Pages

domingo, 29 de maio de 2022

PRESIDENTE DO PDT: "PERDENDO A ELEIÇÃO, BOLSONARO VAI PARA A CADEIA"

Por ipuemfoco   Postado  domingo, maio 29, 2022   Sem Comentários


As pesquisas mostram que Ciro está estagnado a menos de seis meses das eleições. Qual a estratégia para furar a bolha?
A palavra estagnado é muito forte. Já tivemos várias candidaturas colocadas como uma nova opção e nenhuma decolou. Acho que ele está resistindo em uma política nacional na qual se fabrica a polarização, que é representada por dois nomes muito conhecidos: um está no exercício da Presidência e trabalha segmentando a população pelo ódio, pelo desrespeito à ciência, pela agressividade e pela homofobia e outro é o presidente mais popular que temos desde as eleições de 1989. Essa polarização é retratada todos os dias e, hoje, a maior parte da população brasileira acha que só temos dois candidatos. Isso faz Ciro ficar com 9% a 12% das intenções de votos, dependendo de como é perguntado.

Com esses números, o PDT ainda crê na presença de Ciro no segundo turno?
Sim. O processo político brasileiro é cheio de surpresas. Sou vivido e não esperava, até 15 dias antes das eleições de 2018, que Bolsonaro vencesse. Era um deputado despreparado, insignificante. Uma pessoa sem carisma, sem grandes patrocinadores. ‘Ah, foi pela oposição ao PT’. ‘Ah, foi pela facada’. A cada eleição no Brasil, vários fatores ditam os rumos de uma forma distinta. Brizola começou a eleição de 1989 como favorito. Havia saído do exílio e era um homem que lutara contra a ditadura. Lula era o terceiro e Fernando Collor, o quinto. E quem ganhou? Collor. O Brasil tem resultados diferentes em cada momento. Penso que agora o país tem de priorizar um projeto com começo, meio e fim. Você pode não gostar do Ciro. Alguns não gostam pelo temperamento, outros pela maneira de falar. Mas ninguém deixa de reconhecer o preparo dele.

O temperamento de Ciro pode pesar para a estagnação?
Depois de Bolsonaro na Presidência, todo pitbull vira cachorrinho de estimação. Quer coisa mais ignorante que Bolsonaro? Ele xinga, ofende e, ainda assim, agrada o eleitorado. Nenhum temperamento pode ser considerado pior do que o dele. E não é o temperamento que deve, na minha opinião, delinear o voto da cidadania.

Parte das pesquisas indica que, se Ciro desistir da candidatura, Lula pode vencer ainda no primeiro turno.
Não acredito nessa projeção. Essa política do ódio se esgota por si só. Essa política do sim ou não, do vota no Bolsonaro para evitar o Lula ou vota no Lula para evitar o Bolsonaro. Por que não posso votar em quem acho melhor? Não há nenhuma possibilidade de Ciro desistir ou de desistirmos do Ciro. A candidatura dele é irreversível.

Mas Lula mantém contato com o senhor?
Pessoalmente, a última vez que o encontrei foi quando fui visitá-lo na prisão. Depois, por telefone, nos falamos duas ou três vezes. Tenho muito apreço pelo Lula. Acho que ele foi profundamente injustiçado e que Moro é um Silvério dos Reis dos tempos modernos. Mas Lula já cumpriu a etapa dele. Uma sociedade não avança olhando para trás. Uma sociedade só avança construindo novos caminhos, com novas opções. Lula teve muitos aspectos positivos. Fui ministro do Trabalho dele por anos. Tenho orgulho de dizer que ajudei na maior geração de empregos da história do país. Foram 12,5 milhões de carteiras assinadas com todos os direitos.

Conhecendo Lula, a que o senhor atribui a verborragia do ex-presidente?
Lula está um pouquinho no clima do ‘já ganhou’. Todo mundo que acha que ganha de véspera está marcado para ser derrotado. O maior exemplo disso é FHC, que disputou as eleições de São Paulo e, um dia antes da votação, fotografou na cadeira de prefeito. Sentou prefeito e acordou sem cadeira. Esse é o maior risco para Lula nas eleições: a soberba.

Caso Lula avance ao segundo turno contra Bolsonaro, o PDT vai declarar apoio formal ao PT?
Nós jamais estaremos ao lado de Bolsonaro. Não há essa hipótese. Se vocês me virem ao lado de Bolsonaro é porque eu morri ou ele morreu. Um dos dois está enterrando alguém.

