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terça-feira, 4 de junho de 2013

TRÁFICO; A DOR DE PERDER OS FILHOS E O MEDO DE MORRER

Por .   Postado  terça-feira, junho 04, 2013   Sem Comentários

                                  
Há lugares e modos de vida em Fortaleza que nem imaginamos existir. O cotidiano de aflições na rua Neném Arruda e seu entorno é desses mundos paralelos. No lugar, esquadrinhado no conjunto São Miguel (Grande Messejana), a guerra entre dois grupos armados – Mangueira e Coqueirinho - transformou os últimos sete anos em dias insustentáveis e um suspense permanente.

Há um grupo de mães por lá, o pavor impede as fotografias e a revelação dos nomes, que anseia experimentar outra realidade. Semelhante a de bairros ao alcance da lei e a presença interessada dos poderes municipal e estadual.

Na estreita rua Neném Arruda, também conhecida por Mangueira, elas se refugiam para escapar do ataque da quadrilha rival, não usufruem das calçadas à noitinha, “apanham na cara” por caminhar em “ruas proibidas”, não podem matricular os filhos em escolas públicas sitiadas “por traficantes” e vivem a chorar o assassinato dos seus e das vizinhas. Costumeiramente, meninos ou rapazes que não passam dos 25 anos de idade.

Uma dessas mães, apesar do risco, pediu para prantear em público a execução de mais uma cria. Maria Edileuza, 56, enterrou Francileudo Ferreira Lima há 46 dias. Ele foi emboscado e morto, com dez tiros de pistola ponto 40, quando saía de uma audiência no Fórum Clóvis Beviláqua, no último 19 de abril.

Provavelmente por inimigos da rua da quadrilha do Coqueirinho. “Francileudo não era santo”, me diz. “Ele era um aviciado, não vou negar. Eu dava dinheiro pra ele comprar maconha e fumar por aqui. Não se arriscar por aí”, confidencia. “Mas era rapaz bom, não queria me deixar sozinha. Quando tinha os tiroteios, mandava eu entrar e fechar as portas”, conta.

A execução do filho, reconhece Maria Edileuza, já estava traçada. Fora dos limites da antiga rua das mangueiras, Francileudo cultivava inimigos nos territórios proibidos do Coqueirinho. Em consequência dos confrontos e acusações por assassinatos havia experimentado o presídio. Quando um filho “cai”, me diz Edileuza, a “mãe puxa cadeia com ele”.

Na primeira vez, recorda a mãe, “foi um ano e nove meses” de prisão. Por último, em 2011, seis meses de xadrez por ter sido um dos acusado de autoria da chacina do Bar da Paz (12/12/2011). Dois mortos e três feridos. Na palavra da mãe, o filho estava longe da cena do crime. Ele havia se mudado com a esposa para a Piçarreira, um cafundó na Messejana. “Não era santo, mas pegou fama e tudo de ruim que acontecia aqui, culpavam ele”.

No velório de Francileudo foram ofertados 50 bolos e distribuídos centenas de refrigerante para quem compareceu às despedidas. Desejo dele e certeza do insustentável futuro nas ruas do Conjunto São Miguel. Sua missa de 7º Dia teve de ser rezada em uma igreja no Mondubim, bairro distante de onde vivia. Nos dois templos próximo de casa, havia ameça de invasão e mais morte.

Francileudo não foi o primeiro filho enterrado por Maria Edileuza. Em 2006, ano que supostamente marca o início da guerra entre Mangueira e Coqueirinho, uma tocaia no posto Curió resultou no fuzilamento de Edineudo Ferreira Facundes. O mais velho de quatro crias. Na época, também com 25 anos e, nas palavras da mãe, traficante de drogas confesso. “Esse era. Fiz tudo, mas também mataram. Temo pelos dois que ainda tão vivos”, receia.O POVO








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