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sexta-feira, 17 de maio de 2013

DITADURA MILITAR; SOLDADO DIZ QUE VIU COMANDANTE ATIRAR NA CABEÇA DE CASAL DE ESTUDANTES

Por .   Postado  sexta-feira, maio 17, 2013   Sem Comentários


O soldado do Exército Valdemar Martins de Oliveira denunciou nesta quinta-feira o coronel Freddie Perdigão Pereira, morto em 1997, como autor dos disparos que mataram o casal de estudantes Catarina Helena e João Antônio Abi-Eçab, em 1968. Comandante do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), Perdigão foi um dos nomes mais importantes do aparelho de repressão do Estado. 

Oliveira contou, em depoimento público à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, que foi recrutado pelo próprio Perdigão em 1968, quando ingressou no 27º Batalhão de Infantaria Paraquedista, no Rio, para fazer parte do grupo de espionagem e tortura chefiado pelo comandante do DOI-Codi.

— Eu vi. Estou dizendo que eu vi: ele (Perdigão) se abaixou, quase de joelhos, e atirou na cabeça dos dois — disse Valdemar, que afirmou lembrar-se até da arma usada por Perdigão: — Um Colt 45.

O militar contou à comissão paulista que Catarina e João Antônio, que integravam a Ação Libertadora Nacional (ALN), foram capturados pelo grupo de Perdigão e levados, em carros diferentes, para uma espécie de chácara em São João do Meriti (RJ), onde havia uma estrutura improvisada para servir de pau de arara. Catarina foi a primeira a chegar e foi bastante torturada. Depois, chegou João Antônio, já espancado pelos militares.

— Eles (o casal) já não tinham forças. No pau de arara, a moça já não reagia. Foram colocados no chão. Perdigão disse: “esses dois não servem mais para nada” e atirou na cabeça deles.

Versão falava em morte por acidente

A versão oficial dava conta de que os Abi-Eçab teriam morrido em um acidente, ao bater contra um caminhão na BR-101, com um carro cheio de explosivos e até uma metralhadora. Em 2000, Oliveira denunciou a montagem do acidente à Rede Globo, mas não informou quem eram os autores do crime.

— Enquanto eu dava a entrevista, meu filho me disse ao telefone que havia dois “amigos” meus do Exército dentro da minha casa. Fui ameaçado. Agora vou falar.

Oliveira contou que, naquele grupo, estava Guilherme do Rosário, o sargento que morreu com uma bomba no colo ao tentar cometer um atentado durante um show no Riocentro, em 1981. O GLOBO revelou a ligação de Rosário com Perdigão em 2011, ao descobrir a agenda telefônica do sargento.

— Perdigão e Guilherme tinham uma relação muito antiga. Ninguém vai pegar um automóvel, por conta própria, e falar: vou explodir isso aqui. Quem disse que eles não queriam explodir os dois (Rosário e o capitão Wilson Machado, que estava no carro e foi ferido) para limpar? Dispositivo de disparo à distância já existia havia muito tempo — questionou Oliveira.

O militar conta que Rosário foi recrutado, no mesmo batalhão de paraquedistas, antes dele e que os dois, sob ordens de Perdigão, fizeram cursos de espionagem e técnicas de interrogatório, com tortura. Aprendiam também a ativar e desativar explosivos. Oliveira diz que fez três cursos, sendo que um deles foi ministrado por agentes norte-americanos, um deles chamado “John ou Johnny”. Os jovens militares aprendiam sobre os “riscos” dos movimentos comunistas.

—Guilherme fez muito mais cursos que eu — disse Oliveira.

O militar se mostrou constrangido ao falar sobre aulas de técnicas de tortura. Disse que não havia ensinamentos sobre a aplicação dos instrumentos usados no Brasil, como o pau de arara e a cadeira do dragão:

—Tinha fitas de Super 8 com o que se passava na guerra do Vietnã. Era abrir o ventre de mulheres grávidas, por aí.

Para Oliveira, a chácara de São João de Meriti (RJ) havia sido improvisada como uma casa de torturas. Ele conta que, enquanto esteve lá com o casal Abi-Eçab foi levado para um quarto outro preso político. O militar disse não saber de quem se tratava porque o preso estava encapuzado.

Oliveira contou que abandonou o grupo de Perdigão ao ver a tortura sofrida pelo casal. Antes disso, seu trabalho foi fotografar e se misturar entre jovens e militantes no Rio de Janeiro. 

Depois, foi destacado para atuar em Marília, no interior de São Paulo, na espionagem de igrejas da região. Em 1970, ao pedir para voltar ao quartel, segundo ele, foi espancado dentro de sua casa. 

Sua mãe teria sido agredida. Ele chegou a fugir e ficar um ano no Chile. Em 1998, aos 46 anos, foi reintegrado como soldado. Serviu pouco mais de um ano na caserna e foi dispensado sem vencimentos.

— Eu não sei o que sou. Não tenho cidadania. Não sei se ainda sou militar— disse ele, afirmando que quer reparação pelo tratamento que recebeu ao se recusar a participar de torturas.

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