SOB COMANDO DO SENADOR EUNÍCIO;PMDB INVIABILIZA ''JANELA'' PARTIDARIA

Sob comando do senador Eunício Oliveira, líder da bancada, o PMDB no Senado fechou questão ontem contra a proposta de “janela” que daria prazo de 30 dias para parlamentares trocarem livremente de partido, sem risco de perda de mandato. É numa definição que mexe com a política nacional, mas é recheada de ingredientes da luta pelo poder no Ceará.

A janela interessa diretamente ao grupo do ex-governador Cid Gomes, que acertou a saída do Pros para o PDT. Porém, os deputados e vereadores da legenda receiam a perda de mandato. 

Sem o voto dos senadores peemedebistas, a chance de a “janela” passar cai significativamente. A proposta integra a pacote de reforma política encampada na Câmara pelo peemedebista Eduardo Cunha.

O grupo Ferreira Gomes, porém, prepara a mudança mesmo que não haja janela. Para isso, negociaram carta de anuência do Pros, abrindo mão de reivindicar os mandatos. O que não é garantia nenhuma, pois o Ministério Público também pode requerer a cassação, quando o partido não o faz.

Além de atrapalhar os planos do grupo adversário, Eunício também fecha as portas para os peemedebistas que estão de saída do partido. Sobretudo, o deputado federal Danilo Forte, que anunciou ingresso no PSB.

MIGRAÇÃO DE VEREADORES EM FORTALEZA

A bancada do PMDB na Câmara Municipal de Fortaleza também periga se desfazer. O partido elegeu quatro vereadores em 2012 e tinha a maior representação do Legislativo em Fortaleza, juntamente com PT e PSC. Porém, pelo desenrolar das negociações, é bastante provável que apenas um vereador permaneça no partido de Eunício. Daí, ser natural que o senador encaminhe voto contra a “janela” para troca de partidos.

FORTALECIMENTO DA BASE DE ROBERTO CLÁUDIO

O prefeito Roberto Cláudio (Pros) tem uma das mais numerosas bases de apoio já reunidas na Câmara Municipal de Fortaleza. Seus articuladores contabilizam ao seu lado 39 dos 43 vereadores. Mas, uma coisa é o voto dos vereadores. Outra é a posição dos partidos na eleição do ano que vem. 

Por isso, o Palácio do Bispo tem estimulado parlamentares filiados a legendas potencialmente adversárias em 2016 a ingressarem em siglas da sua base aliada. O PMDB deve ser um dos mais desfalcados.

A NOVA TRAPALHADA

A coluna havia comentado, na semana passada, sobre a trapalhada do governo ao anunciar que não anteciparia o pagamento do 13º salário de aposentados. Diante das reações, a decisão foi revista. Ficou o desgaste gratuito para uma administração que já está profundamente fragilizada. A semana começou com outro episódio em que a gestão Dilma Rousseff (PT) prejudicou a própria imagem a troco de nada.

Ao longo da semana, ressurgiu a proposta de recriar um tributo nos moldes da CPMF. A ideia já havia sido apresentada pelo governador Camilo Santana (PT) à presidente no fim do ano passado, antes mesmo de ele tomar posse. Não foi adiante por um probleminha: faltou apoio para bancar a proposta.

Se não vingou quando Dilma acabara de ser reeleita e ainda não estava tão desgastada quanto hoje, era óbvio que agora não haveria condições políticas para criar mais um tributo. Dessa vez, a proposta não sobreviveu durante três dias.

A volta da CPMF seria a forma de cobrir o rombo de R$ 30 bilhões no orçamento para o ano que vem. Porém, sem condições políticas para aprová-la, seria apenas o que se mostrou: desgaste inútil para um governo que já está fraco. 

Tem faltado à presidente e seu entorno não apenas discernimento para tomar as melhores decisões. O Planalto carece igualmente de habilidade política para conduzir essas decisões.Érico Firmo/OPOVO