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domingo, 21 de junho de 2020

BRASIL; OS EXTREMISTAS AVANÇAM

Por ipuemfoco   Postado  domingo, junho 21, 2020   Sem Comentários


Grupos criminosos que fazem parte do projeto autoritário bolsonarista radicalizam suas ações. 

À frente deles, nas ruas, está a ativista Sara Winter, que coordenou o ataque ao STF com fogos de artifício. As investigações em várias frentes estão desvendando os mecanismos de sustentação do esquema.

Quando o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) foi alvo de uma bateria de fogos de artifício no sábado, 13, uma ativista comemorou. Esse foi o maior feito da obscura Sara Winter, pseudônimo de Sara Giromini, à frente do grupo 300 do Brasil. 

Seria apenas mais um episódio bizarro levado a cabo por personagens pitorescos, que abundam no entorno bolsonarista, não fosse a ameaça concreta que as células extremistas e os grupos subterrâneos representam. Eles podem gerar ações desastrosas para a democracia. E, por isso, o STF está encarando o risco bem a sério. A prisão de Sara foi apenas um passo para desbaratar um esquema criminoso que só agora ganha contornos mais nítidos.

A nova líder da guerrilha bolsonarista, Sara Winter, costumava sair à rua aos 14 anos munida de soco inglês. “A cada ano que passa ela está pior e mais radical”, diz seu irmão Diego Giromini, um lutador de MMA e motorista que mora em São Carlos. 

“Ela é fria e calculista em todos os seus movimentos na vida.” Segundo ele, Sara é perversa e exibicionista. “Ela integra um movimento político, mas, dentro de sua cabeça, é como se integrasse uma gangue de rua”, diz. Quando jovem, Sara trancava-se no quarto acompanhada de livros sobre o regime nazista. 

Aos 15 anos, chegou a tatuar no peito uma cruz de ferro, condecoração militar alemã. Nascida em São Carlos, no interior de São Paulo, abandonou o sobrenome Giromini assim que deixou a casa dos pais, aos 16 anos. 

Foi prostituta entre os 17 e 20 anos, segundo o irmão — ela só admite dez meses. Winter é uma homenagem a uma socialite inglesa que apoiava o movimento fascista e foi acusada de ser espiã nazista.

A brasileira conseguiu se destacar ao trazer para o Brasil o grupo ucraniano feminista Femen, em 2008. Dizia-se vítima de abusos sexuais e começou a aparecer de topless na mídia gritando “fora Bolsonaro”. Na época, pedia a cassação do então deputado e chegou a “castrar” simbolicamente um boneco que o representava. 

Em 2012, foi até a Ucrânia conhecer melhor o grupo e, um ano depois, já no Brasil, foi expulsa, acusada de desvios de dinheiro. “Sara já disse que admirava Hitler como pessoa, que o nazista foi um bom marido e amava os animais”, disse Bruna Themis, ex-companheira no Femen Brasil. Adotou, então, um novo discurso: o de antifeminista. 

Passou a ser contra o aborto, a ideologia de gênero, as drogas, a doutrinação marxista, a jogatina e a prostituição. E assim iniciou sua carreira política pelo DEM (foi expulsa em junho desse ano por “desrespeitar a democracia e flertar com tendências inaceitáveis”). 

Tentou concorrer às eleições como deputada federal do Rio de Janeiro, em 2018. Não se elegeu, mas chamou atenção da ministra Damares Alves. Foi convidada para ser coordenadora nacional de políticas à maternidade no Ministério de Mulheres, Família e Direitos Humanos. Virou bolsonarista convicta e líder de grupo de extrema-direita 300 do Brasil.

Vestidos com roupas pretas e carregando tochas, os 300, que, na verdade, muitas vezes não passam de 15, já marcharam em Brasília criticando o STF. Defendem a volta do AI-5. Na Alemanha nazista, defensores do extermínio judeu também marcharam com tochas pouco depois de o ditador chegar ao poder. 

Seus membros simulam treinamento militar. Vários andam armados, já admitiu Sara. As principais pautas defendidas são semelhantes às das manifestações antidemocráticas que se reproduzem aos domingos em várias cidades: apoio ao presidente Jair Bolsonaro, pedido de intervenção militar, ataques aos ministros do STF e aos presidentes da Câmara e do Senado. 

