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sábado, 8 de maio de 2021

GENERAL TEME A FOGUEIRA DA CPI

Por ipuemfoco   Postado  sábado, maio 08, 2021   Sem Comentários

 


Eduardo Pazuello foge do depoimento na CPI e tem medo de ser abandonado por Bolsonaro, virando o bode expiatório da crise. Já o Exército teme ser associado aos erros do ex-ministro.

O início dos depoimentos da Comissão Parlamentar de Inquérito, na última terça-feira, emparedou ainda mais o governo. O ponto crucial seria a presença de Eduardo Pazuello, um dia depois, mas o ex-ministro fugiu da convocação, alegando que havia tido contato com dois coronéis que estão com Covid-19. 


Fez isso apesar de ter passeado poucos dias antes sem máscara em um shopping de Manaus. Um deles seria Elcio Franco, ex-secretário-executivo de Pazuello, que costumava dar entrevistas ostentando um broche com o símbolo de uma caveira. Ninguém no Congresso acreditou nessa versão. 


O episódio foi mais um vexame do general, que temia ser inquirido sobre suas omissões na pandemia. Ao invés de aproveitar a oportunidade para prestar contas de suas ações, “meteu um atestado”, como faria um estudante relapso que não se preparou para a prova.


Havia razão para a apreensão. Ao contrário dos dois antecessores na pasta, Pazuello abraçou as teses negacionistas do presidente. Fez o que ambos haviam recusado. 


Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, em seus depoimentos, deixaram claro que havia um “gabinete paralelo” agindo à revelia do Ministério da Saúde. Estabeleceram o roteiro da ação irresponsável. 


A face mais visível e trágica foi a adoção da cloroquina, medicamento sem eficácia contra o coronavírus. Mandetta deu as pistas para a responsabilização do presidente, apontando um esboço de decreto que circulou no Planalto para modificar a bula do remédio. 


Também apresentou uma carta enviada ao mandatário em março de 2020, em que alertava para o risco de escalada de mortes. Quando Mandetta saiu, menos de dois mil brasileiros tinham perdido a vida. 


Hoje, são quase 420 mil. Teich lembrou que tentou criar um protocolo baseado em testagem e distanciamento, mas não teve autonomia. “Pedi demissão pelo pedido específico de uso da cloroquina. Foi o fator determinante”, disse.

Apavorado

Já Pazuello abraçou as teses de Bolsonaro de bom grado, na base do “um manda, outro obedece”, declaração lapidar que definiu sua gestão, em outubro, quando recusou a compra da Coronavac. Ele deve responder pela negligência na compra de imunizantes. 


Também precisará justificar o colapso em Manaus em janeiro, quando acabou o oxigênio. Ainda deve explicar sua declaração sobre pedidos de “pixulé” (propina) que teria ouvido no Ministério, quando estava de saída. É uma ironia. As CPIs servem para obter indícios de crimes. Nessa, há excesso.


Isso apavora o general. Seu comportamento irascível e impositivo contribuiu para desmontar a coordenação nacional e desmobilizar esforços. Ele não tem a compreensão do papel da imprensa, como demonstrou em bate-bocas com repórteres, e mostra-se desconfortável com a obrigação de justificar seus atos. 


Isso pode ser um problema ao se apresentar em uma CPI. Os senadores governistas tentaram dispensar o depoimento presencial. Por videoconferência, Pazuello poderia ser orientado discretamente. O plano não deu certo. No final, deverá comparecer no dia 19. 


Terá duas semanas para criar coragem. E ela será necessária. Ao invés de fazer preleções para recrutas despreparados, como é comum na caserna, o general vai encarar um pelotão de senadores com mandato popular e poder legal de dar voz de prisão.


Além do risco de uma apresentação desastrosa, Pazuello teme ser abandonado por Bolsonaro e tornar-se o bode expiatório da crise. É um risco real. Até o momento, está abrigado no Palácio do Planalto, mas sem um cargo que lhe garanta imunidade. O presidente, que nunca mostrou lealdade a antigos aliados, apenas aproveita a sua condição de general da ativa para associar as Forças Armadas ao seu governo. 


