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sábado, 20 de abril de 2013

UMA NOVA FACE DO TERROR; MORTAL E BARATO

Por .   Postado  sábado, abril 20, 2013   Sem Comentários


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As bombas rudimentares, de fabricação caseira, e os extremistas aparentemente integrados ao cotidiano dos EUA, sem conexão com redes internacionais, alertam para a disseminação de um terrorismo difuso que assusta o mundo

Mariana Queiroz Barboza
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Aos 78 anos, com 45 corridas de longa distância no currículo, três delas em Boston, o americano Bill Iffrig é um maratonista experimentado. Nunca, no entanto, suas pernas haviam fraquejado tão próximo da linha de chegada como na segunda-feira 15, Dia do Patriota nos Estados Unidos. Faltavam menos de cinco metros da Boylston Street para o fim da prova e Iffrig estava orgulhoso de seu tempo. 

Foi quando ele sentiu o corpo tremer, atingido pelas ondas de choque da explosão de uma bomba. Iffrig viu as pernas sem controle e precisou se apoiar no chão, enquanto uma nuvem de fumaça envolvia tudo ao seu redor. 

A imagem do veterano atleta abatido, com sua camiseta laranja e short preto, socorrido por policiais que pareciam bailar a sua frente, se tornaria um emblema do primeiro atentado terrorista ocorrido nos EUA desde o fatídico 11 de setembro de 2001. Sem ferimentos, Iffrig é um homem de sorte. Perto do local de sua queda, estavam mortos Martin Richard, um menino de 8 anos, Krystle Campbell, 29 anos, gerente de um restaurante, e a estudante chinesa Lu Lingzi, 23 anos. Outras 179 pessoas sofriam e sangravam em meio à destruição provocada pelas duas bombas que explodiram quase simultaneamente na Boylston Street.

Foi um novo tipo de terror que abalou os Estados Unidos. Um terror ao mesmo tempo vulgar e alarmante. Seus autores não precisaram de grandes ferramentas, tecnologias sofisticadas, componentes de difícil acesso ou explosivos contrabandeados para preparar seus artefatos mortais. 

Os terroristas apenas foram às compras. Como qualquer cidadão, sem chamar a atenção de ninguém. Utilizaram panelas de pressão, pregos, roldanas e todo lixo metálico que pudesse ferir, como estilhaços de granada. O detonador rudimentar, montado em latas de energéticos e acionado por telefone celular, e um explosivo, que tem fabricação detalhada pela internet, completavam a engenhoca. Bomba simplória, para ser usada por qualquer mente doentia. 

O horror banalizado, de varejo, e por isso mesmo ainda mais difícil de controlar, desafia os avanços da última década, que permitiram o monitoramento de redes do terror internacional e da compra de explosivos e materiais suspeitos. “Não é mais necessário sair do país para se radicalizar”, diz Steve Emerson, diretor-executivo do Investigative Project on Terrorism, um dos maiores bancos de dados sobre grupos terroristas do mundo. 

Ele lembra que há três anos circula na internet um artigo em inglês da revista “Inspire” (ligada à Al-Qaeda), intitulado “Faça uma bomba na cozinha de sua mãe”. A construção de um artefato explosivo caseiro é mostrada passo a passo. Esse tipo de bomba já vinha sendo usado para atacar soldados americanos no Afeganistão, mas num ambiente civil, onde não há uniformes de proteção, seu poder é ainda mais letal.
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Na quinta-feira 18 o mundo começou a conhecer os rostos dos homens que carregaram a bomba de panela de pressão em Boston. O FBI divulgou as imagens de dois rapazes comuns, vestindo jaquetas de moletom escuras, bonés de beisebol e mochilas nas costas. 

“Alguém aí fora conhece esses indivíduos”, afirmou o agente especial responsável pelo escritório da polícia federal em Boston, Richard DesLauriers. Eram os irmãos Tsarnaev, russos nascidos na região da Chechênia. Tamerlan, 26 anos, e Dzhokhar, 19, se mudaram com os pais para Cambridge, nos Estados Unidos, há cerca de uma década. Tamerlan estudava engenharia no Bunker Hill Community College e praticava boxe. Dzhokhar estava registrado na Universidade de Massachusets – Dartmouth (UMD) e foi um atleta popular durante o ensino médio. 

“Um anjo”, segundo definiu o pai, Anzor. À imprensa americana, os vizinhos de Dzhokhar repetiram versões de que nada em seu caráter ou conduta poderia sugerir um comportamento terrorista. Descrito como bom funcionário, que sempre aparecia no horário, Dzhokhar trabalhou como salva-vidas na piscina da Universidade Harvard, segundo a rede CNN. 

Ele morava num dos dormitórios da UMD e era ativo nas redes sociais. Em seu perfil numa rede russa, Dzhokhar classifica sua “visão de mundo” como islâmica, sua “prioridade pessoal” como “carreira e dinheiro” e admitiu que apoia a causa da libertação da Chechênia. Na conta do Twitter atribuída a ele, publicou na terça-feira 16, às 10h43 da noite: “Eu sou o tipo de cara livre de estresse.”

Ao canal de tevê CBS, um tio dos irmãos Tsarnaev disse que a ação de seus sobrinhos causara vergonha à sua família e a toda a comunidade chechena. Outro tio contou que Tamerlan havia ligado para ele após o atentado pedindo perdão. A tia Maret Tsarnaev questionou, em entrevista ao jornal “Toronto Sun”: “Por que raios eles fariam isso?” 

