Ciro Gomes sempre teve o perfil intempestivo. Como poucos, não pensa duas vezes antes de dizer algo polêmico. Médicos cearenses, especialmente aqueles com duas décadas no mercado, não guardam boas recordações de uma declaração feita pelo político, em 1992, quando era governador do Ceará.
Em meio a greve de dois meses da rede estadual, ele comparou os profissionais a sal: “Branco, barato e tem em todo lugar”. Por isso chama a atenção a possível escolha do irmão Cid Gomes, atual governador, para seu novo secretário de Saúde: o mesmo Ciro.
Sinal de que o candidato a substituto do médico Arruda Bastos sofreria no novo ambiente de trabalho? Não, entendem dirigentes de associações da classe no Ceará.
“As pessoas mudam a forma de pensar, por isso acredito que uma declaração feita há tanto tempo não significa que a relação dele com os médicos seria a mesma”, avalia Ivan Moura Fé, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec). “Estamos na expectativa pelo pronunciamento, sobre quais vão ser os caminhos da saúde do nosso estado a partir de agora”.
A presidente da Associação Médica Cearense, Maria Sidineuma Melo Ventura, também viveu aquela época conturbada na saúde do estado, mas não guarda mágoa classista quanto ao que foi dito pelo ex-governador sobre sua categoria.
“Aquilo foi coisa de momento. Acho que Ciro saberia lidar com os médicos de uma forma que não prejudique a saúde”, espera a médica. “Quando fica doente, ele se trata com médico. Então não acredito que realmente pense aquilo que declarou”, argumenta.
Neste século, o Brasil já teve ministros da Saúde que não são médicos: o economista Barjas Negri, em 2002, na gestão de Fernando Henrique Cardoso; o político de carreira José Saraiva Felipe, entre 2005 e 2006; e o bioquímico Agenor Álvares, entre 2006 e 2007, ambos no Governo Lula.
No Ceará, os próprios dirigentes de classe não lembram a última vez em que o secretário de saúde do estado não fosse médico. Ou mesmo se já houve uma situação semelhante. Mas isso não seria problema para a gestão de um advogado à frente da pasta, avaliam os profissionais.
“Para esse cargo é preciso ter mais experiência em gestão e financiamento do que com a parte técnica da Medicina. O importante é o novo secretário se cercar de bons profissionais na área, priorizando ser um bom captador de recursos”, opina Maria Sidineuma.
“Não vejo isso como um desafio intransponível para Ciro Gomes. O importante é o novo secretário se concentrar em melhorar a estrutura da saúde, que é claramente insuficiente para atender a população”, concorda Ivan Moura Fé.tc
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