Pages

domingo, 6 de fevereiro de 2022

CEARÁ: OS DESAFIOS DA OPOSIÇÃO PARA SER COMPETITIVA EM 2022

Por ipuemfoco   Postado  domingo, fevereiro 06, 2022   Sem Comentários


A seis meses da oficialização dos candidatos ao Governo do Ceará, começam a se delinear as estratégias eleitorais não só na base governista, mas principalmente na oposição. 


No Ceará, a principal disputa, a do Governo do Estado, tem o deputado federal Capitão Wagner (Pros) como pré-candidato, aliado ao senador Eduardo Girão (Podemos), que também tem o nome ventilado para a disputa. Mas quais são os desafios e os trunfos da oposição no Ceará?

Para entender os principais pontos que rodeiam esse grupo no pleito de 2022, o Diário do Nordeste ouviu três cientistas políticos: Cleyton Monte, Carla Michele Quaresma e Emanuel Freitas.

Eles ressaltam o desafio da capilaridade pelo Estado, a influência da disputa nacional e os impasses que ainda pesam sobre as definições.

LEIA AS OPINIÕES DOS ESPECIALISTAS, NA ÍNTEGRA


QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS QUE A OPOSIÇÃO DEVE ENFRENTAR NO CEARÁ PARA SER COMPETITIVA EM 2022?


Cleyton Monte - Primeiro, aliança com prefeitos. Não se ganha o Governo do Estado sem uma rede de aliados nas prefeituras. Segundo, aliança com parlamentares. E, principalmente, uma coligação com partidos significativos, com boa bancada e fundo eleitoral. Uma coligação de oposição competitiva, para que possa fazer frente ao Governo, tem que ter isso: apoio de prefeitos, de parlamentares e de uma quantidade significativa de partidos. E se vestir da mensagem de mudança.

A oposição só consegue chegar ao poder, principalmente no Ceará, se ela se coloca como a imagem da mudança. Claro, a partir do momento em que ela vende a ideia de que essa mudança é necessária.

Carla Michele Quaresma - O grupo capitaneado pelos Ferreira Gomes (senador Cid Gomes e ex-ministro Ciro Gomes) costuma fazer a divulgação do nome do candidato somente após a homologação da candidatura. Mas, existem muitos quadros políticos relevantes e, talvez, o maior trunfo desse grupo seja a capilaridade.

Sobral Capitão Wagner
Legenda: Capitão Wagner tem avançado em busca de aliados no Interior. Na foto, encontro com o lideranças de oposição na Região Norte
Foto: Reprodução

Há um apoio muito grande que eles conseguiram arregimentar nos municípios e que representa uma base eleitoral significativa, porque o candidato a governador, embora percorra várias cidades, não tem condições de visitar todas, de sair de porta em porta pedindo o voto do eleitor.

Esse trabalho é feito por prefeitos, vereadores, e os candidatos a deputado estadual também exercem muita influência. Um outro trunfo é a avaliação positiva do governador Camilo Santana que, certamente, será o principal cabo eleitoral do próximo candidato

Emanuel Freitas -  O principal desafio da oposição no Ceará é enfrentar a alta aprovação do Governo Camilo Santana. Ele foi reeleito com uma votação super expressiva e mantém uma alta taxa de popularidade, sobretudo por conta da sua conduta na pandemia, que também exigiu dele uma maior penetração nas redes sociais, fez dele um comunicador que ele não era.

Esse é o principal problema a ser enfrentado pela oposição, mas não é tão difícil assim, porque ele estará tentando passar seu capital político para outra pessoa, além disso, vai depender também da gestão em Fortaleza, do prefeito Sarto (...) Junto a isso, tem a alta rejeição que (o presidente Jair) Bolsonaro tem no Ceará.

Então, ao mesmo tempo em que a oposição precisa tirar notoriedade do Camilo, precisa livrar-se ou aplainar o alto índice de rejeição de Bolsonaro no Ceará. 

