Na quarta-feira 10, Curitiba amanheceu como retrato do turbulento ambiente político brasileiro, de exagerada e desnecessária polarização. Batalhões policiais cercavam o prédio da Justiça Federal.
Bloqueios montados pela Polícia Federal interrompiam o tráfego nas rodovias que dão acesso à capital do Paraná. Imaginava-se uma guerra, um embate nada metafórico entre os apoiadores de Lula e os defensores do juiz Sergio Moro e da Lava-Jato. Felizmente, prevaleceu a civilidade num momento seminal da recente história política brasileira.
Não houve confusão. Para seguir e explicar tudo o que ocorria em torno do depoimento do ex-presidente acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no episódio do já famoso tríplex do Guarujá, VEJA pôs boa parte da redação da revista e do site de prontidão.
Ao repórter Felipe Frazão, 30 anos, coube uma das melhores sensações na vida de um jornalista — ver tudo de muito perto, de modo a poder escrever o mais completo e cuidadoso relato de suas impressões e descobertas.
Encarregado de acompanhar as manifestações a favor de Lula, ele embarcou num ônibus alugado pela CUT em Brasília, percorreu 1 400 quilômetros de estrada, dormiu no acampamento montado pelo MST em Curitiba e conviveu durante 24 horas com trabalhadores rurais, estudantes e militantes que se deslocaram ao Paraná para engrossar a legião de pouco mais de 5 000 pessoas que se reuniram para bradar o nome do ex-presidente, segundo estimativas da Polícia Militar.
Frazão conheceu uma parte do que resta da “base de apoio popular de Lula” — os “mortadelas”, como são chamados, em virtude do sanduíche que lhes é oferecido, em oposição aos “coxinhas”, do outro lado.
No acampamento, o repórter encontrou muitos fãs convictos de Lula, mas também ativistas que disseram estar ali porque são obrigados pelo MST a comparecer a esse tipo de manifestação e gente que foi a Curitiba para ganhar algum dinheiro vendendo comida.
Na madrugada de quarta-feira, quando estavam acordados apenas os militantes do MST que faziam a vigilância do local, o silêncio foi quebrado por várias explosões em sequência. “Parecia um bombardeio aéreo”, lembra Frazão. Eram rojões que estavam sendo disparados sobre o grupo. Investiga-se ainda sua origem.
Um dos artefatos caiu a exatos 30 metros da barraca do repórter, atingindo um professor que dá aulas a crianças nos assentamentos do MST. Ele teve um braço queimado.
O militante petista Marcos Cavaçani chegou animado. “É aqui o Expresso Revolução?”, perguntava, em tom efusivo, aos companheiros que já se acomodavam no ônibus para enfrentar os 1 400 quilômetros de estrada entre Brasília e Curitiba. Era noite de segunda-feira.
Os organizadores da parcela brasiliense da caravana montada para acompanhar o interrogatório do ex-presidente Lula pelo juiz Sergio Moro combinaram como ponto de partida o estacionamento de um hotel na região central da cidade, nas proximidades da Esplanada dos Ministérios.
Alugado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) por 17 500 reais, o “Expresso Revolução” era um bom ônibus, daqueles de dois andares, com poltronas que se transformam em confortáveis camas. Entre os passageiros havia funcionários públicos, assessores de políticos, sindicalistas e estudantes. Em comum, o propósito de “evitar a prisão de Lula”.
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