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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

POLÊMICA; DRA SILVANA."NENHUM CRISTÃO PODE SER HOMOFÓBICO"

Por ipuemfoco   Postado  quarta-feira, setembro 09, 2015   Sem Comentários

A polêmica faz parte do dia-a-dia de Silvana Oliveira de Sousa. Dra. Silvana (PMDB), como ficou conhecida pelos 41.449 eleitores que lhe concederam uma cadeira na Assembleia Legislativa do Ceará, em 2014, é figura central em discussões acirradas envolvendo família, religião, direitos LGBT e feminismo. 

Em entrevista ao Ceará247, a deputada, evangélica da Assembleia de Deus, explicou porque é contra a inclusão da questão de gênero no Plano Estadual de Educação e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, comentou a rejeição de seu nome para a Comissão de Direitos Humanos e fez duras críticas ao STF por reconhecer como família as relações homoafetivas. 

“Se entender que o STF pode fazer leis, então não precisa ter deputado, vereador, senador, nem opinião de povo. Nós estamos vivendo a ditadura do Supremo”, declarou. 

Apesar de suas posições, não se considera uma deputada homofóbica. “Nenhum cristão pode ser homofóbico. O princípio do amor, que Jesus nos ensinou, não foi de odiar as pessoas. Quem não ama o homossexual ou quem quer que seja não tem passe para o Reino do Céu”.

Ceará247 - Por que a senhora é contrária a inclusão do trecho que trata da questão de gênero no Plano Estadual de Educação?

Dra. Silvana - Foi feito um grande investimento na Noruega, através do Instituto Nórdico de Gênero. Eles tentaram influenciar a sociedade, para que ela entendesse que a formação sexual das crianças, das pessoas, era uma construção livre, que não devia ser pautada pela genética. 

Que, por exemplo, as mulheres começassem a escolher livremente suas profissões, se elas quisessem ser carpinteiras, que a sociedade não influenciasse ou criticasse ou fizesse qualquer objeção a isso. Que o seu gênero, homem ou mulher, ia ser escolhido de forma livre. Esse trabalho foi de 1970, e, contudo, 20 anos depois, aconteceu o que eles chamaram de Paradoxo Norueguês. 

Ao invés das mulheres começarem a escolher livremente ser pedreiras ou carpinteiras, elas começaram a escolher as profissões mais femininas e os homens as mais masculinas. Tem vários outros trabalhos científicos também que comprovam que esta constituição é genética, biológica, fisiológica, que não é a sociedade que pauta a sua sexualidade. 

Então, tentar colocar uma ideologia que já caiu, por A + B, em países desenvolvidos como a Noruega, seria um retrocesso. Colocar nossas crianças como cobaias humanas, ‘vamos fazer um experimento aqui para ver se dá certo no Brasil’. Não é simplesmente por uma questão de fé. Para mim, pessoalmente, é uma questão de fé. Mas como deputada, como legisladora, estou aqui me baseando em fatos científicos.

Ceará247 - O conceito da questão de gênero também é científico.

Dra. Silvana - Esse conceito de gênero sociológico, que não é pautado pela genética, caiu. Foi feita uma pesquisa por um instituto sério, que recebia recursos do Estado, financiado pela Noruega. Essa construção social já foi tentada em outros países e já caiu por ser um engano, por ser uma farsa. O Harald Eia, um sociólogo e comediante na Noruega, fez um documentário premiado [Hjernevask, ou Lavagem Cerebral] onde ele desmascarou a história da ideologia de gênero. 

Outro estudo é o do Richard Lippa, um cientista da Califórnia, que fala das preferências de trabalho e mostra que, por exemplo, temos mais médicas que engenheiras, e o contrário, que temos mais engenheiros homens que mulheres. Ele realizou uma pesquisa em 53 países, e os gráficos são uniformes nas preferências livres e individuais das pessoas, seguindo a sua constituição genética.