Em 2018, Ciro viajou a Paris quando poderia ter subido ao palanque de Fernando Haddad em uma eleição dura contra Bolsonaro.
Ciro não fez campanha, mas voltou e votou. Eu estava com ele no dia da votação em Fortaleza.

Parte dos candidatos do PDT constrói alianças com nomes do PT. Como ficam os palanques para os presidenciáveis?
Pode haver alianças com um candidato a governador pelo PDT e um candidato a senador pelo PT. O do PDT fará campanha pelo Ciro e o do PT, pelo Lula. Como é que você vai reprimir alianças? Na Bahia, por exemplo, vamos apoiar o ACM Neto, do União Brasil, partido que, por ora, tem candidato próprio. Vamos apoiar, como já fizemos em 2018, Ronaldo Caiado, em Goiás. Por afinidade ideológica? Não. Por opção política local. Em Santa Catarina, vai ser a união de todos os partidos de esquerda — PT, PDT, PSB, PSTU, PCB. Tudo junto em um palanque só. Todo mundo vai fazer palanque para o Lula? Não. Cada um com seu candidato.

O senhor citou alianças regionais com o União Brasil. Como estão as conversas a nível nacional?
Eles lançaram Luciano Bivar à presidência. Temos que respeitar. Mas há um diálogo permanente. Se o Ciro — e acho que isso vai acontecer — sair dos 11% ou 12% das intenções de voto para 15%, já pode viabilizar uma aliança muito maior do que a gente imagina.

O senhor crê em uma dobradinha entre Ciro e Bivar?
Acho que é possível e, se depender de mim, provável. Seria uma aliança de centro-esquerda, que é o que a sociedade quer como opção. Se o Ciro tiver chance de contar com um bom tempo de televisão, pelo preparo que demonstra, vai convencer muita gente. E, quanto mais tempo tiver para fazê-lo, mais fácil fica.

Ciro também já acenou a Simone Tebet. Como ficaria ela nessa equação?
A Simone é uma figura da qual gosto muito. Mas o MDB sempre foi uma federação de interesses regionais. O MDB não tem unidade. A Simone é uma mulher preparada, corajosa. Faz parte do que chamo do MDB mais autêntico, mais verdadeiro.

Em meio à confusão nas legendas, quando Ciro baterá o martelo sobre seu vice?
Só nas convenções partidárias (entre julho e agosto). Dependemos das alianças. Pode mudar tudo, conforme a aliança formada. Continuamos conversando com o PSD, de Gilberto Kassab, por exemplo.

Mas o PSD pende à neutralidade, certo?
Se o Ciro crescer um pouquinho, vou mandar fazer fila aqui na sede do partido para ver se atendo ou não. É a política.

Ciro e Marina Silva são próximos, mas a federação formada por PSOL e Rede definiu apoio a Lula. A aliança entre os dois fica comprometida?
O documento que eles fizeram — e digo porque converso bem com Heloisa Helena, que apoiará Ciro — garante liberdade aos filiados e, assim, a gente mantém o diálogo. A gente tem muitos dedos, muita delicadeza para tratar disso.

As conversas com Marina Silva, da Rede, avançaram?
Nós queremos muito o apoio da Marina. Ela é uma referência política na questão ambiental. É séria, guerreira. A questão é que ela tem problemas com João Santana. Não é com Ciro o problema dela. Eu já falei: ‘O candidato não é João Santana, é o Ciro. Esquece João Santana’. Mas ela é tinhosa.

É possível que Bolsonaro e Lula não compareçam aos debates. Isso prejudica a estratégia de Ciro?
É uma estratégia deles. Fala de mim que eu falo de você. Um alimenta o outro. Pensam: ‘Para que debater se nós ganhamos sem falar nada?’. Nós continuaremos tentando furar a polarização como loucos. É chamar para o debate. Fotografar a cadeira vazia. É como aquela música que diz ‘naquela mesa, está faltando ele’. Está faltando gente na mesa para debater, discutir. Até quando o Brasil vai se submeter a candidatos que não apresentam propostas?

