos Viana, do PL, não decola –, Bolsonaro segue às voltas com sua tentativa de se aliar ao governador Romeu Zema (Novo), que tenta a reeleição e que lidera as pesquisas de intenção de voto. Zema, no entanto, resiste: ele apoia o candidato do seu partido à Presidência da República, Luís Felipe D’Ávila, que patina nas pesquisas.
Por ora, o presidente trabalha com o palanque de Carlos Viana, que tem como candidato ao Senado seu ex-ministro do Turismo, o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PL), mas a qualquer sinal positivo de Zema, ele não vai pensar duas vezes para rifar o candidato do próprio partido.
Alianças locais
No Rio de Janeiro, de um lado está o governador Cláudio Castro (PL), que tenta a reeleição, e no polo oposto, com o apoio de Lula, está o deputado federal Marcelo Freixo (PSB), em segundo lugar na corrida pelo Palácio da Guanabara. A disputa muito provavelmente ficará entre os dois em um segundo turno, já que eles estão muito à frente dos demais postulantes.
Assim como em São Paulo, PT e PSB do Rio ainda tentam fazer alguns ajustes na aliança local – na chapa encabeçada por Freixo, o PT quer o deputado estadual petista André Ceciliano na disputa pelo Senado, enquanto o PSB tenta emplacar o nome do deputado federal Alessandro Molon. Mas isso em nada compromete o fato de que a polarização nacional se repete localmente.
Todas essas movimentações têm como pano de fundo o fato de que as cúpulas das legendas, na verdade, não estão preocupadas com um projeto de País, com programas de governo ou, ainda, com o perfil dos candidatos. Antes disso, o dinheiro e o poder ditam os rumos, e as escolhas se reduzem à avaliação sobre quem pode oferecer mais benesses, se Lula ou Bolsonaro. Perde o Brasil.FONTE ISTOÉ
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