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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A SOLIDÃO DE DILMA

Por ipuemfoco   Postado  sexta-feira, outubro 09, 2015   Sem Comentários

O poder talvez seja a mais solitária das ambições. O topo costuma ser lugar deserto. E solidão do pior tipo: atribulada, permanente assediada e cercada de gente e interesses. Companhias que só aprofundam o isolamento. É assim na rotina e ainda mais nas crises.

Nesse sentido, poucas vezes na história brasileira alguém esteve tão só quanto Dilma Rousseff (PT). A presidente está cercada de assessores, conselheiros, puxas-sacos, um novo time ministerial. Porém, não tem companheiros, de fato. Aliados puxam seu tapete e pressionam para arrancar tanto quanto conseguirem. Toda a responsabilidade pela situação de crise econômica e desarranjo político desaba sobre sua cabeça.

Dilma bate recordes de impopularidade. Recebe críticas, às quais fez por merecer. Todos têm direito de estar descontente e é justo e democrático que essa insatisfação se expresse. Mas, o limite da reclamação tem sido ultrapassado. A presidente tem sido alvo de manifestações do mais desbragado ódio e de extremas grosserias, com sinais graves de misoginia. Expressões que encontram como veículo privilegiado de propagação canais de interação como Whatsapp e Facebook. Uma vergonha e uma lástima.

Em condições normais, a política já tem ingredientes paranoicos. Particularmente na esquerda, conforme bem salienta o psicanalista e ele próprio militante de esquerda Valton Miranda. Quem está em posição de mando atrai ao seu redor toda sorte de interesseiros e bajuladores. É difícil discernir onde há sinceridade, se é que há em alguma parte, nas relações que se precisa construir quando se governa. É natural o receio sobre as intenções alheias. Gestos de generosidade são recebidos com desconfiança. Essa é parte da maldição do poder.

Na situação de Dilma, tudo isso se amplifica. Nas últimas duas décadas, nunca um governo esteve tão frágil, tão ameaçado. Principal partido aliado, o PMDB é a principal fonte de seus dessabores. E tem entre seus quadros filiados os três primeiros nomes na linha de sucessão: o vice Michel Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o do Senado, Renan Calheiros. Mesmo entre os petistas, ela é alvo de críticas. Inclusive de Luiz Inácio Lula da Silva.

Acuada pelos políticos, por contingentes crescentes da população, sob crítica de movimentos sociais e sem demonstrar saber o que fazer, a presidente é hoje uma personagem melancólica.

UMA PRESIDENTE SEM GRUPO

A ascensão de Dilma na política é atípica. Há cinco anos na Presidência, não se vislumbra um núcleo “dilmista”. No primeiro mandato, tinha como homem forte Antonio Palocci, herdado do petismo paulista. Não durou seis meses no cargo. Aproximou-se de Miriam Belchior, que havia sido secretária executiva do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) quando a presidente estava na Casa Civil. No primeiro mandato de Dilma, Belchior foi ministra do Planejamento. Hoje, preside a Caixa Econômica Federal.

Mas, Belchior é petista egressa do núcleo paulista. Foi casada com o ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em 2002, quando já estavam separados. Integrou a equipe de transição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi assessora da Presidência no começo do mandato do presidente, até ser levada por José Dirceu para a Casa Civil. Quando Dilma chegou, já a encontrou lá.

Outra personagem bastante identificada com a presidente é Graça Foster, que comandou a Petrobras até o início do ano. Elas se aproximaram quando a hoje presidente era ministra das Minas e Energia. Foi arrastada diante da monumental crise da empresa.

Quando chegou à Presidência, quem era considerado um dos aliados mais próximos da presidente era o atual governador mineiro, Fernando Pimentel. Desempenhou papel importante na campanha e foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No decorrer do primeiro mandato, gradualmente perdeu espaço.

Nesse período, quem ascendeu no conceito de Dilma foi Aloizio Mercadante. Foi ministro da Educação e depois assumiu a Casa Civil. Na recente reforma ministerial, diante das pressões, ela teve de tirá-lo do núcleo de gerenciamento do governo e devolvê-lo à Educação. Com isso, atendeu pedidos de Lula e do PMDB. Não conseguiu refresco político e ficou ainda mais isolada.

UMA PRESIDENTE UM POUCO FRUTO DO ACASO

Bem diferente de Lula, a chegada de Dilma à Presidência contou com certa dose de acaso. O ex-presidente, a partir dos anos 80, já se preparava para chegar ao Planalto. É conhecido o episódio quando, depois de ser derrotado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na eleição de 1998, o petista visitou o Palácio da Alvorada. FHC o conduziu pelos aposentos presidenciais, inclusive mostrando o banheiro, e justificou: “Um dia você ainda vai morar aqui”.

Na trajetória de Dilma, até cinco anos antes de ser eleita, nada indicava que um dia iria chefiar o Executivo federal. Até 2010, nunca havia concorrido nem a vereadora. Militante egressa da luta contra a ditadura, havia ocupado alguns cargos de certo destaque no Rio Grande do Sul. 

Em 2003, virou ministra das Minas e Energia. Dois anos e meio depois, o mensalão derrubou José Dirceu da Casa Civil e Dilma foi chamada por Lula para o lugar. Quando o ex-presidente foi reeleito, começou sua estratégia para fazer o sucessor. Sob desconfiança da velha guarda petista, ela ganhou a alcunha de “mãe do PAC”. Começava a construção da candidata.

A falta de alicerce político e pessoal para levar Dilma à Presidência explica hoje parte da atribulada solidão que vivencia. O resto é culpa mesmo dos erros, na gestão e na política.opovo

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