QUAIS SÃO AS VANTAGENS DA OPOSIÇÃO SOBRE O GOVERNO?


Cleyton Monte - A maior vantagem da oposição é que, no Ceará, tem um grupo que está há 16 anos no poder, se a gente somar os oito anos do governo Cid e os oito anos do governo Camilo. Então, tem uma certa fadiga administrativa. E, claro, áreas sensíveis: segurança pública, desemprego, pobreza.

Se a oposição conseguir apresentar respostas, dialogar com a população sobre esses pontos, de forma convincente e coerente, ela tem vantagens sobre o candidato do Governo. A oposição, de certa forma, tem um papel discursivo mais confortável porque pode fazer críticas. Está livre para apontar. Essa é a vantagem.

Tem áreas frágeis do Governo e também tem desgastes de aliança. A oposição pode se aproveitar e trazer algum partido, alguma liderança, prefeitos, para a sua base de sustentação.

Carla Michele Quaresma - Ainda não existem nomes definidos porque isso só ocorrerá após as convenções partidárias, mas se especula que o candidato (da oposição) seja o (deputado federal) Capitão Wagner (Pros) ou alguém do seu grupo político. O Capitão, que já era um fenômeno eleitoral, hoje, é o principal representante do movimento de oposição no Ceará. E existem alguns dados que preocupam os cearenses que podem ser utilizados como um trunfo por essa oposição.

Eduardo Girão e Capitão Wagner durante a campanha de 2020 pela Prefeitura de Fortaleza
Legenda: Eduardo Girão e Capitão Wagner durante a campanha de 2020 pela Prefeitura de Fortaleza
Foto: Divulgação

A questão da segurança pública, por exemplo, que, após sucessivos governos dos Ferreira Gomes, não conseguiu ser solucionada. Mesmo com tantos investimentos em contratação, treinamento de pessoal, viaturas, equipamentos, não conseguiu frear o crescimento de grupos criminosos organizados. Esses elementos podem fortalecer o discurso de que há uma incompetência por parte desse grupo (dos Ferreira Gomes) para lidar com essa questão que é tão sensível e que é uma das principais preocupações dos cearenses. E o Capitão Wagner é um especialista nessa área.

Embora ele tenha tentado construir essa imagem de um candidato mais plural, que consegue falar de vários temas, ele é muito associado à segurança e é alguém com autoridade para falar sobre o assunto. Outra questão que certamente será utilizada na campanha da oposição é o enfrentamento à pandemia e a utilização dos recursos financeiros que foram destinados pelo Governo Federal para que os estados pudessem lidar com essa situação. Recaem muitas acusações tanto sobre o ex-prefeito (de Fortaleza) Roberto Cláudio como sobre o governador Camilo Santana. Isso também poderá ser explorado para descredibilizar o Governo.

Emanuel Freitas -  A oposição bolsonarista no Ceará é bastante coesa, o que os leva, por exemplo, a não lançar dois nomes na disputa. Talvez se Sérgio Moro passar dos 15% nas pesquisas, o senador Eduardo Girão (Podemos) dispute o Governo, porque ele não tem nada a perder, mas me parece que a oposição tem esse senso de coesão.

Outro ponto é que a oposição tem a governança de cidades importantes, como Maracanaú, Caucaia e Juazeiro do Norte, além de ter acumulado vitórias expressivas, como uma quase derrota de Ivo Gomes (PDT) em Sobral e uma quase derrota de José Sarto em Fortaleza. Não foram vitórias expressivas (na base goernista). A oposição tem vitrines para mostrar. 

COMO O CENÁRIO NACIONAL DEVE INTERFERIR NO PLEITO ESTADUAL?