O 300 do Brasil ficou acampado na frente do Palácio do Planalto durante um mês, antes de partir para sua ação mais ousada. Na cabeça de Sara, o objetivo era reproduzir os episódios de 2013 e 2014 na Ucrânia, em que grupos armados de extrema direita invadiram prédios públicos a fim de forçar a renúncia do então presidente Víktor Yanukóvytech. 

Agindo de maneira calculada e narcisista, ela quer ser conhecida por ter “ucranizado” o Brasil. Aqui, as invasões não se concretizaram. Sara foi acusada pelo Ministério Público Federal de injúria e ameaça contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, a quem ameaçou. Se condenada, será obrigada a indenizá-lo por danos morais. Até ser presa, buscava desesperadamente a fama. No fundo, conseguiu. Tornou-se um dos assuntos mais comentados do País, ainda que de forma negativa.


Máquina do ódio

Antes mesmo da prisão de Sara, na segunda-feira, 15, outro participante do ataque ao STF foi detido, mostrando a conexão entre os grupos extremistas: Renan Sena, ex-funcionário terceirizado do Ministério da Mulher, de Damares Alves. Sena é uma figura conhecida das manifestações bolsonaristas. Já foi indiciado por injúria em maio, quando xingou enfermeiras que participavam de ato em memória a vítimas da pandemia, empurrando uma delas. 

Além de Sara, mais cinco integrantes do 300 do Brasil tiveram a prisão decretada, com base na Lei de Segurança Nacional. Entre eles, Emerson Rui Barros, que concorreu em 2018 a deputado estadual na Bahia pelo PSL.

Sara não age sozinha. Segundo um integrante da CPMI das Fake News, os grupos extremistas são financiados por empresários que ajudam nos atos e manifestações com camisas, carros de som, bandeiras, fogos, faixas, segurança, comida, barracas, passagens de avião e fretamento de ônibus. 

Entre os principais nomes que inflamam os ativistas estão o militar reformado da Marinha Winston Lima, a youtuber Camila Abdo, a assistente parlamentar Stefanny Papaiano (conhecida como Steh Papaiano) e os deputados estaduais do PSL paulista Douglas Garcia, Valéria Bolsonaro e Letícia Aguiar. 

Além das doações de empresários, boa parte dessa máquina de anarquia funciona com dinheiro público: verba da Secretaria de Comunicação (Secom), agora incorporada ao Ministério das Comunicações, que abastece os blogueiros de direita e seus canais. As reuniões são marcadas em redes sociais com diálogos codificados e truncados. As conversas acontecem em contas de codinomes como senor Romanini, Left Dex, Kodhak, Deixa o Loen te Leitar?, Brasileirinhos, Movimento Brasil Conservador e divas da opressão. Todos seguem o escritor Olavo de Carvalho, “guru” do presidente. 

A arruaça não se limita a Brasília, como mostra a prisão em São Paulo dos ativistas Antonio Carlos Bronzeri e Jurandir Alencar, que participaram de um protesto no dia 2 de maio em frente ao prédio do ministro Alexandre de Moraes.

O cerco da justiça

A ação de Sara Winter, no dia 13, foi a ação mais ousada de seu grupo até agora. Brasília se tornou literalmente uma arena de guerra. A falange agiu após ser expulsa do seu acampamento por ordem do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. Ele agiu após receber informações de inteligência de que o grupo pretendia partir para atos concretos contra o Congresso e o STF, como de fato ocorreu. 

O bando Invadiu o teto do Congresso, de onde disparou os fogos de artifício contra o prédio do STF, e contou com a benevolência das forças de segurança. O governador considera que os policiais não reagiram, por isso exonerou o subcomandante-geral da PM. O fato é alarmante, pois a cooptação das polícias militares pelo bolsonarismo, que pode se tornar uma realidade, é um dos grandes riscos para a estabilidade democrática. 

O clima de insegurança pairava nos dias seguintes. Integrantes da inteligência do governo detectaram que remanescentes do grupo de Sara Winter fizeram ameaças ao bispo da Catedral Metropolitana de Brasília. Após esse incidente nebuloso, o governador determinou o fechamento da Esplanada dos Ministérios por dois dias.