Ceará247 - A senhora defendeu recentemente, em discurso na Assembleia, que o conceito de família foi deturpado quando o STF decidiu reconhecer como família as relações homoafetivas. Esse conceito de família defendido pela senhora não é decorrente de suas crenças religiosas?

Dra. Silvana - Não. As pessoas gostam muito de atribuir isso a mim, e isso não se dissocia de mim, as minhas convicções religiosas são acima de qualquer… [pausa] …se a Constituição mudar, eu não mudo. Mas hoje, no meu parecer, ele [o conceito de família] segue a Constituição. A Constituição do nosso País que entende o casamento que foi atropelado pelo STF. 

Mas, por lei, a família é reconhecida como homem, mulher e filhos. Aqui tem que se dissociar da minha crença. Hoje eu sou amparada pela Constituição. O texto da nossa Carta Magna apoia o que eu estou dizendo: a família é homem, mulher e filhos. E o que o STF fez foi atropelar a Constituição para atender a grupos, a ideologias individuais de grupos organizados. Aí não estamos vivendo uma democracia. 

O que o STF fez foi atropelar a democracia. Desrespeitou as instituições legitimamente eleitas para legislar. A função do STF não é legislar, lei é para vereador, deputados e senadores.

Ceará247 - Mas a família não foi desmontada com essa posição do STF, foi apenas ampliada.

Dra. Silvana - Você está falando de entendimento de ideologia, da liberdade de escolha. Você pode escolher viver com um homem e eu posso escolher viver com uma mulher. Mas aí é a minha liberdade individual. O que o STF fez foi pegar a função dos deputados, senadores e vereadores e puxar para ele, atropelando a instituição. 

A democracia atende à maioria ou à minoria? Ela escuta a todos, mas prioriza a maioria. É o direito da maioria. As outras opções de família, até então, pautadas pela Constituição, não eram família. Quem atropelou foi o STF. A família continua porque não alteraram o Estatuto da Família, ele está sendo criado agora. 

No caso do casamento homoafetivo, aí foi atropelado. Se entender que o STF pode fazer leis, então não precisa ter deputado, vereador, senador, nem opinião de povo. Nós estamos vivendo a ditadura do Supremo. 

Ceará 247 - Qual sua posição em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de filhos por casais homoafetivos?

Dra. Silvana - Na minha posição pessoal, e como deputada, sempre legislarei contra por entender que é uma agressão à natureza, à Constituição, à genética, à biologia. E por questão de fé, aí nem se fala. Se a Constituição mudar eu continuo afirmando a minha posição. 

Quero que entendam, que aceitem, eu sei que dói, mas estou aqui pautada em lei, em ciência, em biologia e na Constituição. Meu princípio de fé é outra coisa. Se algum dia a Constituição for rasgada, e ela for alterada, eu continuo tendo meu princípio de fé. Mas hoje a Constituição me favorece. A Constituição, não o STF. O STF criou leis quando não é a sua função, para atropelar a Constituição que eu sou favorável. 

Ceará247 - Mas essa relação da política com a religião… A senhora não acredita que o estado deve ser laico?

Dra. Silvana - O estado deve ser laico, é laico, e o estado laico não pode ser confundido com laicista. Por que o laicista é aquele que nega qualquer princípio [religioso]. O estado laico acata. Ele libera você para processar sua fé. Ele permite a livre manifestação de fé. 

Então, o estado laico veio para libertar todo um povo. Existe todo umbullying que muitas pessoas sofreram no passado, e infelizmente ainda sofrem, porque ainda existe muito preconceito religioso, contra a fé das pessoas. Mas foi um grande passo o estado laico. Eu abraço o estado laico.

Ceará247 - Recentemente o bispo Edir Macêdo declarou que homossexuais são bem-vindos à Igreja Universal. Como a senhora vê esta declaração?

Dra. Silvana - É um princípio cristão. A igreja tem que acolher todas as pessoas. E por incrível que pareça, eu não sou candidata oficial de igreja nenhuma. É o que mais choca as pessoas quando elas sabem disso. Na minha igreja [Assembleia de Deus] nem se fala de política. Nenhum cristão pode ser homofóbico. 

