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domingo, 8 de fevereiro de 2015

OS BLOGS SURGIRAM COM OS TIJOLAÇOS DE LEONEL BRIZOLA

Por ipuemfoco   Postado  domingo, fevereiro 08, 2015   Sem Comentários

Ouvindo,os discursos de Dilma Rousseff e Lula no aniversário de 35 anos do PT, pensei, a princípio, em analisá-los, na reafirmação de valores e projetos que neles foi feita.

Depois, em conversar sobre o processo de “transformação em partido igual aos outros” que Lula identificou estar em marcha dentro do PT e que, guardadas as devidas proporções, mais cedo eu vi – e muito mais viu Leonel Brizola – naquele PDT borbulhante de vida que surgiu no início dos anos 80 e que floresceu na incrível – só quem viveu sabe o quanto foi – vitória de 1982 nas eleições do Rio de Janeiro.

– Brito, a verdade é que todos nos aburguesamos, uns menos, outros mais, outros completamente. 

Diversas vezes ouvi isso dele, desde o início dos anos 90.

Mas tudo isso soaria pessimista e pessimismo é algo que não pode ter quem, como minha geração, viu que o Brasil – embora não suas elites – mudou.

Então, praticando o mais antiquado dos jornalismos, que não entra no assunto senão lá bem depois da décima linha, resolvi contar a história dos “tijolaços” de Brizola, que dão nome a este blog.

Embora possa parecer inconcebível aos mais jovens, não havia internet…

É…

Para falar, só por concessão dos jornais ou imprimindo panfletos ou “jornalecos”, como chamávamos os já então cadentes jornais alternativos…

Brizola, tal como faria Lula em seu primeiro mandato (e apesar da Proconsult, tentativa de fraude eleitoral que teve a cobertura política do “sistema de apuração” montado pela Rede Globo), tentou manter relações de cooperação com a grande mídia.

Não houve contemplação e a carga da Globo começou com a recusa (imaginem isso hoje!) a transmitir o desfile de Carnaval no Rio de Janeiro porque este aconteceria na Passarela do Samba, a primeira e mais inesperada grande obra de seu Governo.

A inacreditável charge deste post é o ponto a que chegaram, pois Odorico Paraguassu era um prefeito corrupto, que construíra um cemitério que não se inaugurava por falta de mortos, numa cidadezinha no interior baiano.

Como estava nascendo a TV Manchete, de Adolpho Bloch – com parte do espólio da TV Tupi – Brizola encontrou no interesse comercial do velho editor a porta de saída para o impasse criado pela Globo. 

E com um sabor todo especial para o velho Bloch, o carnaval quase o fizera perder a concessão no início do Governo João Figueiredo, porque – quem narra é Mario Sérgio Conti – nas coberturas carnavalescas da revista Manchete, o general dizia que “só dá bicha e mulher pelada e vocês vão colocar isso na televisão”…

Mas nos jornais, não havia sequer um “buraco de foca” para respirar.

De O Globo não é preciso falar. Mas era com o Jornal do Brasil, essencialmente, que Brizola se preocupava. O jornal era, ainda, a “meca” dos chamados “formadores de opinião” no Rio e, ao lado do “Estadão”, em nível nacional.

No início de 1984, começaram os “ensaios” do nascimento dos tijolaços, com a publicação de algumas matérias pagas de Brizola respondendo aos ataques do jornal. E em julho daquele ano, a publicação torna-se sistemática (e numerada), sob o título de “Esclarecendo a População”.

Foram 456 publicações, entre 84 e 98, período mais expressivo de sua presença nacional. E outros tantos, depois, que só o trabalho incansável, espontâneo e meticuloso de meu bom amigo Apio Gomes, guardião desta memória, vai nos permitir um dia recuperar e analisar.

De vago colaborador inicial – havia um grupo que pautava e recolhia dados para auxiliá-lo, composto por Martha Alencar, José Antonio Leão Ramos, Simão Gorender e Jacó Filho – tornei-me auxiliar permanente de Brizola nesta tarefa.

Hoje, é engraçado ver que fazíamos – impresso e pobre – um blog antes dos blogs. Até mesmo o financiamento por contribuições – hoje chamado pomposamente de “crownfunding”, e que para nós era “vaquinha”, mesmo…) – era feito, com uma conta bancária que recebia doações para pagar sua veiculação, o que era complementado com fundos do PDT.

Claro que muitas vezes, por dever de ofício e por convicção mesmo, critiquei duramente a forma que havia ali – textos longos, parágrafos imensos, metáforas, etc – de fazer comunicação.

E ouvia quase sempre uma resposta: não tem importância, Brito: isso aqui é a munição que o nosso pessoal precisa para travar a polêmica.

Demorei a entender que a mídia – antes e mais agora – funda seu poder na interdição do debate, do contraditório.

Escolhe suas “campanhas”, cria seus heróis – descartáveis, como Roberto Jefferson, Joaquim Barbosa e, hoje, Sérgio Moro – e estabelece suas verdades.

Só uma vez, a cada quatro anos, nos espaços dados pelas campanhas eleitorais, podemos contestá-los. E é incrível como esta pequenina janela, nos últimos 13 anos, tem sido o suficiente para derrotá-la.

Desta vez, porém, foi por pouco e nem mesmo a pequena trégua pós-eleitoral tivemos. E a janela seguinte está distante, muito distante.

O “nosso pessoal”, como dizia o velho Briza, está perplexo, desarmado, atônito.

Sem munição.

Embora hoje esteja, com a internet, muito mais bem armado para a polêmica.

É importante, mas não suficiente, que a Presidenta peça que se trave a “batalha da comunicação” e que Lula registre que vê se repetir “o mesmo ritual” da mídia: “toda quinta-feira começam a sair boatos; na sexta-feira a denúncia é publicada pelas revistas; no sábado, sai na televisão e no domingo massacre pela imprensa”.

Ambos, no limite da prudência, mas sistemática e corajosamente, precisam entender que é em suas palavras, informações e visões que está o paiol que municia aquela maioria que os levou – e tem levado – ao governo.

E que assiste, toda semana, o “massacre pela imprensa” sem ter, por falta de palavras e ideias que rasguem como bala o cenário onipresente na comunicação constrói com papel e imagens.

E que, com o tempo e a falta de reação, torna-se tão sólido que só depois de muitos anos, com a história, revelar-se-á apenas um biombo para a velhíssima realidade da dominação do povo brasileiro.

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