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domingo, 25 de novembro de 2018

O NOVO DESENHO DA DIPLOMACIA DE BOLSONARO

Por ipuemfoco   Postado  domingo, novembro 25, 2018   Sem Comentários


Acostumado ao multilateralismo, o Brasil inaugura uma era em suas relações diplomáticas de alinhamento irrestrito aos países mais fortes, como os EUA.

Na Segunda Guerra Mundial, o Brasil demorou aproximadamente três anos para romper oficialmente relações com o Eixo e passar a apoiar os Aliados na luta contra a Alemanha nazista. Oficialmente, o principal motivo para que o país acabasse com a sua posição de neutralidade foi o afundamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães no início de 1942. 

Na verdade, porém, a demora no posicionamento está ligada à tradição diplomática brasileira, que sempre repudiou o caminho do confronto. Embora territorialmente grande, o Brasil nunca foi uma potência em termos mundiais. Assim, suas decisões no campo da diplomacia sempre se pautaram pela prudência e pela análise aprofundada das vantagens que poderia ter ao pender para um lado. Foi o que aconteceu no episódio da Segunda Guerra. 

Por trás da questão militar, havia uma imbricada negociação internacional. De um lado, o empresariado brasileiro, à época favorável à Alemanha de Hitler. Do outro, um esforço de sedução econômico norte-americano, que acenava com vantagens ao Brasil caso o país se alinhasse aos Aliados. Com o tempo, a decisão de Vargas de apoiar os Estados Unidos revelou-se acertada. 

O país recebeu aportes financeiros para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), no Rio de Janeiro, e viu surgir um importante polo siderúrgico que fomentou o desenvolvimento econômico carioca durante o século XX.

Hoje, o mundo não está mais polarizado em torno de uma guerra mundial. E nem são muito claras possíveis intenções dos Estados Unidos em trocar apoio por alavancagem econômica. A despeito de tudo isso, porém, mais uma vez a diplomacia brasileira ensaia uma guinada na sua clássica posição de neutralidade a partir do início do governo de Jair Bolsonaro e de seu chanceler, Ernesto Araújo. 

Saem de cena os blocos econômicos que o próprio Brasil ajudou nos últimos anos a construir — o Mercosul, que une os países da América do Sul, e o BRICS, envolvendo Rússia, Índia, China e África do Sul — e retorna o alinhamento total e quase irrestrito ao governo dos EUA. Integrantes do Itamaraty vêem com cautela ao cavalo de pau nas relações diplomáticas brasileiras. 

Após ser eleito, Bolsonaro e sua equipe repetiu o mantra de que o Brasil precisa acabar com o critério ideológico para estabelecer quais são seus parceiros comerciais. O ponto é que, caso os sinais dados até o momento pela equipe de Bolsonaro sejam concretizados, o Brasil pode exatamente adotar critérios ideológicos ao formar suas novas parcerias — e isso provoca inquietações até na ala mais conservadora do Itamaraty. 

Ainda que possa ter havido alguma inclinação política em alguns acordos, como o caso dos médicos cubanos para o programa Mais Médicos, o que tradicionalmente define a política externa é o pragmatismo, que faz com que o país opte pelas melhores escolhas sem olhar bandeiras ou ideologias. Tudo bem que não foi exatamente esse o caminho escolhido pelos governos petistas, que financiaram ditaduras em troca de apoio político-ideológico. 

Mas não foi para incorporar o PT ao contrário que 58 milhões de brasileiros escolheram Bolsonaro, e sim para fazer o contrário do PT. Um exemplo do tradicional e bem-vindo pragmatismo da política externa brasileira é o fato insofismável de que as relações comerciais e técnicas entre o Brasil e a extinta União Soviética cresceram no período mais duro da ditadura militar, com o presidente Emílio Garrastazu Médici. A cooperação se deu principalmente na construção de usinas hidrelétricas, na exploração de petróleo e no desenvolvimento da tecnologia do etanol como combustível.

Poder de barganha

Assim, fazer opções que claramente aliem o Brasil a um contencioso dos Estados Unidos, como a troca da embaixada de Israel ou redução do comércio com a China, pode se tornar uma perigosa escolha de um lado na política externa, na avaliação de estudiosos ouvidos por ISTOÉ. 