A igreja deve atender o homossexual, a prostituta, o branco, o índio… A igreja é para acolher. O princípio do amor, que Jesus nos ensinou, não foi de odiar as pessoas. Quem não ama o homossexual ou quem quer que seja não tem passe para o Reino do Céu. Quem não é capaz de amar não tem passe para o Reino do Céu. 

Ceará247 - No começo deste ano, a senhora foi indicada para presidir a Comissão dos Direitos Humanos e houve uma reação contrária muito grande. Já superou o fato? A que atribui esta reação?

Dra. Silvana - Quase morro de sofrer, mas eu entendo. Acho que foi pelo preconceito. Por exemplo, quando você ligou pra mim, no fundo você acha que meu mandato é pautado pela minha religião e por esse meu discurso. Quando eu mostro ciência você se surpreende. 

O preconceito é você já ter uma impressão antes de conhecer a pessoa. Quem me conhece de perto sabe que não sou homofóbica. Eu convivo, e muito bem, eu atendo vários pacientes. A nossa fé não pode ser homofóbica. E se for vai para o inferno. Quem não amar vai para o inferno.

Ceará247 - O que a senhora acha do movimento feminista?

Dra. Silvana - Eu sou contra o movimento feminista, já disse isso várias vezes. Não defendo mulheres, defendo famílias. A minha submissão no amor, na minha casa, em nada me diminui. Eu sou uma família e luto por uma sociedade harmônica, onde as pessoas se respeitem e entendam a hierarquia do amor dentro da sua casa. 

Sou uma mulher amada, respeitada, ganho bem, graças a Deus… no momento estou até ganhando mais que meu marido, mas isso não diminui o meu marido a mim. Mas entendo uma hierarquia familiar de amor, onde as pessoas entendam que o homem é diferente da mulher, mas em nada a mulher é menor que o homem. Ela é a sua companheira, a sua amada, é o vaso mais frágil e precioso.

Ceará247 - A senhora falou em hierarquia familiar. Pode explicar melhor?

Dra. Silvana - O homem foi instituído por Deus, e esse é um princípio de fé e de vida meu. É um princípio que rege a minha vida. Aprendi, entendo assim e acho que a sociedade é mais harmônica assim. 

O homem é o cabeça da família, da casa, e a mulher é a sua companheira, o seu corpo, assim como Jesus é o cabeça da igreja. Isso não torna o meu marido o meu jugo. Pelo contrário. Ele zela por mim e eu zelo por ele. Nós somos uma família harmônica. 

Um exército que não tem um cabeça, não tem um comandante, não tem uma hierarquia pra fazer funcionar, vai funcionar como? Eu não sou machista. Acho que se o homem ganha X, a mulher tem que ganhar X pela mesma função. Isso não é igual à submissão de ganhar menos, ser humilhada ou desprestigiada. 

A submissão bíblica da mulher no amor é uma harmonia que engrandece a mulher na família. Então o movimento feminista pode fazer mais 500 recursos que eu nem leio. Ninguém me silencia no grito nem no repúdio. Podem fazer cartas e mais cartas, eu fico normal porque sei que tem quem pense igual a mim. 

Pode ser uma parcela mínima da população, mas quem me elegeu pensa como eu. Representação pra mim é isso, é você se expor pelo que você pensa. 

Ceará247 - Essa não é uma postura de uma mulher feminista, independente, autônoma, autêntica?

Dra. Silvana - Essa colocação me alegra, porque a feminista não é aquela implicante. Se for aquela que acredita na mulher, eu sou. Eu sou uma mulher feminina, que acredita no amor, nas instituições. Acho que a gente tem que inspirar mais pessoas, mais mulheres. 

Essa valentia que eu sofro pra ter no dia a dia eu quero que entre na minha história, que meu marido e meus filhos possam se orgulhar da minha atuação. Alguém há de se inspirar nesse meu talento de lutar pelo que acredito. É assim que eu penso.

