Pages

sexta-feira, 15 de março de 2019

A PAX POLÍTICA DE BOLSONARO

Por ipuemfoco   Postado  sexta-feira, março 15, 2019   Sem Comentários


No rebotalho das negociações, o presidente Bolsonaro dá claros sinais de estar arrefecendo os ânimos e focando no que realmente interessa: a conclusão da reforma da Previdência. 

Parece ter compreendido a exata dimensão do que o projeto representa não apenas sobre a vida dos brasileiros como para o futuro de seu próprio governo. Diga-se, de passagem, que nessa terra maniqueísta medrava implacavelmente em diversas cabeças a convicção de que o presidente não daria a devida importância ao tema. 

Ledo engano. Bolsonaro, desde o fim das folias de Momo, é outro homem. Conversa ativamente com os setores envolvidos no assunto. Chama para acertar demandas dos interlocutores e parlamentares e tenta afinar detalhes. Não se exime sequer de ações coordenadas de comunicação para manifestar a importância da votação que está em jogo. Encarnará – e já se convenceu disso – o papel de verdadeiro marqueteiro da reforma. 

Já não era sem tempo. Nos almoços, convescotes e reuniões fechadas com os interlocutores manifesta uma linha diferente da que vinha adotando até aqui, menos belicosa, mais em harmonia com os anseios gerais. Mesmo a imprensa, que tem sido tratada aos pontapés pelo mandatário nos últimos tempos, foi chamada ao quadrilátero do Planalto para dois seguidos cafés da manhã ao lado dele, nos quais o ponto alto foi a simpatia e bom humor do anfitrião – afável, receptivo e esclarecedor, como cabe a quem comanda e deve conduzir um desafio dessa natureza. 

Bolsonaro tem lembrado insistentemente da encruzilhada que desponta pela frente: ou virá a reforma ou será o caos. Traça alguns caminhos para alcançá-la. Não é mais aquele político arredio de campanha que se negava a entabular acordos partidários ou a liderar entendimentos com políticos adversários. 

Nessa fase de conciliação, abriu o cofre. Estima-se em mais de R$ 1 bilhão, em emendas orçamentárias, o tamanho do caixa que será usado para convencer os arredios. Bolsonaro, que conheceu o radicalismo por trás da resistência dos opositores, soube se inspirar nas lições do pacto de interesses que, em geral, move todos em um mesmo sentido. 

O presidente não é um iluminado da práxis, um talento aglutinador. Mas, como convém a um restaurador da ordem, com sua mirada de ex-capitão de tropa, está tentando, nos últimos dias, com visível esforço, exercer a condição de maestro do entendimento, sem se melar na manteiga rançosa do clientelismo barato. Ele recusa-se a misturar apoio com barganha fisiológica. 

Diz que jamais exercerá a liderança de resultados para proveito e interesse próprios. Mas sabe que o destino da Nação tem acordes específicos nessa reforma que está posta à mesa. Se a história promete fazer-lhe justiça, essa está completamente penhorada na consagração de um novo regime de aposentadorias que abrande, de vez, parte considerável das despesas orçamentárias. 

Na contabilidade fria dos congressistas a favor e contra o projeto encaminhado ainda falta um bom lote de simpatizantes para se chegar ao número mágico de 308 votos mínimos para o aval na Câmara. O ideal, todos sabem, é ir à plenária com uma margem extra de até 20 votos. 

Tempos atrás, o então presidente Fernando Henrique colocou para votar um projeto semelhante, imaginando estar com o quórum garantido, e saiu de lá derrotado por apenas um voto. É uma transformação considerável em jogo que pode se esvair por tão pouco. 

De outro lado, analistas são unânimes em dizer que existe quase nada da reforma para desidratar. O economista Alexandre Schwartsman, por exemplo, lembra que no atual patamar dos cortes propostos, sem retirar nenhum dos itens do que foi encaminhado, o gasto previdenciário deverá seguir em linha com o crescimento do PIB. 

Qualquer economia a menos vai praticamente implodir com o orçamento, mais cedo ou mais tarde. O czar da Fazenda, Paulo Guedes, deseja uma tesourada da ordem de R$ 1 bilhão em 10 anos. Há quem fale que ela ficará na faixa de R$ 700 milhões.

Nesse cabo de força, o ponto de inflexão mais importante tem sido, no entanto, o que se pode chamar de conversão de Jair Bolsonaro a um tipo de postura mais moderada. E isso fará a diferença. O presidente é capaz, com os argumentos certos, de trazer para as suas hostes uma série de deputados que até aqui se mostravam descontentes com o tratamento recebido do Executivo. 

Muitos desejam somente o afago de um encontro, de uma conversa tetê-à-tête com o chefe da Nação. Querem entregar a sua contribuição, sentirem-se participantes do processo. No jogo de parte e reparte, serze e descostura, a mudança na Previdência é uma entrega inescapável na agenda e ela depende da articulação. 

Que bom que a virulência oficial de ataques a esmo foi substituída pelo diálogo. Ninguém padecerá de um único e escasso arrepio de dúvida sobre a importância da reforma da Previdência – caso ela venha a ser bem explicada e defendida. 

Nem entre os mais vetustos “esquerdopatas”, rivais de Bolsonaro, que tenham um pingo de compromisso com o futuro do País, será possível encontrar resistência. Afinal, até eles, lá atrás, defenderam ideia semelhante. Resta agora serem arregimentados para as fileiras da “pax” presidencial, em favor do bem comum.CARLOS JOSÉ MARQUES

Sobre o autor

Adicione aqui uma descrição do dono do blog ou do postador do blog ok

0 comentários:

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
.
Voltar ao topo ↑
RECEBA NOSSAS ATUALIZAÇÕES

© 2013 IpuemFoco - Rádialista Rogério Palhano - Desenvolvido Por - LuizHeenriquee