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domingo, 1 de novembro de 2015

UM BASTA AO ASSÉDIO; MULHERES QUEBRAM O SILÊNCIO

Por ipuemfoco   Postado  domingo, novembro 01, 2015   Sem Comentários


Em cinco dias, foram 82 mil relatos curtos, surpreendentes e revoltantes. Motivadas pela campanha “primeiro assédio”, criada por uma ONG em resposta a comentários abusivos sobre uma participante de 12 anos do reality culinário “Masterchef Junior”, da Band, usuárias do Twitter compartilharam suas histórias, muitas delas pela primeira vez depois de décadas, entre os dias 21 e 25 de outubro. 

Mas o movimento que tomou as redes sociais há duas semanas claramente não se limita a elas. Canais oficiais de denúncia, como a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) e o serviço de SMS do Metrô de São Paulo, registraram aumentos significativos nos atendimentos de 2014 para cá (leia no quadro ao lado). 

Especialistas apontam ainda que há mais registros de casos de violência contra a mulher principalmente porque as vítimas se sentem encorajadas para falar agora. A ligação entre a movimentação na internet e as estatísticas se tornou evidente nos últimos dias: silenciar os abusos deixou de ser a primeira opção.

“Há um aumento de políticas públicas para que as queixas possam ser feitas, desde o trabalho de assistência social que acolhe as mulheres até mudanças na própria legislação, como no caso da Lei Maria da Penha”, afirma a socióloga Jacqueline Pitanguy, membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, ligado ao Ministério da Justiça. 

Ana Gabriela Mendes Braga, professora de direito penal da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), também acredita que a população feminina está mais consciente, apesar de a legislação de amparo às vítimas não ter reduzido o número de casos.

“Em se tratando de comunicar o problema, está havendo um suporte maior.” Professora da Universidade de São Paulo (USP) e fundadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero, Eva Blay considera que falar publicamente e em conjunto também é fundamental para o que a ideia da naturalidade do assédio seja quebrada. 

“Somos assediadas desde crianças e mal falamos sobre isso. Agora, quando uma mulher apóia a outra, nos encorajamos a reclamar.”
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As três pessoas que aparecem nas fotos desta reportagem afirmam que foi justamente a comoção coletiva, iniciada pela ONG Think Olga, que as fizeram falar publicamente sobre seus primeiros assédios. A designer e ilustradora Bruna Carvalho, 31 anos, até então só havia contado à mãe, aos 7 anos, que um homem em um carro se aproximou dela enquanto se masturbava. 

“Nunca mais falamos sobre isso”, diz. A professora universitária Renata Gomes, 40 anos, relatou que, aos 12, um sujeito a seguiu também enquanto se masturbava e que falou sobre isso pela primeira vez só 20 anos depois. Aos 15, um grupo de homens em um utilitário se aproximou dela, a agarrou e a ofendeu. “Tenho esperança que, com a campanha, muitas pessoas identifiquem um assédio que sofreram e nem se deram conta.” 

Já a estudante Jennifer Tainara Ribeiro dos Santos, 17 anos, viveu a violência dentro de casa. “Tinha 6 anos, o primo do meu pai mostrou o pênis e pediu para eu fazer sexo oral em troca de um doce.” Mas outra experiência de abuso viria acontecer com Jennifer, como no caso de tantas outras brasileiras, anos depois. 

Há quatro meses, foi estuprada por um homem que a fez descer de um ônibus no caminho para casa. “Minha situação psicológica foi se agravando, entrei em depressão e tentei suicídio”, diz. Dias depois, ao passar mal, um médico lhe pediu um exame de gravidez, que deu positivo. Optou pelo aborto legal, válido em casos de estupro. Conta que ainda hoje tem pesadelos e faz acompanhamento psiquiátrico.
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Se nesses últimos dias percebe-se um avanço na luta contra a violência feminina, ainda há muitos focos de retrocesso, inclusive na Câmara. Aprovado na quarta-feira 21 pela Comissão de Cidadania e Justiça (CCJ), o projeto de lei 5069/13, de autoria do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é visto como um vergonhoso recuo ao exigir que a vítima faça um exame de corpo de delito para comprovar o abuso. 

“A legislação que está em vigor hoje respeita os direitos humanos e a saúde pública. Mudar isso tornará o caminho ainda mais difícil para a mulher, que terá vergonha e medo de ir a uma delegacia falar sobre a violência que sofreu. É um passo para trás em relação ao que já foi garantido”, afirma Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil.ISTOÉ

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