"Não sabíamos de nada, foi uma surpresa. O prefeito nos contou há poucos dias", confessa Emilio Bolzonaro, diante de sua residência em Via Canareggio, a poucos metros das extensas planícies onde seus antepassados foram simples camponeses sem terra.
"Aqui temos os registros de batismo desde 1630. Olhe, aparecem vários Bolzonaro", indica o padre de Anguillara Veneta, Claudio Minchelotto, que administra na igreja de Sant' Andrea os volumes antigos de documentos, escritos a mão e com as datas de nascimento.
"Este é o registro de batismo de Vittorio Bolzonaro, nascido em 12 abril de 1878", destaca o religioso ao indicar aquele que, segundo alguns historiadores, é o bisavô de Jair Bolsonaro.
O "Salvini carioca"
O braço dos Bolzonaro com "z", que observou a transformação em um século da região, que passou de uma terra de pobreza e emigração para a América Latina a uma das mais ricas e desenvolvidas da Itália, pouco sabe a respeito das ideias políticas de Jair Bolsonaro, de seu discurso considerado misógino, homofóbico e racista, além da defesa da ditadura militar.
Nenhum deles fala sobre o tema, pois se consideram progressistas, apesar da região ser um reduto do partido de extrema-direita Liga.
O governador de Veneto, o político de ultradireita Luca Zaia, anunciou esta semana comemorações em caso de vitória no domingo daquele que chamou de "Salvini carioca", por sua proximidade ideológica com o vice-premier e ministro do Interior italiano Matteo Salvini, atualmente o homem forte da Itália e conhecido por sua política contra a imigração.
"Aqui não festejaremos em caso de vitória de Jair no Brasil. Recebê-lo sim, estamos sempre a favor da acolhida", afirmou Luigi Polo, prefeito de Anguillara Veneta (8.000 habitantes), de 65 anos, formado em Física e apaixonado por História.
"Em Veneto por seis séculos só tivemos arrendatários da terra e por isto se desenvolveu a mentalidade de luta. Também houve muita miséria, as inundações provocavam carestia", conta Polo em referência aos camponeses sem terra desta região italiana.
O prefeito colaborou com o livro "Voltar a nos ver na América", de Franco De Checchi, sobre os emigrantes que partiram de Anguillara para a América, um verdadeiro êxodo.
"Daqui saíram muitos Bolzonaro para o Brasil, sobretudo a partir de 1886, para trabalhar nas plantações de café e substituir os escravos recém libertados", explica.
Nos arquivos da prefeitura estão as certidões de nascimento, entre elas a de Angelo Bolzonaro, "casado com Remo Francesca, que partiu em 22 de abril de 1888", segundo o prefeito.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que entre 1876 e 1920 um total de 365.710 imigrantes da região de Veneto chegaram ao Brasil.
Praticamente todos os moradores têm algum parente ou conhecido que emigrou para o Brasil.
E nunca imaginaram que um deles estaria a ponto de tornar-se presidente, apesar de suas ideias "exageradas", como reconhecem os parentes distantes.EM.COM.BR
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