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quarta-feira, 29 de abril de 2015

O CEARENSE ROSIER ''A NEVASCA NÃO NOS DEIXAVA VER,MAS TINHA AVALANCHES POR TODOS LADOS''

Por ipuemfoco   Postado  quarta-feira, abril 29, 2015   Sem Comentários

O Cearense Rosier Alexandre passou por um drama nos últimos dias. Montanhista experiente, com subidas de sucesso em vários dos pontos mais altos do planeta, ele


começava sua escalada rumo ao cume do Monte Everest quando um terremoto de 7,9 graus de magnitude atingiu o Nepal, provocando avalanches que interromperam a subida dos alpinistas.


Rosier escapou do deslizamento, mas ficou dois dias preso a 6.550m de altitude, sob nevasca, sentindo constantes tremores e sinais de avalanches ao redor e sem comunicação com o mundo exterior. Resgatado na última segunda-feira, ele escreveu o seguinte depoimento sobre os momentos de desespero no Everest:

"Neste momento escrevo de Debuche (3.800m de altitude) retornando para Katmandu, onde devo chegar em mais três ou quatro dias. Neste momento estou em ambiente seguro, diferente dos que estive nos últimos dias.

No último dia 23 escalei a temível Cascata de Gelo, trecho de maior risco em todo o Everest, utilizando a nova rota aberta este ano e evitando a rota que sofreu a avalanche de 2014. Cheguei a salvo ao primeiro acampamento avançado. Acampamos em uma plataforma de gelo cheia de gretas por todos os lados, mas ainda considerada segura. Dia 24 descansamos para seguir em frente no dia seguinte.

Dia 25 acordamos cedo e o tempo parecia normal. Caía neve além do normal, mas isso não é um problema. Por conta do frio e do tempo fechado, tomamos café um pouco mais tarde e às 9h40 pegamos nosso caminho para o dia de menor esforço físico de toda a escalada. Saímos de 6.120m do Campo 1 para o Campo 2, que está a 6.550m.

 Além de um desnível de apenas 430m temos um pequeno sobe e desce nos primeiros 30 minutos, depois mais 39 minutos de zigue-zague contornando imensas gretas para depois seguirmos em linha reta com uma subida bem suave.

Por volta de meio-dia, tudo transcorria bem enquanto caminhávamos com tempo fechado pela neve que caía sem parar. Nosso grupo de 12 alpinistas estava dividido em três subgrupos. Eu estava no primeiro grupo, liderado por Garret Madison. O segundo grupo estava uns 500m atrás, mas a neve não nos permitia contato visual - o terceiro estava ainda mais atrás. O contato entre os grupos se dava apenas por rádio.

Escutamos um imenso estrondo, paramos e tentamos identificar de onde vinha. Veio um segundo estrondo seguido de outros, mas a nevasca não nos permitia ver de onde era, apenas sabíamos que havia avalanches vindas de todos os lados. Nesse momento a plataforma de gelo começou a tremer sem parar, parecia que o iríamos ser sugados. Garrett, enquanto procurava identificar de onde vinha o maior perigo, nos disse para colocarmos o buff (lenço) sobre a boca e o nariz.

Todos estávamos em pânico. Escutávamos várias avalanches e sequer sabíamos identificar de onde vinham. Passado o sufoco, todos estavam ofegantes e Garrett então decretou uma pausa para lanche e hidratação. Ele entrou em contato com os demais guias que confirmaram ter passado pela mesma situação, porém estavam bem.

Por volta de 12h30, quando estávamos chegando ao Campo 2, Garrett entrou em contato com o Campo Base via rádio e foi informado que uma avalanche de proporções gigantescas havia descido da encosta do Pumori [monte vizinho ao Everest], que o Campo Base havia sido destruído e nossa médica, dr.ª Eve, estava gravemente ferida e havia muitos desaparecidos.

Tudo foi destruído e apenas o rádio funcionava precariamente. Depois de mais alguns contatos informaram que meu filho Davi, que estava no Campo Base, estava bem e havia sido levado para Goram Shep [vilarejo próximo à base do Everest], junto com Michael, cinegrafista da NBC e Ron, nosso colega australiano que havia desistido da escalada na Cascata de Gelo.

