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domingo, 21 de dezembro de 2014

CID GOMES FAZ UMA AVALIAÇÃO DOS OITO ANOS DE GOVERNO

Por ipuemfoco   Postado  domingo, dezembro 21, 2014   Sem Comentários



Diário - O que o senhor gostaria de ter feito que não fez ao longo dos dois mandatos?

Cid - Muita coisa. Pode ter certeza! Eu acho que é dever de quem está na vida pública ser uma pessoa exigente consigo mesmo. Acho que todas as ações que foram feitas poderiam ter sido feitas com mais agilidade, com maior amplitude. Obviamente, muitas coisas que nós desejaríamos ter feito não foram possíveis, porque o orçamento público tem a sua limitação. 

Algumas coisas são claras e a população percebe, porque ainda estão em obras.Por exemplo, o Anel Viário, o Acquario, o Centro de Formação Olímpica, a Linha Leste, o Cinturão das Águas. Agora, tem uma pelo menos que não seria uma coisa de grande investimento, mas por uma série de fatores acabou se inviabilizando. 

Estão entre aquelas ações que a gente tem no coração e que, infelizmente, não foi possível. Foi me dada uma sugestão de fazer uma escola de ensino básico que pudesse identificar já na primeira idade crianças de origem pobre que pudessem entrar num regime de internato. 

Fazer um grande escola para estudar filosofia, para formar líderes. Pensamos no local, chegamos a negociar. Seria aquele Seminário dos Jesuítas em Baturité, mas o padre desistiu, o arcebispo também disse que não queria e acabamos por desistir.

Diário - Governador, hoje o cearense continua reclamando muito dos serviços de saúde. O Governo errou?

Cid - O que eu sempre disse é que o Ceará teria a melhor rede de saúde pública de todos os estados do Nordeste. Isso tem uma diferença em relação a 100% de contentamento ou 100% de aprovação da população. A prestação de serviços na área da saúde se limitava claramente à manutenção de uma rede de hospitais quaternários em Fortaleza. 

Nós melhoramos o apoio aos hospitais polos, ampliamos e reformamos todas as unidades em Fortaleza e começamos um grande processo de interiorização. Pensamos em uma lógica de, em cada município, as pessoas possam ter mais próximos de onde moram os serviços de saúde. 

Então, isso se faz com o apoio ao municípios na atenção básica. Destinamos pelo menos R$ 30 milhões por ano aos municípios para apoio à rede de atenção básica.

O Estado, então, organizou isso, montou consórcios, construiu e equipou policlínicas, centros de especialidades odontológicas, UPAs. Só tinham dois municípios com o Samu, hoje nós temos 108. Enfim, essa rede está funcionando na maior parte. Para alguns lugares teve problema na construção. 

A policlínica de Canindé ainda não está pronta, a policlínica de Maracanaú não está pronta e a de Crato que está em construção. As outras todas estão funcionando. Se está funcionando no ideal, claro que não. Infelizmente a gente tem dificuldades com profissionais. Uma policlínica dessas é para ter 10 ou 13 especialidades. Algumas funcionam na plenitude, outras têm dificuldade para encontrar dermatologista no Interior. 

A nível de atenção terciária, tem os grandes hospitais regionais. Nenhum Estado brasileiro tem essa estrutura constituída da forma como está. Agora, saúde é um problema permanente. 

Além de ter os equipamentos, custa muito mais caro manter esses equipamentos. Então, eu não tenho dúvida que o grande desafio é a questão do custeio na saúde e, por isso, a gente defende mais recursos para essa área.
arte
Diário - No início do governo do senhor, em 2007, questionava-se a situação das universidades públicas. O Estado tem condições de manter universidades?

Cid - Nós ainda somos o Estado que percentualmente menos vagas de ensino superior de universidades federais tem. Para tentar compensar essa dívida histórica, o Estado criou a Uece e encampou mais duas universidades que eram fruto de esforços privados, filantrópicos. 

Na época, ou se fazia isso ou não se teria o mínimo da oferta de ensino superior. O que eu penso é que, num médio prazo, a União poderia ir trabalhando para assumir uma oferta maior e, no futuro, o Estado se desimpedir para usar esses recursos no ensino básico e na rede estadual. 

Eu lamento profundamente encerrar o governo com as instituições em greve. Mas quando você vai para a realidade, muitos cursos estão funcionando normalmente. Sinceramente, se a gente for ver o que foi feito ao longo desses anos. Tanto é que o motivo da greve não é nem salário. 

Eles nem colocam isso na pauta pelo simples fato de que o salário deles mais do que duplicou e hoje um professor da universidade estadual ganha mais do que um professor da universidade federal. O que o Estado destina para as universidades mais do que triplicou. Em 2006, foi 99 milhões de reais. 

Em 2013, foram mais de 330 milhões de reais. Muitos alunos não conseguem concluir seus cursos por causa de uma atitude que é ímpar. Eu nunca vi no Brasil uma greve que não fosse por salário. É só aqui nas universidades cearenses.

Diário - A área da segurança pública foi o principal centro de críticas contra a gestão. Na percepção que o senhor tem, onde houve falhas?

Cid - A segurança pública não é uma coisa que dependa exclusivamente das ações de governo. Se você disser que houve omissão, que houve descumprimento dos compromissos, eu diria que não. O Ronda do Quarteirão foi montado muito além do que nós nos comprometemos, porque implantamos em todas as cidades do Interior com mais de 40 mil habitantes. 