A resposta completa ainda está longe de ser esclarecida, mas já tem uma forte pista: “Seria surpreendente se não houvesse um elemento islâmico nesta história”, disse à ISTOÉ Anatol Lieven, pesquisador da New America Foundation, em Washington. Lieven, que é autor de vários livros sobre a antiga União Soviética, lembra que o Taleban está na Chechênia desde os anos 90, embora sua influência na região hoje não seja muito ampla. 

“Há, contudo, muitos relatos de chechenos que viajaram ao Afeganistão e participaram de ataques a alvos americanos”, afirma. A Chechênia é atualmente uma das repúblicas da Federação da Rússia e fez parte da União Soviética até seu desmantelamento. Desde então, luta por sua independência por meio de conflitos armados. Ao menos três grupos chechenos estão incluídos na lista terrorista dos EUA.
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Logo que começaram as investigações sobre o atentado, a polícia pediu aos milhares de pessoas que estiveram no local da maratona que contribuíssem com pistas, fotos e vídeos registrados em seus smartphones. Na era das redes sociais, em poucas horas, mais de duas mil pistas já tinham sido entregues às autoridades. 

Quando o FBI divulgou a imagem dos suspeitos, também colocou no ar o site bostonmarathontips.com, com um formulário simples por onde deveriam ser enviadas as informações sobre os suspeitos e uma linha de telefone foi disponibilizada. Durante a noite, a polícia foi chamada pelo roubo a uma loja de conveniência próxima ao Massachusetts Institute of Technology. Surpreendentemente, os ladrões eram os irmãos Tsarnaev, que fugiram em direção à universidade, trocando tiros com seguranças. Na fuga, Tamerlan e Dzhokhar roubaram um SUV Mercedes-Benz que acabou sendo localizado pela polícia. Começou, então, uma perseguição cinematográfica. 

No subúrbio de Boston, em Watertown, os irmãos jogaram explosivos e atiraram contra os policiais, matando um deles e ferindo outros. No tiroteio, Tamerlan morreu. Junto a seu corpo, foram encontrados mais artefatos explosivos. Dzhokhar fugiu e, até o fechamento desta edição, ainda não havia sido capturado. “Acho que é justo dizer que, durante toda esta semana, estivemos num confronto direto com o mal”, disse o secretário de Estado, John Kerry.
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O medo difuso do mal a que se refere Kerry assustou os Estados Unidos desde o início da semana. No fim da tarde da segunda-feira 15, a região da Times Square, a mais turística de Nova York, já se mostrava mais frenética do que de costume. A sensação era de que todos queriam voltar para casa o quanto antes. 

Qualquer transeunte usando capuz e mochila atraía os olhares. Tudo piorou nos dias seguintes, quando se soube que, em Washington, duas cartas envenenadas foram enviadas à Casa Branca e ao senador Roger Wicker. O suspeito de ter encaminhado os envelopes, Paul Kevin Curtis, 45 anos, foi preso em sua casa no Mississippi na quarta-feira 18, e qualquer relação dele com o atentado foi descartada. 

Curtis, que tem histórico de problemas mentais, acreditava ter descoberto uma conspiração sobre a venda de partes humanas no mercado negro.
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BOSTON
Sitiada Policiais isolam áreana caçada aos suspeitos.
Moradores foram orientados a não sair de casa


Em Boston, onde logo depois do atentado 12 quarteirões foram isolados pela perícia, turistas e moradores tiveram que deixar seus hotéis e casas – alguns nem mesmo puderam recolher seus documentos. 

Com o avanço das investigações, a volta para casa foi autorizada aos poucos, mediante a revista de bolsas e mochilas. Ao mesmo tempo, as feridas da cidade atingida foram sendo cicatrizadas por demonstrações públicas de solidariedade. 

Crianças entregaram flores brancas para maratonistas pedindo que voltassem à corrida do ano que vem e uma loja do Starbucks distribuiu cafés e donuts gratuitamente. Um fundo criado para ajudar as vítimas da tragédia levantou mais de US$ 7 milhões em apenas 24 horas. 

Na quinta-feira 18, durante ato ecumênico em memória das vítimas na Catedral de Santa Cruz de Boston, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou: “Nós vamos terminar a corrida. Não podemos deixar algo como isso nos parar.” Na sexta-feira 19, enquanto Dzhokhar ainda era perseguido, a polícia de Boston pedia para ninguém sair de casa e paralisou todo o sistema de transporte público. Era como se Boston estivesse sitiada.

Num país rescaldado pelos atentados de 11 de Setembro, Boston mostrou que estava preparada para atender as vítimas e que pode ser um exemplo para o mundo. 

Quatro dias após o ocorrido, a expectativa realista era de que todos os feridos resgatados com vida sobreviveriam, embora alguns ainda permanecessem internados em estado grave. Quando as bombas explodiram, os seguranças do evento esportivo evacuaram o local com rapidez, desviando o caminho dos corredores para a Commonwealth Avenue e abrindo espaço para o atendimento às vítimas. 

Numa tenda médica montada para eventuais emergências da maratona (basicamente, atletas com mal-estar e desidratação), pessoas feridas foram classificadas conforme seu estado de saúde e encaminhadas a oito hospitais da região em questão de minutos. Segundo o relato do cirurgião Atul Gawande, do Brigham and Women’s Hospital de Boston, à revista “New Yorker”, a mobilização começou logo que apareceram as primeiras notícias na tevê e foram espalhadas entre os médicos e enfermeiros por mensagens de texto, Twitter e aplicativos para smartphones. 

As equipes de atendimento dobraram, enquanto leitos eram esvaziados. Praticamente todos os hospitais têm profissionais com experiência em campos de batalha, no Iraque ou no Afeganistão, e em desastres traumáticos, como o terremoto no Haiti.

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