Por isso mesmo, Pazuello tornou-se um problema também para os militares, que tentam se dissociar da agenda autoritária do presidente. Há ainda o trauma da demissão recente do ministro da Defesa e dos chefes das três forças. No Exército, mesmo os generais que já apoiaram fortemente Bolsonaro acreditam que Pazuello tem tentado adiar ao máximo participar da CPI. 


O novo comandante do Exército, general Paulo Sérgio, teve o cuidado de conversar com o presidente da CPI, senador Omar Aziz, para se assegurar de que Pazuello não falaria na condição de militar, mas de civil. Havia até o temor de que aparecesse fardado. Aziz concordou, e ressaltou publicamente que o colegiado não pretendia expor a instituição. É uma situação difícil para o Exército, cada vez mais enredado no bolsonarismo.


A atuação da tropa de choque do governo na CPI tem sido pífia. Sem coordenação ou linhas de defesa convincentes, em vários momentos ela tentou ganhar o debate no grito, como aconteceu no depoimento do atual titular da Saúde, Marcelo Queiroga, na quinta. Já Mandetta, experiente, desmascarou a estratégia mambembe do ministro das Comunicações, Fábio Faria, que mandou por engano a ele uma das perguntas a serem feitas pelo senador bolsonarista Ciro Nogueira. 


Os governistas não conseguiram tirar o governo das cordas. No final, o colegiado acabou aprovando a convocação do ex-titular da Secom, Fábio Wajngarten, e do ex-chanceler Ernesto Araújo, que serão questionados sobre o fiasco na compra de imunizantes. 


Wajngarten poderá reafirmar que a vacina da Pfizer não foi adquirida por “incompetência e ineficiência” da gestão Pazuello, como já declarou para se isentar da responsabilização na crise. Araújo tentará argumentar que não atrapalhou as negociações para a vinda de imunizantes da China.


As trapalhadas governistas não aconteceram apenas no ambiente da CPI. Bolsonaro tentou desviar a atenção dos depoimentos aparecendo em um evento no Planalto. Voltou a fazer ameaças golpistas. 


“Nas ruas já se começa a pedir que o governo baixe um decreto. Se eu baixar, vai ser cumprido”, disse. Ele se referia a um instrumento jurídico inexistente, capaz de anular a decisão do STF que reafirmou a autonomia de governadores e prefeitos para adotar medidas restritivas como lockdowns. “Não ousem contestar”, disse num recado ao Supremo.


Na prática, Bolsonaro quer colocar o Exército na rua para governar sem as “amarras” do Congresso e do STF. Uma definição clássica de golpe, que voltou a ser invocado nas manifestações bolsonaristas no fim de semana anterior. 


O presidente também insinuou de forma irresponsável que o coronavírus foi criado numa “guerra biológica” em laboratórios da China. Uma acusação especialmente infeliz quando o Brasil luta desesperadamente para receber os insumos chineses que ajudarão a salvar vidas. 


O deputado Fausto Pinato, aliado do governo que lidera a Frente Parlamentar Brasil-China, chegou a questionar a sanidade mental do presidente. Mas há método nessa loucura. Sempre que está acuado, Bolsonaro faz ameaças e saca teorias conspiratórias para desviar a atenção e mobilizar os fanáticos digitais. 


Pela mesma razão, seu filho Carlos Bolsonaro foi chamado a Brasíla para “calibrar” o discurso oficial e energizar o gabinete do ódio. No fim, Eduardo Araújo não precisa se preocupar com o seu comparecimento à CPI. 


Qualquer investigação séria busca apurar a “cadeia de comando”, ou seja, os responsáveis finais por algum crime. Nesse caso, o ex-chanceler nem precisará apontar quem é o pivô da falta de vacinas. Ele já se apresentou espontaneamente.

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