Nós criamos a perícia forense, nós criamos fora da Secretaria uma Corregedoria para tratar dos problemas de disciplina. Nós mais do que dobramos a presença da Polícia Civil no Interior. Na Polícia Militar, nós temos 10 mil soldados atuando nas ruas e, desses 10 mil, 7 mil foram contratados ao longo desse governo. 

Bombeiros nem se fala. Tudo é exagero, mas eu diria que 80% dos equipamentos que os bombeiros têm foram adquiridos por nós. Agora um número só pode me fazer calar a boca em relação a isso. Os homicídios aumentaram, mas será que se não tivesse sido feito o que foi feito, como estariam as coisas? Muitas outras questões acabam repercutindo na área da segurança pública e isso está sendo atacado. 

Agora mesmo eu estive com a presidente Dilma. Foi uma ideia que Roberto Cláudio e eu maturamos. Fazer nessas áreas de periferia onde têm os piores indicadores de violência a ampliação da oferta de ensino em tempo integral, principalmente, nas séries terminais do ensino fundamental. Melhorar a estrutura de lazer e esse Centro de Formação Olímpica também vai nessa direção.

Diário - O complexo portuário do Pecém sem a Refinaria fica capenga?

Cid - Claro que não! O complexo portuário do Pecém é uma grande realidade e os números falam por si só. Não adianta muito esforço. Quando eu assumi o Governo, a renda que o Porto arrecadava com essa movimentação não conseguia pagar a folha da diretoria, dos funcionários do Porto. 

Continuamos pagando até setembro de 2007 quando, pela primeira vez, as receitas empataram e a gente então conseguiu se livrar dessas despesas. Daí para cá tem subido em média a cada ano 30% o faturamento e o volume de cargas. Tanto é que já foi necessário a gente fazer uma ampliação.

Diário - O senhor alimenta a esperança que seu sucessor tenha o privilégio de o Estado receber essa Refinaria?

Claro que sim! Nós estamos talvez hoje no pior momento para se falar em Refinaria. Não é por conta, embora isso seja uma coisa muito séria, das notícias de desvio de recursos, cobranças de propina. Não é só por isso. Claro que isso tira a atenção, a capacidade de planejar, mas não é o fator essencial. Há muito pouco tempo, o barril de petróleo custava 150 dólares. Hoje está custando 60. 

Então, essa sazonalidade inibe qualquer investimento. Óbvio que isso vai trazer redução de investimentos em toda a estrutura petrolífera do Mundo e, portanto, a nossa Refinaria vai demorar um pouquinho mais. Mas não tenho nenhuma preocupação, porque a Refinaria não é favor. É necessidade.

Diário - Governador, o senhor deixou de fazer concurso público, por exemplo, para a área da saúde. Isso se deu pelo fato de o Estado já estar perto do limite prudencial de gastos com pessoal?

Cid - Não! Essa coisa do limite de pagamento aos funcionários, determinado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, tem o limite de fato, que já obriga o ente federativo a fazer cortes, tem o limite prudencial, em que algumas ações já podem ser implementadas como reposições salariais, e antes disso tem o limite de alerta. 

Saiu uma publicação recentemente em que nós estaríamos um pouco acima desse limite de alerta, mas em um período de janeiro a agosto. Nós vamos terminar agora o ano e estamos com 42 no Executivo, que é abaixo do limite de alerta, que é antes do prudencial. Claro que nós precisamos ter permanente preocupação. 

O que aconteceu é que, em julho, a gente pagou parte do 13º e isso pode ter artificialmente inflado o percentual de gastos. Se você olhar sinceramente, nenhum governador fez tanta contratação de pessoal por concurso como nós fizemos. No conjunto de servidores públicos, nós temos cerca de 66 mil servidores na ativa e, desses, 23 mil foram contratados no meu governo. 

Ou seja, mais de um terço. Nessas estruturas de administração compartilhada, em consórcios, nos hospitais, policlínicas, UPAs, a gente tem preferido um sistema que dê mais agilidade e, portanto, a CLT é o sistema adotado na contratação desse pessoal.

Diário - Quando o senhor assumiu em 2007, impôs um choque na administração. Se o senhor fosse assumir em 2015 o choque seria igual?

Cid - Eu faria a mesma coisa. Tenho uma lição de Maquiavel. Ao contrário do que muita gente pensa, Maquiavel era um conselheiro que trabalhava com o objetivo de que seu líder estivesse bem com o povo, que é o quê um homem público deve buscar. Ao longo dos anos é da natureza do serviço público acumular gorduras. 

É da natureza humana. Lembre do racionamento (de energia) na época do Fernando Henrique Cardoso. Os mais novos não lembram, mas você se dava conta do quanto você desperdiça. Sai de uma sala ou de um quarto e deixa a luz acesa. Vai escovar o dente e a torneira fica lá escorrendo. 

No chuveiro você passa muito mais tempo embaixo dele do que o necessário para fazer a sua higienização. Até fisicamente a gente consome além do necessário. Ou você tem disciplina para fazer o contrário ou acaba descansando e entrando no desgaste do consumo além da conta. Então, no serviço público, a hora de fazer essa postura de economia, determinação e austeridade é no primeiro ano. 

Ou você faz ali em que até as pessoas mesmo compreendem a história do arrumar a casa ou você não faz mais nunca. O Brasil está precisando disso e é óbvio que o Ceará está precisando. Eu fiz isso comigo mesmo quando me sucedi como prefeito e quando me sucedi como governador. 

O Camilo tem inteira liberdade, aprovação e aconselhamento de minha parte para que aproveite esse primeiro ano para tomar medidas de austeridade de contenção de despesas e melhoria de receitas.Alan Barros/Edison Silva/Repórter/Editor

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