O nome de Ciro Gomes voltou a ganhar espaço no cenário político nacional. Depois de um período de recuo após o resultado nas eleições de 2022, quando afirmou que não
disputaria mais cargos eletivos, o ex-ministro passou a retomar articulações políticas e se tornou alvo de negociações para filiação com dois partidos de projeção nacional: PSDB e União Brasil.O movimento ocorre em meio à crise interna no PDT, partido ao qual Ciro é filiado desde 2015 e que, segundo fontes próximas ao ex-ministro, tornou-se insustentável para a permanência dele. A expectativa é de que o anúncio oficial da saída ocorra até setembro.
As articulações em torno de Ciro, que começaram no Ceará, base histórica dos Ferreira Gomes, avançaram para o plano nacional. Fontes ligadas à cúpula do PSDB afirmam que Ciro participou de reuniões recentes em Brasília com nomes centrais da legenda como o ex-governador de Goiás e atual presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, o ex-senador Tasso Jereissati, o deputado federal Adolfo Viana (BA), líder da bancada tucana na Câmara, e o deputado federal Aécio Neves (MG).
De acordo com relatos, a conversa foi considerada produtiva, mas ainda sem definição. Ciro se mostrou receptivo à ideia de se filiar, mas condicionou qualquer decisão a consultas internas.
Também há conversas em curso entre Ciro Gomes e o União Brasil. Fontes ligadas ao presidente da sigla no Ceará, o ex-deputado federal Capitão Wagner, afirmam que Antônio Rueda, presidente nacional da legenda, está à frente das tratativas. Houve uma reunião recente com a participação de Ciro, mas interlocutores dizem que nenhuma decisão foi tomada até o momento. As conversas também seguem em andamento.
Impacto local e projeção nacional
Aliados de Ciro avaliam que o foco do ex-ministro está hoje mais voltado para o Ceará, com nome cotado para disputar o Governo do Estado em 2026. No entanto, reconhecem que o nome dele ainda tem peso nacional, o que amplia os efeitos de qualquer movimentação partidária. A crise no PDT se agravou após o partido, no Ceará, aderir ao governo estadual e ao PT nacional, movimento que distanciou o grupo político de Ciro Gomes.
Fontes ouvidas relatam que, desde o início do ano, Ciro tem mantido encontros frequentes com o senador Tasso Jereissati, o prefeito José Sarto e o ex-prefeito Roberto Cláudio. As reuniões têm ocorrido tanto em Fortaleza quanto em Brasília. Em um dos últimos encontros, na capital federal, participaram também líderes tucanos nacionais e parlamentares que integram o núcleo político do partido na Câmara.
Críticas públicas a Lula e Bolsonaro
O retorno de Ciro ao centro das discussões também se deu pelas recentes manifestações públicas. Em vídeo publicado nas redes sociais, o ex-ministro classificou a disputa entre Lula e Bolsonaro como uma “polarização política de araque” e afirmou que esse embate está “destruindo o Brasil”.
Ele também criticou a forma como Lula tratou as tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, acusando o presidente de “comemorar algo que prejudica a indústria nacional”. Já sobre aliados de Bolsonaro, afirmou que fazem uma “defesa burra” dos interesses americanos.
As declarações mexeram com os planos oposicionistas no Ceará, com o deputado federal e futuro presidente do PL Ceará, André Fernandes, reagindo à fala de Ciro com a afirmação de que não mais apoiaria os nomes do ex-ministro e de Roberto Cláudio ao Governo do Estado.
Nos dias seguintes às declarações, aliados tentam amenizar o impacto do desgaste para o projeto eleitoral. Para parte deles, o cenário é contornável, apesar da tensão que paira.
O reposicionamento político de Ciro
Para a cientista política Mariana Dionísio, o retorno de Ciro Gomes ao debate político nacional nos últimos meses "indica uma tentativa clara de se reposicionar após o desgaste que sofreu nas eleições de 2022. As críticas que ele fez tanto ao governo Lula quanto ao governo Bolsonaro foram uma alavanca para reforçar a estratégia de um candidato de 'terceira via', independente. E esse discurso tem feito cada vez mais sentido nessa arena polarizada e cansativa, em que ninguém escuta ninguém."