Ceará247 - Essa visão da senhora do movimento feminista não é equivocada, antiquada? 

Dra. Silvana - Posso estar tendo uma visão preconceituosa por não conhecer o atual movimento, até aceito. Essa coisa de lutar por ‘ah, a mulher tem que pegar aquele peso igual ao homem, e tem que ser igual ao homem, dentro de casa eu que mando’… Se for isso aí não quero ser, quero ser feminina, mulher, ser mulher é um presente de Deus, é vida, é poder gerar. As feministas que eu sei das histórias defendem o aborto. Como eu posso defender o aborto, como posso defender que sou dona do meu próprio corpo a ponto de matar alguém dentro de mim? Eu não posso. 

Ceará247 - Como é a relação da senhora com as outras deputadas?

Dra. Silvana - Fantástica. Amo as minhas amigas, são maravilhosas. Não sei nem dizer com quem melhor me relaciono. Foram escolhidas pela população a dedo, são sensíveis, trabalhadoras, amigas, companheiras. É um grupo que, se você chorar, elas choram com você. Mesmo quando você não pensa igual. Sei que elas não pensam igual a mim, pensando como eu não sei se tem outras, mas elas me abraçam do jeito que eu sou, assim como convivo espetacularmente com elas.

Ceará247 - Há um preconceito muito grande com a presidente Dilma, até pelo fato de ser mulher. A senhora deve ter visto aquelas publicados em redes sociais simulando agressões sexuais…

Dra. Silvana - Aquilo ali é perversidade. Eu não votei nela, mas fico feliz de ter uma mulher na presidência. As minhas críticas a ela não são nunca associadas ao fato de ela ser mulher. Ela vive um momento de pressão muito grande, as pessoas se pegam em pequenas frases pra tentar desconstruir o heróico fato de termos uma mulher na presidência. 

Aí acho pequeno e perverso. Essas coisas que colocaram na internet, aquilo é bárbaro. Era pra dar cadeia, não por ser a presidenta, mas por ser qualquer mulher. Fico toda arrepiada e indignada quando falo isso. A presidente Dilma sofre bullying por ser mulher, pode ter certeza. Não estou dizendo que concordo com o governo dela, mas defendo o que é injustiça. 

A entrevista contou também com uma pergunta do leitor, selecionada por nós dentre as enviadas. A escolhida foi a do estudante de jornalismo Jeferson Silveira, de 28 anos. 

P - Os direitos humanos aplicam-se a todos. No caso dos homossexuais, existe todo um histórico de exclusão social, preconceito e violência. A senhora acha que o público LGBT deve lutar pelos seus direitos? E que contribuição a deputada Dra. Silvana pode oferecer para melhorar a vida dessas pessoas? 

Dra. Silvana - Com certeza [eles devem lutar pelos seus direitos]. Eu não fui eleita por eles, o meu mandato não está pautado pelo grupo LGBT, mas entendo que nenhum cristão, nenhum deputado deve ser homofóbico. Os nossos mandatos devem ser pautados para buscar o respeito pelas pessoas, independente da preferência sexual. 

Isso diminuiria meu mandato, eu pensar que estou lutando por um grupo só porque é homossexual. Eles têm que ser respeitados porque são seres humanos. E todos têm que ser respeitados. Mas eu não fui eleita pelo grupo LGBT e nem no grito serei subjugada por ele.

Ceará 247 - A senhora falou que nenhum deputado pode ser homofóbico. O que acha de parlamentares como Jair Bolsonaro e Marco Feliciano?

Dra. Silvana - Eu não julgo o mandato dos outros, eu lido com o meu mandato e com o meu perfil. Eu não sou uma deputada homofóbica. Homofobia é sobre aversão, não querer estar perto, bater, repudiar, ter nojo. As pessoas deturpam, usam o carimbo de homofobia de forma “ingênua”. Gente, vamos atrás de saber o que é homofobia.

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