A opinião pública nacional vem acompanhando, há meses, a crise de legitimidade que se instalou na cúpula do Poder Legislativo, desde que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, foi denunciado, em agosto, pelo procurador geral da República por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Se já era insustentável moralmente sua permanência no cargo, a decisão tomada, ontem, pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), de aceitar pedido de abertura de investigação contra ele, baseado em informações sobre contas secretas do parlamentar na Suíça, depois de ele ter negado essa informação perante uma Comissão Parlamentar de Inquérito, tornou imperativa a sua remoção imediata do segundo cargo mais importante da República.
O constrangimento do País perante a comunidade internacional não precisaria ter chegado a esse ponto, se o segmento político brasileiro fosse ciente de suas responsabilidades e pensasse prioritariamente na Nação e no interesse público.
O próprio acusado deveria ter tomado a iniciativa espontânea de resignar do cargo, com o fito de cuidar da própria defesa e de resguardar a instituição, se se considerasse vítima de uma injustiça. Mas, essa já era considerada uma esperança vã, pelo seu histórico de envolvimento com acusações desse tipo. A natureza dos problemas que agora o implicam não tem, portanto, o sabor de novidade.
Causa pasmo é que, mesmo com a gravidade das acusações (de total domínio público), Cunha tenha sido erigido à condição de fiel da balança dos destinos do País, por grupos políticos interessados em alcançar seus próprios fins, na selvagem disputa política nacional em curso.
Para tanto, os que gravitam em seu entorno fizeram questão de fechar olhos e ouvidos para a gravidade das acusações, só aceitando, finalmente, abri-los por se tornar absolutamente inviável, perante a opinião pública, continuar a dar-lhe sustentação política.
Esse retrato de uma importante faixa da liderança política nacional, que não escolhe partidos, é a revelação mais doída e repugnante de todo esse escândalo vergonhoso.
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