A saudade da Inês tem nome: Salomão. De tudo, ficou o reconhecimento dos pedaços mais bonitos da história, mas também a dor pela forma com que lhe tiraram a vida, há cinco anos. No Dia de Finados, os fortalezenses, cada um a seu modo, encheram os cemitérios com lembranças, orações e flores.
Sozinha, quando falava baixinho a Salomão Barroso, Inês Lima Barroso, 56, pedia: “Se puder encontrar com Deus, peça ajuda para cuidar dos nossos filhos”. O marido era policial militar. Foi assassinado aos 42 anos quando fazia bico de segurança. O paninho que tirou a poeira da lápide, agora com um jarro de flores laranjas, no Parque da Paz, no Passaré, foi trocado pelo lenço que amparou as lágrimas.
Depois de dois anos, a foto temporária de Maria de Lourdes, já apagada pelo tempo, foi substituída por um novo retrato, mais fiel à serenidade pela qual ela é lembrada. “Minha tia era muito religiosa, generosa”, rememora o funcionário público Fernando Vieira, 52. Sabão, escova e tesoura eram parte do arsenal de cuidados que a família dedicou para a manhã da segunda-feira. Uma missão para Victor Hugo, 11, sobrinho de Natal que veio passar o feriadão em Fortaleza e ficou responsável pela mão de tinta que trouxe zelo ao espaço.
Os aplausos que se ouvia perto davam conta de uma despedida recente. Logo ali, a costureira Helena Maria Almeida, 65, cantava, uma homenagem aos sogros, mas também aos pais, enterrados em São Domingos, distrito de Caridade. “Cantar é rezar em voz alta. E esse momento, da despedida, faz parte da vida”.
Enquanto o arcebispo de Fortaleza, dom José Antonio Tosi, celebrava a missa na capela do cemitério São João Batista, no Centro, Aline Saraiva, 24, e outros missionários da comunidade Shalom levavam esperança aos que visitavam seus entes. “A experiência mais forte foi quando rezamos com um casal que perdeu o filho de um ano e oito meses - hoje um anjinho”.
Antes de montar a barraquinha com flores, velas e jarros na frente do cemitério São Vicente de Paula, no Mucuripe, a comerciante Maria das Dores Alves, 52, arrumou o espaço do irmão e sobrinho, enterrados ali. “Nunca deixei de lembrar deles”. Cada um sabe a saudade que carrega. E nem tudo se trata de compreender.
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