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terça-feira, 9 de abril de 2019

O RIO DE JANEIRO É UM ENORME BURACO

Por ipuemfoco   Postado  terça-feira, abril 09, 2019   Sem Comentários


Como a corrupção, o descaso e a inaptidão dos políticos transformou a "cidade maravilhosa" numa tragédia financeira, moral, logística, até emocional.
A Gávea, na Zona Sul do Rio, foi uma das áreas mais atingidas pelas chuvas da noite da segunda 8. Um homem caiu da garupa de uma motocicleta e morreu afogado. 

Para escapar do bairro, muitas pessoas caminharam cerca de dois quilômetros — enfrentando a força das águas e riscos diversos — para chegar à estação de metrô Antero de Quental, no Leblon. Outras que procuravam sair do Jardim Botânico também buscaram o Leblon, embora estivessem mais perto da Gávea. 

Não teriam passado por isso se, no campus da Pontifícia Universidade Católica, não houvesse uma obra parada há quatro anos. É a da construção da estação Gávea, parte da linha 4 do metrô. Parou porque acabou o dinheiro que, segundo o contrato, o Estado deveria repassar para o consórcio do qual fazem parte as empreiteiras Queiroz Galvão, Odebrecht e Carioca Engenharia. 

Pelos últimos cálculos, o custo de toda a linha 4 seria de R$ 8,5 bilhões. Em relatório de 2016, técnicos do Tribunal de Contas do Estado apontavam que o projeto pode ter dado um prejuízo de R$ 2,3 bilhões aos cofres públicos. 

O buraco do metrô da Gávea é um dos muitos símbolos do Rio de Janeiro de hoje. A estação deveria ter sido inaugurada antes da Olimpíada de 2016. Foi anunciada por Sérgio Cabral e Eduardo Paes, então governador e prefeito, como um dos principais legados do evento. 

Virou um buraco real e metafórico — muito dinheiro sujo passou por ele. Como se sabe hoje, todas as obras para a Copa de 2014 e para a Olimpíada tinham uma taxa de corrupção estabelecida por Cabral: 5%. Este era apenas o percentual dele; os demais envolvidos tinham os seus. 

O Parque Olímpico, de 1,18 milhão de metros quadrados, está sem uso. Com as últimas chuvas, mais um trecho da Ciclovia Tim Maia desabou. É a quarta vez em que isso acontece. Em 2016, duas pessoas morreram. 

Os projetos realizados com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), como os do Complexo de Manguinhos e o teleférico do Complexo do Alemão, estão parados ou destruídos por falta de manutenção.
Outro trecho da ciclovia Tim Maia caiu com a forte chuva. Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo
O atual prefeito, Marcelo Crivella, faz jus ao título de vilão da vez. É um sem-noção, para usar gíria bastante usada na cidade. Na noite da segunda, disse que 20 homens da Prefeitura estavam nas ruas trabalhando contra os estragos das chuvas. Falou com orgulho, como se 20 fosse um número expressivo diante da situação. 

Em março passado, classificou o Rio como uma “esculhambação completa”. Não era uma autocrítica, mas uma saraivada de queixas contra a corrupção na Polícia Militar, a “herança maldita” de Eduardo Paes e outros problemas. 

Ele não está errado em denunciar problemas que herdou, mas isso não atenua seus erros de gestão e algo que está relacionado a tudo isso: ele não gosta do cargo que ocupa. Sempre demonstra fastio, amargura, como se o tivessem designado para ser pastor numa região que o aborrece. 

Porém, foi ele quem quis ser. Elegeu-se com os votos de 1.700.030 pessoas. E diz que, caso não sucumba a um processo de impeachment que corre na Câmara dos Vereadores, vai se candidatar à reeleição. Ainda não está claro por que pretende continuar num posto que tanto o irrita. 

Governador eleito há pouco mais de três meses, Wilson Witzel já sonha ser candidato a presidente. Ainda nem teve tempo para reduzir os danos provocados pelas gestões de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão — ambos presos — e já sonha com Brasília. Não é postura de alguém que tenha sincero compromisso com o Estado que governa.
Crivella foi eleito prefeito do Rio com 1.700.030 votos. O síndico Raul Rocha tenta limpar um apartamento no bairro do Jardim Botânico, zona zul do Rio. Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O Rio de Janeiro é um enorme buraco financeiro, moral, político, logístico, até emocional. É terrivelmente triste viver na cidade hoje. O clichê “não há saída” é sentido concretamente. Como pensar numa “refundação” (outro clichê) se o buraco é tão fundo e tão largo? E é um buraco que cresce há muito tempo — bem antes de Cabral, diga-se, embora ele seja o representante maior da casta de governantes que se empenhou para destruir o Estado e a capital. 

Segundo o jornal O Globo, Crivella ainda não gastou, em 2019, um centavo sequer em drenagem urbana. É um dado gravíssimo no quadro emergencial. Mas existe uma deterioração estrutural. Não há — e isso também não vem de hoje — políticas de saneamento básico, de urbanização de favelas, de habitação. Quando cai com força, a chuva traz tudo isso à tona. 

No Rio, como em outras metrópoles brasileiras, as pessoas moram muito longe de onde trabalham. Gastam dinheiro, saúde e horas para se locomover na cidade. Quando chove, são milhares os que ficam nas ruas caçando uma forma de ir para casa. Com sorte, entram num ônibus velho e sem ar-condicionado ou andam quilômetros até uma estação de metrô. 

Na Gávea, os trabalhadores costumam sair por volta de 16h para iniciar a longa jornada até suas casas, nos subúrbios, na Baixada Fluminense. Na segunda, muitos não puderam sair a tempo de evitar os alagamentos. 

E não tinham uma estação de metrô por perto. No lugar dela estava um buraco que retrata uma cidade que, nem com sarcasmo, pode ser chamada de maravilhosa.

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