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segunda-feira, 15 de julho de 2013

BANDEIRA TEM AUMENTO DE VENDAS E VIRA ÍCONE POP

Por ipuemfoco   Postado  segunda-feira, julho 15, 2013   Sem Comentários

  
Manifestantes vestem a bandeira em frente à sede da Alerj
Foto: Fabio Seixo / O Globo
Ao fim do ato que reuniu 300 mil manifestantes e deixou 62 feridos na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, quatro jovens enrolados em bandeiras do Brasil formaram uma barreira humana como forma de protestar pacificamente diante de um corredor de policiais. Não houve mais confronto naquela quinta-feira de junho. 

Na mesma noite, em Brasília, um dos sete PMs que encorpavam o cordão de isolamento do Palácio do Itamaraty deixou pistola e cassetete no bolso e, instintivamente, levantou a bandeira do Brasil que havia achado no chão. O gesto mexeu com o sentimento de amor à pátria dos protestantes, que recuaram, e ajudou a impedir uma invasão em massa à sede do Ministério das Relações Exteriores. 

De Fortaleza, Neymar publicou uma foto da bandeira do Brasil no Instagram, acompanhada de um texto de apoio à onda de manifestações, horas antes de enfrentar o México. Assim, cativou ainda mais o povo.

Usada como capa, transformada em escudo ou replicada nas redes sociais, a bandeira vive um momento de consagração como símbolo-mor do patriotismo exaltado nas ruas nas últimas semanas.

— A bandeira nunca foi tão popular, nem mesmo nas Diretas Já ou no impeachment do Collor — afirma Paulo Baía, professor do Departamento de Sociologia da UFRJ.

O sociólogo observa que a forma como o símbolo foi apropriado pelos brasileiros também é inédita na História do país:

— Tradicionalmente, a população toma posse da bandeira na Copa do Mundo, um movimento sociocultural. Agora, é uma forma de dizer: “O Brasil é nosso.”

Enquanto bandeiras de partidos políticos e entidades de classe, como sindicatos, são rechaçadas nas marchas, o emblema verde e amarelo figura como uma espécie de “bandeira branca”.

— Isso mostra o cansaço dos brasileiros em relação ao material de esquerda ou de direta — explica o antropólogo Roberto DaMatta. — No meu tempo, era cafona usar a nossa bandeira. Agora, virou moda.

Uma moda que a juventude que tomou as ruas não espera que seja passageira.

— Quando me enrolei na bandeira, me senti mais brasileira. No meio da (Avenida) Rio Branco, tive consciência do que o povo pode fazer por um país melhor — justifica a estudante do ensino médio Jéssica Barbosa, de 18 anos.

Para DaMatta, a sociedade está vivendo um “ufanismo crítico”:

— Não foram manifestações contra o governo, mas contra um estilo de governo. Nesse contexto, a bandeira nacional mostra que este é um movimento de universalização do Brasil.

O cantor e compositor Jards Macalé acredita que é o momento ideal para haver uma repaginação na bandeira. Há duas décadas, ele faz campanha para agregar a palavra “amor” ao lema “Ordem e progresso”:

— A frase da nossa bandeira foi inspirada no lema do positivismo: “O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”, do francês Auguste Comte. Por que cortaram o amor? Até hoje não sei.

Em 2003, a proposta foi levada a Brasília pelas mãos do deputado federal Chico Alencar (PSOL). No momento, o projeto aguarda novo parecer na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.

— Há fundamento histórico, e todos os argumentos contra são inconsistentes ou conservadores. O amor não pode ficar banido — ressalta Chico.

As provas de amor que a nova geração está dando à bandeira emocionam o cantor, compositor e escritor Jorge Mautner:

— Em todos os textos escritos e cantados da minha vida transparece esta devoção messiânica para com o Brasil e a sua representação máxima que é a sua bandeira. E que bandeira poética de infinita beleza! Ela tem a cruz formada pelas estrelas do Cruzeiro do Sul, tem o verde das florestas infinitas e o amarelo das nossas riquezas materiais e espirituais — exalta Mautner. — Amo o “Hino à Bandeira”, cuja letra é poesia de Olavo Bilac. Na verdade, o Brasil e a sua bandeira são a minha religião!

Professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC, Fernando Lima Neto ressalta que, nesse momento, a emoção não pode falar mais alto do que a razão:

— As pessoas estão criticando os canais tradicionais de ação política, como os partidos, os sindicatos e as entidades de classe. Estão buscando recriar laços de emoção com a política. Mas apenas o nacionalismo não é suficiente nem desejável para resolver esse impasse. Um cenário em que as pessoas hostilizam os partidos ao mesmo tempo em que idolatram símbolos nacionais como a bandeira e o hino não é o ideal. É preciso reinventar a política.

O hasteamento do pavilhão nacional como ícone da retomada do país pelos brasileiros — movimento que ainda passa longe da devoção demonstrada pelo povo americano, com bandeiras tremulando nas portas de suas casas — é o mais novo capítulo em sua História. 

Desde o meio-dia de 19 de novembro de 1889, quando a Bandeira da República Federativa do Brasil foi erguida pela primeira vez, ela já passou por altos e baixos. A relação entre o povo e o símbolo foi construída e reconstruída diversas vezes, observa Samantha Quadrat, professora de História da América, da UFF:

— A ditadura se apropriou dos símbolos nacionais, que deixaram de ser vistos como pátrios, mas representantes do governo autoritário. E pessoas contrárias se afastaram dos símbolos. Na campanha ufanista, o slogan “Brasil, ame-o ou deixo-o” se utilizava da bandeira.

No calor dos últimos acontecimentos, um sem-número de usuários do Facebook citou a Lei 898, de 29 de setembro de 1969, ao recomendar os trajes adequados para serem usados nas marchas que ocuparam as ruas: “Durante as manifestações, use a bandeira brasileira como manto, pois qualquer ato contra uma pessoa que esteja com a bandeira sobre o corpo é um ato contra a Bandeira Nacional. Isso é crime.” Porém, segundo o advogado Rodrigo Mascarenhas, especialista em Direito Constitucional e conselheiro da OAB-RJ, tal lei foi revogada na Constituição de 1988.

— Do ponto de vista jurídico, a bandeira não é escudo. De toda forma, é crime desrespeitar a integridade física do outro, seja com ou sem bandeira nas costas — explica. — Evocar essa lei é contraditório e pode ser perigoso, pois ela proibia uma série de atos corriqueiros, como usar a bandeira como roupagem, apresentá-la em mau estado de conservação ou usá-la como pano de boca... Se a lei ainda estivesse em vigor, aliás, qualquer arte relacionada ao símbolo seria crime, como fabricar a canga com a estampa da bandeira que é vendida aos montes aos turistas.

Na atual fase de alta, peças inspiradas em seu design ou suas cores estão sendo lançados para consumo interno — de capinhas de iPhone a pingentes de prata.

Infalível termômetro de popularidade, as lojas da Saara estão repletas de produtos temáticos, aproveitando o boom para emendar com a Jornada Mundial da Juventude, que vai reunir milhares de peregrinos no Rio, a partir do dia 22.

— Nos dias das manifestações no Centro, vendi mais bandeira do que durante toda a Copa das Confederações — comemorava a vendedora Esmeralda dos Santos, 60 anos e 39 de Saara, na Malharia Aram, na última segunda-feira. — Agora mesmo uma senhora acabou de comprar seis mochilas de bandeira do Brasil para presentear os sobrinhos. É uma febre entre os jovens.

Na Rua da Alfândega, encontram-se bandeiras de R$ 8 (mande in China) a R$ 80 (100% brasileira).

— As manifestações agitaram a venda de itens em verde e amarelo. A procura pela bandeira, por exemplo, aumentou em 70% — contabiliza Carol Freitas, da Callao Representações, que abastece lojas do país inteiro com produtos chineses. — Só conseguimos atender à demanda dos lojistas porque tínhamos estoque preparado já para os jogos de 2014.

Imagina na Copa.O GLOBO


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