Além disso, ao indicar que pode menosprezar blocos internacionais ou o comércio multilateral, o Brasil corre o risco de cair em uma espécie de isolamento econômico com imenso potencial de dano para sua balança comercial — e acabar perdendo poder de barganha mesmo com aqueles países com os quais manifesta interesse de estreitar relações. 

Mesmo durante governos militares, quando se praticou um soberanismo mais estreito com Costa e Silva, Médici e Geisel, o Brasil participou ativamente dos foros multilaterais, como a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, ou do G-77, a grande coalizão de países em desenvolvimento que teve origem na Assembleia Geral da ONU.

“Os sinais dados até o momento pela equipe do governo eleito, sobre a política externa brasileira, são bastante preocupantes. Mas é preciso esperar a consolidação de determinados planos”, considera o professor Juliano da Silva Cortinhas, do Instituto de Relações Internacionais (IREL) da Universidade de Brasília (UnB).

Se dependesse apenas da linha de pensamento e da vontade dos principais integrantes do governo, o alinhamento com Donald Trump seria integral. Durante a campanha e na fase de transição, integrantes do governo Bolsonaro defenderam que o Brasil fosse uma espécie de Estados Unidos dos trópicos e que o presidente eleito fosse conhecido como o “Donald Trump” brasileiro.

Na linha defendida pelo PSL do presidente eleito Jair Bolsonaro, o Brasil cortaria de forma unilateral acordos com países como Cuba, Bolívia e Venezuela e outros tidos como parte do bloco de esquerda do mundo. O novo chanceler, Ernesto Araújo, é um entusiasta de Donald Trump. 

Diplomata há 29 anos, mas sem ter chefiado qualquer embaixada na sua carreira, ele é tido entre os colegas como um conservador católico e crítico da condução da política externa brasileira nos últimos anos. A primeira medida anunciada por ele é uma espécie de auditoria sobre as ações internacionais do Brasil nos últimos 13 anos. 

“Temos muito a fazer por aqui, a começar por um exame minucioso da ‘política externa ativa e altiva’ em busca de possíveis falcatruas”, descreveu o novo chanceler em texto no twitter.

Em um blog pessoal, Araújo prega contra o “Globalismo”, uma teoria que professa que “ a globalização econômica passou a ser pilotada pelo marxismo cultural”. Nessa linha, Araújo acredita que grupos marxistas tentam impor aos países conceitos como forma de minar os princípios básicos da sociedade cristã ocidental. 

Para o futuro chanceler, a ideia de “imigração ilimitada” está “a ponto de destruir as sociedades europeias e a norte-americana”. Embora polêmicos ante a própria ala liberal do Itamaraty, os textos de Ernesto Araújo em seu blog pessoal acabaram virando o caminho mais curto para sua ascensão ao comando das Relações Exteriores. 

O credo que professa coincide com o do próprio Bolsonaro e seu grupo. A questão central, e aí entra de novo o pragmatismo, é: como conciliar as preocupações em relação à “China maoísta” com o fato de que metade do que o Brasil exportou de commodities neste ano teve como destino o mercado chinês? 

As convicções do novo chanceler vão se sobrepor aos interesses dos frigoríficos nacionais, como a BRF, que podem ser prejudicados com uma eventual retaliação dos países árabes?

A postura frente aos Estados Unidos divide opiniões no Itamaraty, sobretudo diante da inequívoca assimetria de poder existente entre os dois países. Alguns temem que o Brasil, a partir de agora, vire uma espécie de “puxadinho norte-americano”, nas palavras de um diplomata ouvido por ISTOÉ. 

No governo Bolsonaro, comemora-se intensamente a sinalização dada pelo presidente dos Estados Unidos de que virá à posse do novo presidente no dia 1º de janeiro. Caso isso aconteça, será a primeira vez que um presidente norte-americano prestigia a posse de um presidente brasileiro. 

Na Segunda Guerra, o alinhamento com os Estados Unidos, a partir da permissão dada para que os americanos construíssem uma base aérea em Natal (RN), ajudou a promover o avanço industrial na era Vargas. Convém lembrar que o mundo não está mais em guerra.

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