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sábado, 13 de dezembro de 2014

O QUE OS BRASILEIROS PENSAM DO "USO MEDICINAL DA MACONHA"

Por ipuemfoco   Postado  sábado, dezembro 13, 2014   Sem Comentários

Nesta semana, os médicos brasileiros foram autorizados pelo Conselho Federal de Medicina a prescrever um composto de canabidiol (CBD), um dos princípios ativos da maconha, para o tratamento de formas severas de epilepsia. 

É uma antiga reivindicação dos pais de crianças que sofrem convulsões impossíveis de serem controladas pelos medicamentos convencionais. A substância não é aprovada para venda no Brasil. Para importá-la, cada família deverá pedir autorização individualmente à Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Apenas os neurologistas e os psiquiatras poderão prescrever o derivado da maconha, em dosagens pré-determinadas pelo CFM. A aprovação é um alento para as famílias que enfrentavam grandes dificuldades para conseguir as prescrições, mas pouco se sabe sobre a eficácia da substância. 

Nos Estados Unidos, onde é vendido em spray, pomada e até xampu, o canabidiol é considerado seguro pela agência que regula medicamentos (FDA). Apesar disso, ela não permite que a indústria alegue propriedades medicinais porque as pesquisas realizadas até hoje envolveram um pequeno número de pacientes.
 
Jovem segura muda de cannabis produzida em sua casa, em Montevidéu, no Uruguai. Texto aprovado pela Câmara dos Deputados prevê o cultivo, distribuição e comércio da droga sob regulação do Estado (Foto: AP Photo/Matilde Campodonico)


Recentemente, o pesquisador Orrin Devinsky conseguiu autorização do FDA para realizar um estudo amplo sobre os benefícios do canabidiol. Em pesquisas anteriores, ele demonstrou que o composto foi capaz de diminuir em 50% das crises epiléticas de 30% dos pacientes. Cerca de 10% deles se livraram das convulsões. É um caminho promissor, mas há mais dúvidas que certezas – não apenas no campo científico.

A população brasileira está dividida em relação ao uso desses medicamentos. É o que revela uma pesquisa divulgada com exclusividade por esta coluna. Ela foi realizada no final de setembro, em parceria com o Datafolha, pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), uma entidade privada de pesquisa e pós-graduação para a formação de profissionais para o mercado farmacêutico.

Foram entrevistadas 2.162 pessoas, pessoalmente, em 134 municípios de todas as regiões do país. Apenas 27% concordam plenamente com a liberação de medicamentos feitos com ingredientes da maconha. Outros 13% concordam parcialmente. O grupo dos que discordam corresponde a 44%. Os que não sabem avaliar são 6%.

A aprovação ao uso do canabidiol é maior entre os mais jovens e com mais acesso à internet. Na faixa dos 25 aos 34 anos, 56% aprovam o uso. Com o avanço da idade, a porcentagem cai até chegar a 31% a partir dos 60 anos.

Entre as pessoas que são a favor da liberação da venda de medicamentos feitos com maconha destacam-se, com maior representatividade:

- Região Sudeste – 43%
- Região Metropolitana – 42%
- Homens – 44%
- Jovens (16 a 24 anos) – 47%
- Os mais escolarizados (nível superior) – 52%
- Classes mais altas (A/B) – 48%
- Os que fazem compras pela internet – 55%

“O índice de aprovação ao uso do canabidiol no Brasil ainda é muito baixo”, diz Marcus Vinicius Andrade, diretor de pesquisa do ICTQ. “De modo geral, o brasileiro desconfia da evolução da ciência e de novas drogas. É como se ainda estivéssemos na Revolta da Vacina”, diz. “Quando se trata de um composto derivado da maconha, o preconceito aumenta porque as pessoas o associam à criminalidade”.

Segundo Andrade, a população ainda não entendeu o que está sendo discutido. Confunde o uso do canabidiol como medicamento com fumar maconha para fins medicinais e com a liberação da droga para fins recreativos.

Se os entrevistados resistem à ideia do uso de derivados de maconha em situações específicas e controladas, eles são ainda mais céticos quando se trata da hipótese de fumar maconha na tentativa de aliviar sintomas de doenças. Embora alguns grupos defendam essa ideia, o Brasil está longe de adotá-la.

A nova pesquisa revela que 56% dos entrevistados são contra a liberação da venda de maconha in natura para uso medicinal em farmácias, como ocorre em alguns estados americanos e em outros países. Aqui uma coluna sobre as consequências da adoção dessa medida nos Estados Unidos. Separar paixões e interesses comerciais quando se discute maconha é fundamental para que o Brasil e os brasileiros tomem decisões sensatas e baseadas em evidência científica.

(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras)

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