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sábado, 2 de março de 2013

MULHERES AGREDIDAS

Por .   Postado  sábado, março 02, 2013   Sem Comentários



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C.M. tinha apenas 4 anos quando começou a cozinhar para os seis irmãos. Precisava subir em um caixote para mexer no fogão à lenha que dividia o espaço do pequeno cômodo com uma cama e um berço. Toda a tarefa da casa era feita com o máximo de cuidado: qualquer ruído poderia interromper o sono do pai, que trabalhava de madrugada e descansava durante o dia. “Eu morria de medo.
 

Se ele acordasse, vinha atrás de mim”, afirma ela, hoje com 45 anos. C.M. sofreu uma década de abusos quase diários e guardou as duras memórias desse período até o ano passado, quando decidiu revelar sua história à família. Uma de suas filhas também foi vítima de um estupro por parte de um primo, aos 15 anos. “Parece que a coisa continua, como em um ciclo”, diz. Ela não está errada. 
Em uma mensagem de suporte aos protestos contra a violência de gênero que aconteceram no dia 14 de fevereiro em mais de 200 países – uma campanha que ficou conhecida como “1 Bilhão Que Se Ergue” –, o secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, qualificou o problema como uma “pandemia”. Segundo a ONU, sete em cada dez mulheres no mundo passarão por algum tipo de violência física ou sexual ao longo da vida. 
Na segunda-feira 4, a organização se reúne em sua sede em Nova York numa conferência de dez dias sobre o tema. Essa situação alarmante e vergonhosa mostra como é difícil mudar as relações de poder que há séculos organizam as sociedades ao redor do mundo.
“A violência contra a mulher deriva da ideologia patriarcal”, afirma Maria Amélia Teles, fundadora da União de Mulheres de São Paulo. “Aprendemos que os homens têm direito sobre a vida e a morte. Esse é um dos pilares mais cruciais da sociedade e dá origem a todas as outras violências.
” Parece uma afirmação antiquada, diante das nem tão recentes conquistas da mulher, mas que revela uma desconcertante contemporaneidade, como a declaração da procuradora aposentada do Ministério Público de São Paulo, Luiza Eluf: “Isso faz parte de um sistema de dominação violentíssimo. É o tipo de escravidão mais perverso que já existiu na humanidade.” Por estar tão arraigado e disseminado, irrestrito a fronteiras, raças ou classes sociais, governos e organizações têm encontrado dificuldade para lidar com o problema. “Nós estamos tentando reverter essa tendência, mas é muito difícil porque não se trata apenas de leis, mas de práticas, do funcionamento das famílias”, afirma Rebecca Tavares, representante da ONU Mulheres no Brasil. 
Sem sucumbir ao pessimismo, ela lembra que os países escandinavos conseguiram melhorar seus índices de violência apostando na inclusão das mulheres nas instâncias de poder, na participação dos homens nas tarefas domésticas e na garantia da independência financeira feminina.
Além das mobilizações coletivas, mulheres vítimas de violência estão abrindo, sozinhas, novas frentes de debate a partir de suas experiências. É o caso da gaúcha Paula Berlowitz, 34 anos, que idealizou o blog Marchadasvadias.org e o site Cromossomo X, com notícias relacionadas aos direitos das mulheres. 
Ela foi vítima de violência doméstica por 12 anos. “É irônico porque eu sempre fui muito consciente, achava que nunca aconteceria comigo”, diz. O estalo que fez Paula buscar ajuda veio depois de muitas agressões físicas e sexuais do então marido. Ela saiu de casa com os três filhos e denunciou o ex, que foi preso em flagrante, mas pagou fiança e foi liberado no dia seguinte, em mais um caso que mostra a dificuldade em punir o agressor e proteger a vítima.
Apesar de expressivos, os números não refletem a percepção de muitas mulheres de que a Justiça é um dos principais gargalos para o fim da violência. “Em alguns lugares do País, a Defensoria não funciona e o Ministério Público não tem versão atualizada da legislação e dá prioridade à conciliação, não à denúncia. Em outros, as delegacias não funcionam e não possuem pessoal qualificado”, afirma a senadora Ana Rita (PT-ES), relatora da CPMI da Violência Contra as Mulheres. 
Ela tenta entender por que o Brasil, apesar da legislação avançada, ainda tem índices tão altos de violência. O relatório da comissão será publicado daqui a duas semanas, pouco depois do lançamento, em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, do pacote de medidas para as mulheres da presidenta Dilma Rousseff.
Outra falha na aplicação da Lei Maria da Penha foi identificada pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Estado que lidera o ranking de homicídios femininos. Percebendo o aumento no número de agressores que violavam as medidas protetivas, o tribunal criou um dispositivo que funciona como um “botão do pânico” para as mulheres que se sentirem ameaçadas. 
O projeto-piloto, inédito no mundo, começa agora. Um aparelho assim teria sido de grande utilidade para a vendedora Deise Brito Cornélio, 33 anos, que chegou a fazer oito boletins de ocorrência denunciando as agressões, os estupros, o cárcere privado e as ameaças que sofria do ex-marido, com quem viveu por seis anos. Apesar da gravidade das acusações, ela só conseguiu a prisão do agressor depois de ludibriá-lo e convencê-lo a ir com ela até o Fórum de Justiça, onde provou seu desrespeito às medidas protetivas.ISTO É

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