O debate sobre projetos, de fato, está esvaziado. Para o senhor, o quão danoso isso pode ser?
Eleição não pode ser o candidato falar aquilo que a pesquisa diz que o eleitor quer ouvir. O esvaziamento do debate é o que o Bolsonaro quer. Ele quer discutir urna eletrônica, mas não desemprego. Quer discutir TSE, mas não inflação. Quer discutir a sexualidade do ser humano, a qual ele tem de respeitar, mas não o desconhecimento da medicina, as mortes pela Covid-19, pelas quais ele é co-responsável. Pão e circo. Mussolini já fazia isso na Itália.

Houve, aliás, uma escalada no discurso antidemocrático do presidente. O sr. crê na chance de um golpe?
Ele gostaria muito, mas não estamos em 1964. Não há nenhum navio da frota americana nas nossas fronteiras. Nenhum dos grandes veículos de imprensa apoia o golpe. A Igreja é contra o golpe, assim como a OAB. Quem vai dar o golpe? Os generais que estão em cargos de confiança? Não tem tropa, não tem ambiente, não tem clima. Ele faz disso uma ameaça para alimentar a claque e desviar o foco dos problemas.

Bolsonaro vai à campanha sem o peso de uma denúncia pelas omissões na pandemia. Isso facilita a candidatura?
Bolsonaro, perdendo a eleição, vai para a cadeia. Batemos a marca de 660 mil mortos. Não é possível que essas mortes não lembrem a população da omissão desse belzebu que está na Presidência. Isso não vai passar impune. Bolsonaro saindo da Presidência, acaba a brincadeira.

Houve omissão de Augusto Aras?
Ele exerce a função de um homem de confiança do presidente da República, o que não deveria ser.

As pesquisas mostram que Ciro está estagnado a menos de seis meses das eleições. Qual a estratégia para furar a bolha?
A palavra estagnado é muito forte. Já tivemos várias candidaturas colocadas como uma nova opção e nenhuma decolou. Acho que ele está resistindo em uma política nacional na qual se fabrica a polarização, que é representada por dois nomes muito conhecidos: um está no exercício da Presidência e trabalha segmentando a população pelo ódio, pelo desrespeito à ciência, pela agressividade e pela homofobia e outro é o presidente mais popular que temos desde as eleições de 1989. Essa polarização é retratada todos os dias e, hoje, a maior parte da população brasileira acha que só temos dois candidatos. Isso faz Ciro ficar com 9% a 12% das intenções de votos, dependendo de como é perguntado.

Com esses números, o PDT ainda crê na presença de Ciro no segundo turno?
Sim. O processo político brasileiro é cheio de surpresas. Sou vivido e não esperava, até 15 dias antes das eleições de 2018, que Bolsonaro vencesse. Era um deputado despreparado, insignificante. Uma pessoa sem carisma, sem grandes patrocinadores. ‘Ah, foi pela oposição ao PT’. ‘Ah, foi pela facada’. A cada eleição no Brasil, vários fatores ditam os rumos de uma forma distinta. Brizola começou a eleição de 1989 como favorito. Havia saído do exílio e era um homem que lutara contra a ditadura. Lula era o terceiro e Fernando Collor, o quinto. E quem ganhou? Collor. O Brasil tem resultados diferentes em cada momento. Penso que agora o país tem de priorizar um projeto com começo, meio e fim. Você pode não gostar do Ciro. Alguns não gostam pelo temperamento, outros pela maneira de falar. Mas ninguém deixa de reconhecer o preparo dele.

O temperamento de Ciro pode pesar para a estagnação?
Depois de Bolsonaro na Presidência, todo pitbull vira cachorrinho de estimação. Quer coisa mais ignorante que Bolsonaro? Ele xinga, ofende e, ainda assim, agrada o eleitorado. Nenhum temperamento pode ser considerado pior do que o dele. E não é o temperamento que deve, na minha opinião, delinear o voto da cidadania.

Parte das pesquisas indica que, se Ciro desistir da candidatura, Lula pode vencer ainda no primeiro turno.
Não acredito nessa projeção. Essa política do ódio se esgota por si só. Essa política do sim ou não, do vota no Bolsonaro para evitar o Lula ou vota no Lula para evitar o Bolsonaro. Por que não posso votar em quem acho melhor? Não há nenhuma possibilidade de Ciro desistir ou de desistirmos do Ciro. A candidatura dele é irreversível.