Por volta de 13h, recebemos informações de que havia ocorrido um terremoto, que as avalanches foram simultâneas e incluíam praticamente todas as montanhas do Nepal. Posteriormente soubemos que em Katmandu havia mais de mil mortos. Claro que eu fiquei muito preocupado com o Davi. Depois de muitas tentativas consegui uma ligação para a Danubia (minha esposa) e lhe disse o que sabia até o momento. Em menos de 1 minuto, a ligação caiu.

A tensão foi aumentando à medida que recebíamos notícias e sabíamos a dimensão do problema. A Cascata de Gelo ruiu completamente, logo ficamos presos a 6.500 metros de altitude e precisávamos pensar numa saída. Garrett nos reúne e diz que a Cascata de Gelo está destruída, pode levar dias para ser recuperada e que nossos suprimentos de comida ainda não haviam subido. Logo, precisamos racionar todos os suprimentos.

À noite, Garrett informa que a dr;ª Eve não resistiu aos ferimentos e faleceu. O clima não podia ser pior. Nossa saída dali só tinha dois caminhos: uma operação com helicóptero ou a Cascata de Gelo. 

E falar em dias para recuperar a Cascata de Gelo era muito otimismo. Na reunião seguinte, Garrett nos informa que seis helicópteros estavam em Lukla [cidade próxima à base do Everest] e esperavam apenas bom tempo de voo para nos resgatar, mas sabemos que um resgate a esta altitude é de grande risco e custos muito elevados. 

Nossos seguros podiam cobrir isso, mas o clima estava ruim e com previsão de mais três dias de nevascas. A tensão só aumenta.

Às 15h eu estava começando a arrumar a barraca e a terra voltou a tremer fortemente. Muitas avalanches voltaram a ocorrer, piorando ainda mais a situação. A noite foi possivelmente a pior da minha vida. Eu não conseguia comunicação com o Davi nem com minha família, não dormi um só minuto. Amanheceu mais um dia, o sol brilhou por poucos minutos e a tensão continuou.

Por volta de 13h a terra voltou a tremer. Estávamos na barraca restaurante e tudo foi chacoalhado. Nesse momento os olhares eram estarrecedores, todos se entreolhavam assustados e sem saber o que fazer. 

À tarde, vencido pelo cansaço e a tensão, entrei na barraca e dormi das 14h às 16h. No fim da tarde a nevasca deu lugar a um lindo pôr-do-sol. Parecia que nada tinha acontecido, mas isso não aliviava em nada o clima de dúvidas, medo e incertezas.

À noite, Garrett nos disse que ao amanhecer deveríamos descer para o Campo 1, onde era menos seguro, mas iríamos esperar o possível resgate. A crise parecia estar se encaminhando para uma solução. O dia amanheceu com tempo aberto, eu havia passamos mais uma noite sem dormir um só minuto. Foi a noite foi a mais fria que lembro já ter passado.

Levantei às 6h45 sob um frio cortante, mas a esperança de um resgate era mais forte. Levantei, me equipei e fui tomar café. O frio era tamanho que meus pés e mãos começaram a esfriar.

Sabendo da tragédia, eu preso e sem poder fazer nada... Eu fiquei arrasado. [Após o resgate, veio] uma mistura de terror, euforia e alegria. Em 2014 me vi envolvido na maior tragédia da história do Everest . E em 2015 em uma maior ainda, com meu filho Davi no olho do furacão.

Rosier Alexandre."

Nota da redação: A caminhada rumo ao Campo 1, que Rosier relata em seu texto, foi um sucesso. Na manhã da última segunda, o grupo do brasileiro foi resgatado e estava a salvo. Em 2014, o cearense já tinha tentado escalar o Everest, mas sua subida foi interrompida pela mais dura avalanche da história da montanha, que deixou 16 pessoas mortas, entre elas três da equipe de Rosier.
UOL

Acampamento foi destruído pela forte avalanche, causada pelo terremoto (Foto: Rosier Alexandre/Arquivo Pessoal)

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