Foi no dia 14 de novembro de 2013, em uma reunião de rotina da rede de proteção à infância de Três Passos,
que o nome de Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, apareceu pela primeira vez entre os representantes das entidades incumbidas de defender crianças da violência de pais e parentes.
que o nome de Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, apareceu pela primeira vez entre os representantes das entidades incumbidas de defender crianças da violência de pais e parentes.
As notícias do serviço de assistência social da prefeitura e do Conselho Tutelar, que surpreenderam a promotoria da Infância e da Juventude, davam conta que o garoto, filho de um médico bem-sucedido, andava "solto" pelas ruas de Três Passos e frequentemente era acolhido por outras famílias para passar a noite ou para se alimentar - fato conhecido pela comunidade.
Mesmo assim, foram necessários três meses para que o caso ganhasse uma dimensão legal com um pedido de medida protetiva do Ministério Público, acolhida pela Justiça.
Exatamente cinco meses depois dessa reunião, entretanto, o corpo de Bernardo seria encontrado em Frederico Westphalen, a 80 km de onde morava, presumivelmente assassinado pela madrasta e por uma amiga dela - com o conhecimento e a aprovação do pai, segundo a polícia.
Os últimos cinco meses de Bernardo foram provavelmente os mais sofridos de sua vida, mas não os mais solitários. A situação do estudante de desempenho irregular do Colégio Ipiranga, a única escola privada da cidade de 24 mil habitantes a 477 km de Porto Alegre, era de domínio público há pelo menos dois anos, quando as brigas com a madrasta Graciele Ugulini começaram a se tornar frequentes e o garoto, sem apoio do pai, procurou ajuda fora de casa.
Primeiro com amigos da família e colegas de escola; depois, num ato de desespero, com a Justiça, a quem pediu para trocar de lar. Queria, disse ao juiz Fernando Vieira dos Santos, uma casa em que lhe dessem "atenção e carinho".
Uma sucessão de erros e omissões contribuiu para a morte de Bernardo. A primeira omissão foi o tempo decorrido entre o abandono do garoto pelo pai e a transformação do caso em mais um processo burocrático na rede de proteção à infância de Três Passos - na sala da promotora da Infância e da Juventude, Dinamárcia Maciel de Oliveira, 31 pastas relatam casos de agressão, maus tratos, abandono e até falta de acesso a hábitos de higiene contra crianças da região.
- A grande maioria dos relatos que nos chegam e que são investigados envolvem famílias carentes, onde o abandono tem relação com a pobreza e as consequências de mazelas como alcoolismo e uso de drogas por parte de pais ou parentes. O caso do Bernardo era diferente porque a carência dele era afetiva. Apesar de ser alegre e sorridente, ele exalava tristeza – explicou.
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