Mas Lula mantém contato com o senhor?
Pessoalmente, a última vez que o encontrei foi quando fui visitá-lo na prisão. Depois, por telefone, nos falamos duas ou três vezes. Tenho muito apreço pelo Lula. Acho que ele foi profundamente injustiçado e que Moro é um Silvério dos Reis dos tempos modernos. Mas Lula já cumpriu a etapa dele. Uma sociedade não avança olhando para trás. Uma sociedade só avança construindo novos caminhos, com novas opções. Lula teve muitos aspectos positivos. Fui ministro do Trabalho dele por anos. Tenho orgulho de dizer que ajudei na maior geração de empregos da história do país. Foram 12,5 milhões de carteiras assinadas com todos os direitos.

Conhecendo Lula, a que o senhor atribui a verborragia do ex-presidente?
Lula está um pouquinho no clima do ‘já ganhou’. Todo mundo que acha que ganha de véspera está marcado para ser derrotado. O maior exemplo disso é FHC, que disputou as eleições de São Paulo e, um dia antes da votação, fotografou na cadeira de prefeito. Sentou prefeito e acordou sem cadeira. Esse é o maior risco para Lula nas eleições: a soberba.

Caso Lula avance ao segundo turno contra Bolsonaro, o PDT vai declarar apoio formal ao PT?
Nós jamais estaremos ao lado de Bolsonaro. Não há essa hipótese. Se vocês me virem ao lado de Bolsonaro é porque eu morri ou ele morreu. Um dos dois está enterrando alguém.

Em 2018, Ciro viajou a Paris quando poderia ter subido ao palanque de Fernando Haddad em uma eleição dura contra Bolsonaro.
Ciro não fez campanha, mas voltou e votou. Eu estava com ele no dia da votação em Fortaleza.

Parte dos candidatos do PDT constrói alianças com nomes do PT. Como ficam os palanques para os presidenciáveis?
Pode haver alianças com um candidato a governador pelo PDT e um candidato a senador pelo PT. O do PDT fará campanha pelo Ciro e o do PT, pelo Lula. Como é que você vai reprimir alianças? Na Bahia, por exemplo, vamos apoiar o ACM Neto, do União Brasil, partido que, por ora, tem candidato próprio. Vamos apoiar, como já fizemos em 2018, Ronaldo Caiado, em Goiás. Por afinidade ideológica? Não. Por opção política local. Em Santa Catarina, vai ser a união de todos os partidos de esquerda — PT, PDT, PSB, PSTU, PCB. Tudo junto em um palanque só. Todo mundo vai fazer palanque para o Lula? Não. Cada um com seu candidato.

O senhor citou alianças regionais com o União Brasil. Como estão as conversas a nível nacional?
Eles lançaram Luciano Bivar à presidência. Temos que respeitar. Mas há um diálogo permanente. Se o Ciro — e acho que isso vai acontecer — sair dos 11% ou 12% das intenções de voto para 15%, já pode viabilizar uma aliança muito maior do que a gente imagina.

O senhor crê em uma dobradinha entre Ciro e Bivar?
Acho que é possível e, se depender de mim, provável. Seria uma aliança de centro-esquerda, que é o que a sociedade quer como opção. Se o Ciro tiver chance de contar com um bom tempo de televisão, pelo preparo que demonstra, vai convencer muita gente. E, quanto mais tempo tiver para fazê-lo, mais fácil fica.

Ciro também já acenou a Simone Tebet. Como ficaria ela nessa equação?
A Simone é uma figura da qual gosto muito. Mas o MDB sempre foi uma federação de interesses regionais. O MDB não tem unidade. A Simone é uma mulher preparada, corajosa. Faz parte do que chamo do MDB mais autêntico, mais verdadeiro.

Em meio à confusão nas legendas, quando Ciro baterá o martelo sobre seu vice?
Só nas convenções partidárias (entre julho e agosto). Dependemos das alianças. Pode mudar tudo, conforme a aliança formada. Continuamos conversando com o PSD, de Gilberto Kassab, por exemplo.

Mas o PSD pende à neutralidade, certo?
Se o Ciro crescer um pouquinho, vou mandar fazer fila aqui na sede do partido para ver se atendo ou não. É a política.

Ciro e Marina Silva são próximos, mas a federação formada por PSOL e Rede definiu apoio a Lula. A aliança entre os dois fica comprometida?
O documento que eles fizeram — e digo porque converso bem com Heloisa Helena, que apoiará Ciro — garante liberdade aos filiados e, assim, a gente mantém o diálogo. A gente tem muitos dedos, muita delicadeza para tratar disso.