"Para retomar o protagonismo, Ciro Gomes tem aproveitado a polarização a seu favor, reunindo a instabilidade institucional causada pelo Congresso ao governo federal, ao mesmo tempo em que se apoia na inelegibilidade de Bolsonaro. Nesse contexto, Ciro tenta capturar o eleitorado moderado e insatisfeito com os extremos", avalia.
Sobre a iminente saída do PDT, Mariana afirma: “A saída do PDT em setembro é inevitável porque, depois da crise iniciada no Ceará, que é o principal reduto político dos Ferreira Gomes, as fissuras do partido ficaram expostas e o desgaste ficou irreversível. E essa ruptura é mais do que uma simples troca partidária: trata-se do fim de uma longa trajetória de Ciro dentro do PDT".
"O partido já estava em processo de enfraquecimento desde antes da briga entre Ciro e Cid, se acirrando ainda mais pela debandada dos prefeitos e, com a saída de Roberto Cláudio, a tensão só piorou. Agora, ou o partido aceita a necessidade por uma reconfiguração com a escolha de novas lideranças, ou em breve estará fora no tabuleiro político"
A cientista política também comenta os caminhos possíveis: “Embora o PSDB ofereça uma afinidade histórica maior, com a visão liberal moderada na economia e uma defesa da institucionalidade democrática, o partido passa por um processo de esvaziamento e fragmentação, com pouca presença nacional e dificuldades para se reinventar eleitoralmente, e isso poderia limitar o alcance de um eventual novo projeto de Ciro"
“O União Brasil dispõe de maior capilaridade, além de ter um fundo partidário robusto e presença relevante no Congresso, o que é ótimo sob o ponto de vista pragmático. No entanto, o partido é marcado por alianças com setores que apoiaram o governo Bolsonaro, e isso pode gerar um desalinho com a trajetória crítica e combativa que Ciro construiu nos últimos anos”, pondera.
Mariana avalia ainda que Ciro Gomes ainda tem capital político e visibilidade nacional, mas seu espaço para disputar a Presidência em 2026 está significativamente reduzido. "Após quatro candidaturas presidenciais e uma derrota acachapante em 2022, Ciro enfrenta o desafio de reconstruir credibilidade e viabilidade eleitoral em um cenário ainda fortemente polarizado entre Lula e o bolsonarismo", diz ela.
"É mais provável que ele ocupe outro papel em 2026: o de articulador político, influenciador do debate público ou até mesmo como candidato ao Senado, caso busque manter relevância sem repetir o desgaste de uma nova derrota presidencial. Sua decisão dependerá, sobretudo, de sua capacidade de se reinventar e de ler corretamente esse novo cenário político", destaca a especialista.
cenário que espera Ciro em 2026
Para o professor Mauro dos Anjos, especialista em gestão pública, o cenário de 2026 para Ciro é mais restrito. Ele também acredita que Ciro tenha capital político e visibilidade, porém pontua alguns desafios. "Ele sofre rejeição tanto no campo progressista quanto entre os mais conservadores, e ainda não conseguiu renovar seu discurso”, afirma.
“Ciro ainda tem um capital político, experiência administrativa e uma excelente oratória. Atributos que podem ser revalorizados, principalmente se o eleitorado buscar uma alternativa racional e crítica ao embate Lula-Bolsonaro. Mas isso exigiria reconstrução de pontes, inclusive com antigos aliados", ressalta.
Ele avalia que o ex-ministro pode assumir outros papéis estratégicos: “É mais provável que ele ocupe outro papel em 2026: o de articulador político, influenciador do debate público ou até mesmo como candidato ao Senado, caso busque manter relevância sem repetir o desgaste de uma nova derrota presidencial.”
Sobre os eventuais destinos partidários, Mauro pontua: “Caso opte por partidos como PSDB ou União Brasil, ele terá que lidar com ruídos sobre incoerência e oportunismo. Ao mesmo tempo, pode ser lido como tentativa legítima de se recolocar no debate institucional, principalmente se mantiver sua linha crítica e propositiva.”
Ainda não há uma data definida para a nova filiação de Ciro Gomes, mas os bastidores partidários já se movimentam, e o nome do ex-ministro volta a circular como peça relevante no xadrez eleitoral de 2026. Por ora, ele segue indeciso sobre qual rumo partidário tomar. Ponto do Poder
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