Cleyton Monte - Acredita-se que essa eleição de 2022 vai ser a mais nacionalizada da história da redemocratização. Já está sendo. A gente vê uma relação muito forte entre o que se discute na eleição presidencial e aquilo que se pensa para a eleição ao Governo do Estado. Por exemplo, como vai estar, daqui para outubro, a avaliação do governo Bolsonaro? Isso afeta bastante as chances e o potencial da oposição. Como vai estar a articulação do ex-presidente Lula no Ceará? Do Ciro Gomes?

Então, é claro que essas articulações nacionais impactam. Justamente porque, a partir delas, e de questões que estão sendo decididas nacionalmente, é que se decide uma série de pontos locais. Claro que o Estado tem suas particularidades, tem situações que são vivenciadas e decididas aqui, mas, por exemplo, a entrada de uma figura como o Sérgio Moro na disputa traz mais um elemento para o debate estadual.

A avaliação que as pessoas têm do governo Bolsonaro, a memória do governo Lula. Tudo isso afeta. Afeta a formação das coligações, afeta o discurso e afeta as possibilidades e o tipo de comunicação adotado.

Carla Michele Quaresma - Há uma disputa presidencial que promete ser muito acirrada, gerando a necessidade de construção de palanques locais. Muito provavelmente o presidente Bolsonaro será o candidato à reeleição e ele conta com o apoio, no Ceará, do Capitão Wagner, que tem um desafio muito grande de trabalhar sua independência, já que o presidente não consegue alavancar números de popularidade no Ceará e nos principais estados nordestinos.

A relação entre Bolsonaro e Capitão Wagner enfrenta altos e baixos desde a posse do presidente
Legenda: A relação entre Bolsonaro e Capitão Wagner enfrenta altos e baixos desde a posse do presidente
Foto: Thiago Gadelha

Talvez essa aliança do Capitão Wagner com o presidente Bolsonaro seja mais vantajosa, renda mais frutos, mais capital simbólico, para o presidente. E, em relação ao candidato da situação, existe, também, um desafio enorme, porque o governador Camilo Santana soube lidar com diplomacia com essa aliança entre PT e PDT. E, caso as agremiações apresentem candidaturas a presidente da República e caso essa aliança seja mantida no Ceará, o próximo candidato vai ter que se equilibrar nessa corda bamba e conseguir desenvolver sua campanha sem essa relação imediata com o candidato a presidente da República, pelo menos no primeiro turno.

Emanuel Freitas -  Primeiro, (vai interferir) com a presença de Ciro Gomes, porque afeta a montagem da chapa governista, que terá Camilo Santana como candidato a governador e um outro nome para o Governo, provavelmente do PDT. Na oposição bolsonarista, isso está resolvido, ela é anti-Ferreira Gomes e anti-PT, já na chapa governista tem essa dubiedade de ter dois candidatos à Presidência.

Desafio de Camilo Santana começa dentro do próprio partido, o PT, que diverge sobre candidatura própria ao Governo
Legenda: Base de Camilo Santana tem lidado com divergências internas no PT sobre aliança com PDT
Foto: Reprodução

A segunda forma que afeta é a contraposição entre a forma como Bolsonaro e Camilo conduziram o enfrentamento da pandemia. Outra forma é a inauguração de obras de infraestrutura feitas por Bolsonaro, mas que foram iniciadas ainda no Governo do PT, como a Transposição, viadutos, o Anel Viário, enfim.

Vai afetar também a agenda que será mobilizada pelo Bolsonaro, como ideologia de gênero, comunismo, punições mais severas contra bandidos, isso vai reverberar também aqui. E uma última forma é a candidatura de Moro no Ceará, se ele crescer, terá Eduardo Girão como candidato, então não podemos desconsiderar.DN

Sobre o autor

Adicione aqui uma descrição do dono do blog ou do postador do blog ok

0 comentários:

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
.
Voltar ao topo ↑
RECEBA NOSSAS ATUALIZAÇÕES

© 2013 IpuemFoco - Rádialista Rogério Palhano - Desenvolvido Por - LuizHeenriquee