As conversas com Marina Silva, da Rede, avançaram?
Nós queremos muito o apoio da Marina. Ela é uma referência política na questão ambiental. É séria, guerreira. A questão é que ela tem problemas com João Santana. Não é com Ciro o problema dela. Eu já falei: ‘O candidato não é João Santana, é o Ciro. Esquece João Santana’. Mas ela é tinhosa.

É possível que Bolsonaro e Lula não compareçam aos debates. Isso prejudica a estratégia de Ciro?
É uma estratégia deles. Fala de mim que eu falo de você. Um alimenta o outro. Pensam: ‘Para que debater se nós ganhamos sem falar nada?’. Nós continuaremos tentando furar a polarização como loucos. É chamar para o debate. Fotografar a cadeira vazia. É como aquela música que diz ‘naquela mesa, está faltando ele’. Está faltando gente na mesa para debater, discutir. Até quando o Brasil vai se submeter a candidatos que não apresentam propostas?

O debate sobre projetos, de fato, está esvaziado. Para o senhor, o quão danoso isso pode ser?
Eleição não pode ser o candidato falar aquilo que a pesquisa diz que o eleitor quer ouvir. O esvaziamento do debate é o que o Bolsonaro quer. Ele quer discutir urna eletrônica, mas não desemprego. Quer discutir TSE, mas não inflação. Quer discutir a sexualidade do ser humano, a qual ele tem de respeitar, mas não o desconhecimento da medicina, as mortes pela Covid-19, pelas quais ele é co-responsável. Pão e circo. Mussolini já fazia isso na Itália.

Houve, aliás, uma escalada no discurso antidemocrático do presidente. O sr. crê na chance de um golpe?
Ele gostaria muito, mas não estamos em 1964. Não há nenhum navio da frota americana nas nossas fronteiras. Nenhum dos grandes veículos de imprensa apoia o golpe. A Igreja é contra o golpe, assim como a OAB. Quem vai dar o golpe? Os generais que estão em cargos de confiança? Não tem tropa, não tem ambiente, não tem clima. Ele faz disso uma ameaça para alimentar a claque e desviar o foco dos problemas.

Bolsonaro vai à campanha sem o peso de uma denúncia pelas omissões na pandemia. Isso facilita a candidatura?
Bolsonaro, perdendo a eleição, vai para a cadeia. Batemos a marca de 660 mil mortos. Não é possível que essas mortes não lembrem a população da omissão desse belzebu que está na Presidência. Isso não vai passar impune. Bolsonaro saindo da Presidência, acaba a brincadeira.

Houve omissão de Augusto Aras?
Ele exerce a função de um homem de confiança do presidente da República, o que não deveria ser.

As pesquisas mostram que Ciro está estagnado a menos de seis meses das eleições. Qual a estratégia para furar a bolha?

A palavra estagnado é muito forte. Já tivemos várias candidaturas colocadas como uma nova opção e nenhuma decolou. Acho que ele está resistindo em uma política nacional na qual se fabrica a polarização, que é representada por dois nomes muito conhecidos: um está no exercício da Presidência e trabalha segmentando a população pelo ódio, pelo desrespeito à ciência, pela agressividade e pela homofobia e outro é o presidente mais popular que temos desde as eleições de 1989. Essa polarização é retratada todos os dias e, hoje, a maior parte da população brasileira acha que só temos dois candidatos. Isso faz Ciro ficar com 9% a 12% das intenções de votos, dependendo de como é perguntado.

Com esses números, o PDT ainda crê na presença de Ciro no segundo turno?
Sim. O processo político brasileiro é cheio de surpresas. Sou vivido e não esperava, até 15 dias antes das eleições de 2018, que Bolsonaro vencesse. Era um deputado despreparado, insignificante. Uma pessoa sem carisma, sem grandes patrocinadores. ‘Ah, foi pela oposição ao PT’. ‘Ah, foi pela facada’. A cada eleição no Brasil, vários fatores ditam os rumos de uma forma distinta. Brizola começou a eleição de 1989 como favorito. Havia saído do exílio e era um homem que lutara contra a ditadura. Lula era o terceiro e Fernando Collor, o quinto. E quem ganhou? Collor. O Brasil tem resultados diferentes em cada momento. Penso que agora o país tem de priorizar um projeto com começo, meio e fim. Você pode não gostar do Ciro. Alguns não gostam pelo temperamento, outros pela maneira de falar. Mas ninguém deixa de reconhecer o preparo dele.