“Eu não vou ter medo de careca, idiota, moleque, que quer me calar. Moralmente falando, sua conduta é a de um verme, um verme imoral, um verme lixo” Allan dos Santos, blogueiro, para o ministro Alexandre de Moraes, do STF

A escalada teve uma resposta à altura do STF. Na terça-feira, a PF realizou uma operação contra aliados do presidente suspeitos de financiar atos golpistas. Foram expedidos 21 mandados de busca e apreensão. Entre os alvos estavam o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), o blogueiro Allan dos Santos (também investigado no inquérito das Fake News), o empresário Otávio Fakhoury, o advogado Luís Felipe Belmonte e o marqueteiro Sérgio Lima, que tiveram os sigilos bancários e telemáticos quebrados. 

Os dois últimos são articuladores do Aliança pelo Brasil, o partido que Bolsonaro tenta viabilizar. Em outra frente, dez deputados bolsonaristas e um senador tiveram os sigilos quebrados. O grupo inclui Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli, (PSL-SP), Daniel Silveira (PSL-RJ) e General Girão (PSL-RN).

O cerco à máquina do ódio se fecha. As investigações em várias frentes estão conseguindo desvendar os mecanismos de sustentação dos extremistas e, ao mesmo tempo, identificar os personagens em comum. A crise se aproxima cada vez mais do Planalto. Fred Wassef, pivô da prisão de Fabrício Queiroz e advogado de Flávio Bolsonaro e do seu pai, é o elo de ligação entre grandes financiadores do esquema de fake news e as ações antidemocráticas, de acordo com o deputado Alexandre Frota. 

O inquérito das Fake News (aberto de ofício pelo STF), o inquérito dos atos antidemocráticos (a pedido da PGR) e a CPMI das Fake News são conexos e convergem em direção ao âmago da máquina política de Jair Bolsonaro. 

Os vários braços já estão mapeados: os coordenadores, os parlamentares, os mentores intelectuais e os extremistas, como Sara Winter, que estão na linha de frente. Os financiadores já estavam na mira do STF. 

Quatro suspeitos já tiveram o sigilo fiscal e bancário quebrado: Luciano Hang, dono das lojas Havan, Edgard Corona, empresário da rede de academias Smart Fit, Reynaldo Bianchi Junior e Winston Rodrigues Lima, já citado acima.

A ofensiva da Justiça tem aumentado a inquietação no Palácio do Planalto. Uma das apostas do presidente era a invalidação do inquérito das Fake News. Mas o STF decidiu na última semana que o inquérito vai prosseguir. A corte está agindo de forma coesa, como mostram as recentes declarações de seus membros. Alexandre de Moraes disse que “liberdade de expressão não se confunde com ameaça, com atentado”. 

“Temos que matar no nascedouro esses atos abomináveis que têm sido praticados contra o STF. São o germe do terrorismo”, ressaltou Luiz Fux. A reação se ampara em sinais alarmantes, como apontou Moraes, citando uma mensagem incitando ao estupro e à morte das filhas dos ministros. 

Outra insinuava que manifestantes deviam “jogar combustível e tocar fogo do plenário com os ministros dentro”. Moraes lembrou ainda o caso de um artefato que explodiu em frente à casa de um dos ministros.

As ações das milícias, por enquanto, tiveram o efeito contrário pretendido por seus mentores e fortaleceram as vozes do Congresso e do Judiciário em defesa da democracia. Bolsonaro acusou o golpe. 

O ocorrido, quebrando sigilos de parlamentares, não tem história nenhuma numa democracia, por mais frágil que ela seja. Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”, disse após as decisões do STF que impulsionaram decisivamente as investigações. 

Foi mais uma ameaça contra as instituições. Para o presidente, Sara Winter é uma encrenqueira oportunista, mas conveniente. Ele acha que ela quer apenas se cacifar para uma carreira política. É útil como instrumento de ataque às instituições, sem que ele precise aparecer como mandante. 

Mas ela pode, na verdade, antecipar o maior revés que o bolsonarismo se arrisca a sofrer. A máquina de ódio, contida pela Justiça, tem o potencial de unir o País contra o mandatário.

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