"Para cada um desses confirmados deve ter um número de não confirmados", disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
"A gente trabalha sempre só com uma parte de informação, como se fosse um iceberg"
"A gente trabalha sempre só com uma parte de informação, como se fosse um iceberg"
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que existem mais casos de coronavírus no Brasil do que o que vem sendo registrado. Em entrevista coletiva online à imprensa, nesta quinta-feira (19), Mandetta ressaltou que alguns estados que não registraram o vírus ainda, podem já ter infectados. O governo já havia informado que os testes seriam realizados apenas em casos mais graves.
Além disso, pessoas assintomáticas e com gripes leves estão sujeitas a não serem contabilizadas.
“Tem muitos casos que estão acontecendo, se você pegar os casos suspeitos, que nem fizeram teste. A gente só sabe os casos graves e os que falecem. Para cada um desses confirmados deve ter um número de não confirmados. A gente trabalha sempre só com uma parte de informação, como se fosse um iceberg. Estamos vendo a ponta do iceberg, mas aqui em embaixo tem muito mais casos", disse o ministro.
Governo não segue recomendação da OMS para testes de coronavírus
A recomendação de testar todos os casos suspeitos é da Organização Mundial da Sáude (OMS), mas o governo brasileiro já havia informado que não seguiria essa prática. Nesta semana, o ministro chegou a criticar a recomendação da OMS.
“(...) O presidente da Organização (Mundial da Saúde) Tedros (Adhanom Ghebreyesus), ele coloca que todo o planeta deve fazer o teste em 100% das pessoas. Primeiro, isso do ponto de vista sanitário é um grande desperdício de recursos preciosos para as nações", disse Manetta.
A médica epidemiologista e professora da Universidade Federal de Santa Catarina, Eleonora d’ Orsi, afirma que, nos casos com sintomas mais leves, é preciso buscar atendimento online ou por telefone, nos canais oferecidos pelos governos locais.
Ela ressalta que, neste momento, a diminuição dos investimentos em saúde precisa ser revertida e o Sistema Único de Saúde (SUS).
“O momento chama atenção para a necessidade de maiores investimentos na saúde. Acho que isso está ficando bastante claro para a sociedade como um todo e para o governo. O Brasil tem uma grande vantagem que é ter um sistema único em nível nacional. Mas esse sistema de saúde está sendo subfinanciado", afirma a médica epidemiologista.
Para diminuir o número de casos e conter o avanço da doença, Eleonora d’ Orsi afirma que é fundamental que sejam investidos recursos principalmente nas áreas de vigilância e prevenção.
"Ele (SUS) realmente precisa que sejam feitos todos os investimentos, especialmente na área de vigilância e na área de prevenção. É isso que vai fazer com que a gente tenha menos casos. Tendo menos casos, a gente vai sobrecarregar menos o nível terciário de atendimento, que são os hospitais e as UTIs. Que também precisam, claro, de reforços, mas sempre que se investe mais na prevenção você consegue poupar recursos para os níveis mais caros e mais restritos do sistema de saúde", aponta.
Eros Davi Bittar, médico com formação na Escola Latinoamericana de Medicina de Cuba e que atua na área de saúde da família, afirma que já era esperado que o Brasil não conseguiria acompanhar os números totais do coronavírus no país.
“Como o vírus agora penetrou no nosso país, era esperado que isso fosse acontecer cedo ou tarde. Mas com certeza, você congelar gastos por vinte anos elimina as respostas a possíveis catástrofes", aponta.
Do ponto de vista prático, Bittar considera que, testando ou não, as medidas de isolamento são a maneira mais eficaz para tentar conter a expansão da infecção pela doença, que agora é comunitária.
"Não mudaria muita coisa o assintomático saber que tem o vírus, porque o isolamento social tenta mitigar esse caso do assintomático. Se você coloca a infecção em um gráfico, você tem um surgimento exponencial de casos em um curto espaço de tempo. A ideia de isolar as pessoas, além de reduzir o número de casos, aumenta o tempo em que essa transmissão ocorre. Isso permite que os sistemas de saúde consigam absorver com mais equilíbrio à demanda", ressalta.
Para dar conta da demanda, o governo promete aumento na produção de testes. A Fundação deve entregar mais 40 mil unidades até abril e já disponibilizou 30 mil ao sistema. Segundo o Ministério da Saúde, a Fiocruz se comprometeu a produzir mais de um milhão de testes nos próximos quatro meses.2/47
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