O temperamento de Ciro pode pesar para a estagnação?
Depois de Bolsonaro na Presidência, todo pitbull vira cachorrinho de estimação. Quer coisa mais ignorante que Bolsonaro? Ele xinga, ofende e, ainda assim, agrada o eleitorado. Nenhum temperamento pode ser considerado pior do que o dele. E não é o temperamento que deve, na minha opinião, delinear o voto da cidadania.

Parte das pesquisas indica que, se Ciro desistir da candidatura, Lula pode vencer ainda no primeiro turno.
Não acredito nessa projeção. Essa política do ódio se esgota por si só. Essa política do sim ou não, do vota no Bolsonaro para evitar o Lula ou vota no Lula para evitar o Bolsonaro. Por que não posso votar em quem acho melhor? Não há nenhuma possibilidade de Ciro desistir ou de desistirmos do Ciro. A candidatura dele é irreversível.

Mas Lula mantém contato com o senhor?
Pessoalmente, a última vez que o encontrei foi quando fui visitá-lo na prisão. Depois, por telefone, nos falamos duas ou três vezes. Tenho muito apreço pelo Lula. Acho que ele foi profundamente injustiçado e que Moro é um Silvério dos Reis dos tempos modernos. Mas Lula já cumpriu a etapa dele. Uma sociedade não avança olhando para trás. Uma sociedade só avança construindo novos caminhos, com novas opções. Lula teve muitos aspectos positivos. Fui ministro do Trabalho dele por anos. Tenho orgulho de dizer que ajudei na maior geração de empregos da história do país. Foram 12,5 milhões de carteiras assinadas com todos os direitos.

Conhecendo Lula, a que o senhor atribui a verborragia do ex-presidente?
Lula está um pouquinho no clima do ‘já ganhou’. Todo mundo que acha que ganha de véspera está marcado para ser derrotado. O maior exemplo disso é FHC, que disputou as eleições de São Paulo e, um dia antes da votação, fotografou na cadeira de prefeito. Sentou prefeito e acordou sem cadeira. Esse é o maior risco para Lula nas eleições: a soberba.

Caso Lula avance ao segundo turno contra Bolsonaro, o PDT vai declarar apoio formal ao PT?
Nós jamais estaremos ao lado de Bolsonaro. Não há essa hipótese. Se vocês me virem ao lado de Bolsonaro é porque eu morri ou ele morreu. Um dos dois está enterrando alguém.

Em 2018, Ciro viajou a Paris quando poderia ter subido ao palanque de Fernando Haddad em uma eleição dura contra Bolsonaro.
Ciro não fez campanha, mas voltou e votou. Eu estava com ele no dia da votação em Fortaleza.

Parte dos candidatos do PDT constrói alianças com nomes do PT. Como ficam os palanques para os presidenciáveis?
Pode haver alianças com um candidato a governador pelo PDT e um candidato a senador pelo PT. O do PDT fará campanha pelo Ciro e o do PT, pelo Lula. Como é que você vai reprimir alianças? Na Bahia, por exemplo, vamos apoiar o ACM Neto, do União Brasil, partido que, por ora, tem candidato próprio. Vamos apoiar, como já fizemos em 2018, Ronaldo Caiado, em Goiás. Por afinidade ideológica? Não. Por opção política local. Em Santa Catarina, vai ser a união de todos os partidos de esquerda — PT, PDT, PSB, PSTU, PCB. Tudo junto em um palanque só. Todo mundo vai fazer palanque para o Lula? Não. Cada um com seu candidato.

O senhor citou alianças regionais com o União Brasil. Como estão as conversas a nível nacional?
Eles lançaram Luciano Bivar à presidência. Temos que respeitar. Mas há um diálogo permanente. Se o Ciro — e acho que isso vai acontecer — sair dos 11% ou 12% das intenções de voto para 15%, já pode viabilizar uma aliança muito maior do que a gente imagina.

O senhor crê em uma dobradinha entre Ciro e Bivar?
Acho que é possível e, se depender de mim, provável. Seria uma aliança de centro-esquerda, que é o que a sociedade quer como opção. Se o Ciro tiver chance de contar com um bom tempo de televisão, pelo preparo que demonstra, vai convencer muita gente. E, quanto mais tempo tiver para fazê-lo, mais fácil fica.

