Sob a abóbada revestida por imagens da Virgem Maria e do menino Jesus, até o padre parece aturdido pelo cenário político.
“Neste 7 de setembro, temos dois eventos importantes: o dia de Nossa Senhora do Rosário e as eleições.”
Atentos ao engano de datas, os fiéis da paróquia Nossa Senhora da Paz, frequentada pelo vice-candidato general Mourão em Ipanema, não demoraram a corrigi-lo. Sem se abalar, o sacerdote continuou a falar com indisfarçável preocupação:
"A gente pede a Deus que as pessoas possam manifestar a verdade de suas consciências dada a dramaticidade do momento." Para a fiel Regina Lúcia Felizardo, de 68 anos, manifestar essa verdade é votar em Jair Bolsonaro (PSL).
De acordo com ela, é essencial derrotar Fernando Haddad (PT) nas urnas para que país volte à normalidade. “Primeiro, [é preciso] tirar um partido que acabou com o Brasil. Neste caso é o PT. Nós temos hospitais falidos, nós não podemos sair de casa à noite. E também tem a questão católica. Eu fui criada desde pequenininha com as coisas corretas.”
Para ela, a programação televisiva não respeita os valores da família, e pautas como a descriminalização do aborto atentam contra a vida. “Vi no WhatsApp uma enfermeira que fez o aborto apertando a criança. Fico até embrulhada. Então, para mim, é um crime. Não sou a favor.”
Aos olhos da aposentada, Bolsonaro pode ser uma alternativa ao petismo e pode recuperar os valores tradicionais que lhe são tão caros. Para ela, um sinal da importância de Bolsonaro são as supostas tentativas de tirá-lo da disputa eleitoral. “Acho que ele é um homem que tem peito. Ele fala de peito aberto. Se eu te xingar, é capaz de você ficar calado. Mas ele não. O Bolsonaro vai lá e fala”, comentou, referindo-se às polêmicas protagonizadas pelo capitão da reserva.
Ela lembrou ainda que muitos têm buscado Portugal como um refúgio dos problemas econômicos e sociais do Brasil. “Sou louca para ir, mas não posso”, disse ela, que é neta de portugueses.
Sentado ao lado de Regina, Geraldo Felizardo fez coro à opinião da esposa e salientou que, com algumas exceções, grande parte dos presidenciáveis envolveu-se em esquemas de corrupção.
“A gente não deve julgar ninguém, mas é preciso defender o que é certo e estar empenhado para que as crianças possam respeitar a família.” Quando o assunto foi união homoafetiva, Felizardo não escondeu a contrariedade.
“Eu só digo uma coisa: o homem foi feito para a mulher; a mulher para o homem. Então acho que Deus não abençoa nada disso aí. E o casamento entre o homem e a mulher é abençoado por Deus. Esse é meu entendimento.”
Maria Leda Ferreira Trindade, de 62 anos, também tem a mesma visão sobre a união homoafetiva, mas, ao contrário do casal, não pretende votar em Bolsonaro. Em suas palavras, o Brasil só conseguirá sair da polarização política com a vitória de um candidato que atenda à demanda de todas as classes sociais, do rico ao pobre.
E, para ela, esse presidenciável é Ciro Gomes. “Ele é o mais preparado entre todos os candidatos”, resumiu Trindade. A médica aposentada, no entanto, disse ter ficado decepcionada quando Gomes supostamente teceu críticas à moral católica em uma palestra da Universidade de Oxford.
“Por [Ciro Gomes] ser católico, acho que deveria ter uma ênfase menor nesta parte. Ele poderia ter falado com outras palavras, porque o que a Igreja faz não é algo que vem dela ou dos padres, e sim algo que vem de Deus. A Igreja apenas cumpre.”
Para ela, as críticas de que a instituição estaria defasada não correspondem à realidade. “Não é a Igreja que deve se adequar ao mundo. O mundo deve se adequar a ela.”
Além disso, Trindade enxerga que a divisão do país entre esquerda e direita pode gerar prejuízos à democracia. “Em minha formação, busco a misericórdia, e a misericórdia não é apenas para a direita. É para a esquerda também”, comentou a aposentada, que na juventude foi admiradora do comunismo.
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