CHACINA; " VAI DIZER QUE FOI UM FATO ISOLADO?"

Familiares estiveram no Instituto Médico Legal (IML) na manhã deste sábado, 10, para reconhecer e assinar a liberação dos corpos dos mortos na chacina do Benfica, ocorrida na noite de ontem. 

Foram sete vítimas fatais no massacre - o quarto no Ceará em três meses. Os ataques aconteceram em três locais diferentes do bairro. 

Emilson Bandeira de Melo Júnior, 27, estudante, estava apenas de passagem pela rua Senador Pompeu quando foi atingido por disparos. Ele foi socorrido no Instituto Doutor José Frota (IJF), mas acabou falecendo. “Ele (secretário) vai dizer que foi um fato isolado agora?”, questionou um parente da vítima, que pediu para não ser identificado. 

A frase se refere sobre o posicionamento do secretário da Segurança do Estado, André Costa. À época da chacina das Cajazeiras, Costa julgou a ocorrência como um "fato isolado" e disse estar tudo "sob controle".

O parente ainda comentou sobre a atuação do Estado na crise que a segurança pública vive. 

“O Estado está alheio, tampando o sol com a peneira. O dever do Estado é proteger as vidas, mas perdeu o controle e não nos resguarda. Perdi meu irmão para a violência, estou com meu coração sangrando. Não é um caso isolado. Eram pessoas no momento de lazer", desabafa. 

Carlos Victor Meneses, 22, foi para um churrasco depois de uma tarde na praia e terminou o dia sem vida, em frente à sede da Torcida Uniformizada do Fortaleza (TUF), na Vila Demétrio. 

"Ele era fanático pelo Fortaleza, não era envolvido com nada errado. Tinha ido à praia surfar e eu até disse: ‘vai nem tomar banho não? Vai salgado?’. Aí ele: ‘vou assim mesmo, é um churrasco ali. Volto já’. E não voltou”, desafabou uma conhecida de Carlos. O velório deve acontecer na escola Menino Jesus de Praga.

Uma das vítimas fatais da Praça da Gentilândia, Antônio Igor Moreira e Silva, 28, estava na calourada que ocorreu na Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará (UFC) com a namorada. Uma testemunha relata que a namorada correu após os primeiros tiros pensando que Antônio estava logo atrás. 

“Eram três caras armados, espalhados. Balearam ele na perna e voltaram para atirar na cabeça. Se não tivessem voltado pra dar esse tiro na cabeça dele, talvez tivesse uma chance, né?”, supõe a testemunha.

A vítima tinha passagem na polícia por posse de droga. Conforme um parente, Antônio era usuário de cocaína e já tentou se matar quando servia na Base Área. 

A família de Pedro Braga Barroso Neto, morto na rua Joaquim Magalhães, após criminosos se evadirem da sede da TUF, não quis se pronunciar. 

Familiares de José Gilmar Furtado de Oliveira Júnior, executado na Gentilândia, não quiseram falar e os entes de Joaquim Vieira de Lucena Neto, também vitimado na praça, e os de Adenilton da Silva Ferreira, que morreu no IJF, não foram encontados.