Ciro também já acenou a Simone Tebet. Como ficaria ela nessa equação?
A Simone é uma figura da qual gosto muito. Mas o MDB sempre foi uma federação de interesses regionais. O MDB não tem unidade. A Simone é uma mulher preparada, corajosa. Faz parte do que chamo do MDB mais autêntico, mais verdadeiro.

Em meio à confusão nas legendas, quando Ciro baterá o martelo sobre seu vice?
Só nas convenções partidárias (entre julho e agosto). Dependemos das alianças. Pode mudar tudo, conforme a aliança formada. Continuamos conversando com o PSD, de Gilberto Kassab, por exemplo.

Mas o PSD pende à neutralidade, certo?
Se o Ciro crescer um pouquinho, vou mandar fazer fila aqui na sede do partido para ver se atendo ou não. É a política.

Ciro e Marina Silva são próximos, mas a federação formada por PSOL e Rede definiu apoio a Lula. A aliança entre os dois fica comprometida?
O documento que eles fizeram — e digo porque converso bem com Heloisa Helena, que apoiará Ciro — garante liberdade aos filiados e, assim, a gente mantém o diálogo. A gente tem muitos dedos, muita delicadeza para tratar disso.

As conversas com Marina Silva, da Rede, avançaram?
Nós queremos muito o apoio da Marina. Ela é uma referência política na questão ambiental. É séria, guerreira. A questão é que ela tem problemas com João Santana. Não é com Ciro o problema dela. Eu já falei: ‘O candidato não é João Santana, é o Ciro. Esquece João Santana’. Mas ela é tinhosa.

É possível que Bolsonaro e Lula não compareçam aos debates. Isso prejudica a estratégia de Ciro?
É uma estratégia deles. Fala de mim que eu falo de você. Um alimenta o outro. Pensam: ‘Para que debater se nós ganhamos sem falar nada?’. Nós continuaremos tentando furar a polarização como loucos. É chamar para o debate. Fotografar a cadeira vazia. É como aquela música que diz ‘naquela mesa, está faltando ele’. Está faltando gente na mesa para debater, discutir. Até quando o Brasil vai se submeter a candidatos que não apresentam propostas?

O debate sobre projetos, de fato, está esvaziado. Para o senhor, o quão danoso isso pode ser?
Eleição não pode ser o candidato falar aquilo que a pesquisa diz que o eleitor quer ouvir. O esvaziamento do debate é o que o Bolsonaro quer. Ele quer discutir urna eletrônica, mas não desemprego. Quer discutir TSE, mas não inflação. Quer discutir a sexualidade do ser humano, a qual ele tem de respeitar, mas não o desconhecimento da medicina, as mortes pela Covid-19, pelas quais ele é co-responsável. Pão e circo. Mussolini já fazia isso na Itália.

Houve, aliás, uma escalada no discurso antidemocrático do presidente. O sr. crê na chance de um golpe?
Ele gostaria muito, mas não estamos em 1964. Não há nenhum navio da frota americana nas nossas fronteiras. Nenhum dos grandes veículos de imprensa apoia o golpe. A Igreja é contra o golpe, assim como a OAB. Quem vai dar o golpe? Os generais que estão em cargos de confiança? Não tem tropa, não tem ambiente, não tem clima. Ele faz disso uma ameaça para alimentar a claque e desviar o foco dos problemas.

Bolsonaro vai à campanha sem o peso de uma denúncia pelas omissões na pandemia. Isso facilita a candidatura?
Bolsonaro, perdendo a eleição, vai para a cadeia. Batemos a marca de 660 mil mortos. Não é possível que essas mortes não lembrem a população da omissão desse belzebu que está na Presidência. Isso não vai passar impune. Bolsonaro saindo da Presidência, acaba a brincadeira.

Houve omissão de Augusto Aras?
Ele exerce a função de um homem de confiança do presidente da República, o que não deveria ser.
FONTE ISTOÉ

Sobre o autor

Adicione aqui uma descrição do dono do blog ou do postador do blog ok

0 comentários:

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
.
Voltar ao topo ↑
RECEBA NOSSAS ATUALIZAÇÕES

© 2013 IpuemFoco - Rádialista Rogério Palhano - Desenvolvido Por - LuizHeenriquee