Pages

terça-feira, 19 de março de 2013

SÃO JOSÉ;O SANTO QUE REGA A ESPERANÇA DO SERTÃO

Por .   Postado  terça-feira, março 19, 2013   Sem Comentários


                  

A terra foi revolvida em vão. Tratou de engolir as últimas sementes do fundo do saco, mas deu nada ainda, não. O sol é forte, afugenta a chuva, intimida os açudes e encolhe as cisternas, seca as mãos e os olhos de quem precisa plantar para comer. Mas é nessa terra, onde já não se instiga a viver sequer o capim do gado, que insiste sobreviver gente. Homens e mulheres ruminados pelo tempo que se botam no rumo da fé e por ela fazem escoar as esperanças de dias melhores quando o 19 de março chegar.

No dia do padroeiro do Ceará, São José, o povo todo espera a chuva, que anda difícil este ano. Veio tão de passagem que deu à seca ares de inesquecível. É a pior dos últimos 40 anos. “Tá braba a estiagem. Plantei milho, feijão, abóbora. Tudo perdi. Só não fico com raiva porque é determinado por Deus. Mas não custa nada rezar a São José, pedir que ele interceda pelo povo, pelo agricultor. Há de chover dia 19”, esperança o lavrador José Ivanildo Lopes Serafim, 60.

Não satisfeito em ter o nome em homenagem ao santo, foi morar na comunidade de São José, em Canindé, a 120,2 quilômetros de Fortaleza. A terra é de São Francisco das Chagas, mas dizem que, de 9 a 19 de março, quando se festeja São José, o outro santo baixa a guarda. “São 30 mil pessoas de todo canto nesses 9 dias de procissões, novenas e festa ao padroeiro. O povo vem pedir saúde e chuva. É o só o que o povo quer”, diz o membro do conselho da pastoral da Igreja de São José, Carlos André Marinho.

E se não chover? “Aí, moça, só Deus. A gente espera pela vontade dele”, responde José Valdo Bento, 72, outro agricultor que perdeu todas as três vezes em que plantou este ano, mas outro devoto José. “Ave Maria, se eu não vier para a procissão do dia 19. Vou acordar cedo, às 3 da manhã. Eu e minha mulher. São José é nosso padroeiro. Tenho ele no nome e na vida, sempre. Nem que a chuva não venha”, esclarece e emenda, com os olhos no céu: “Mas há de vir”.
 
E agora, José?

Em Pindoretama, na Região Metropolitana de Fortaleza, a fé em São José também se faz marcante. Por lá, ainda que o verde se exiba mais que em Canindé, os agricultores, com terras prontas, aguardam a chuva do dia 19. Querem fazer a procissão da madrugada com água “nos couros”.

É o que diz José Severino Goiana ou só Zé Goiana, da comunidade de São José. Aos 90 anos, capina a terra e vai à missa. “Todo ano vou. Se não fui, não lembro. Vou porque a gente precisa de chuva. Este ano, toda a cana que plantei com meus filhos morreu. As macaxeiras nem engrossaram. Um negócio desses só vi em 1958. Plantar no seco não dá. Vamos esperar São José”, diz o homem. Se não der chuva, “só Deus” para dividir os R$ 678 da aposentadoria pelo mês.

“Toda noite falo com Deus e São José. Peço bom tempo, um inverno bom, água, que é só isso que gente pobre precisa”, arremata. Se não vier água, nada de “e agora, José?”. “Não há dúvida para José, o santo, que Deus não cuide da resposta.”

Sobre o autor

Adicione aqui uma descrição do dono do blog ou do postador do blog ok

0 comentários:

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
.
Voltar ao topo ↑
RECEBA NOSSAS ATUALIZAÇÕES

© 2013 IpuemFoco - Rádialista Rogério Palhano - Desenvolvido Por - LuizHeenriquee