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segunda-feira, 4 de março de 2013

COMBATE AO CRACK NO CEARÁ

Por .   Postado  segunda-feira, março 04, 2013   Sem Comentários

As ações de combate ao crack apenas engatinham perante o avanço da epidemia no Ceará. Especialistas apontam que a principal dificuldade está no tratamento de dependentes químicos da população mais carente que não pode arcar com custos da rede particular e nem encontra vagas nas unidades como o Hospital Mental de Messejana ou comunidades terapêuticas.
Além disso, a falta de leitos para mulheres e unidades para crianças e adolescentes, forçam atitudes desesperadas das famílias mais pobres. Casos como o da avó que, no auge da aflição, amarrou o neto no pé da cama ou da súplica da mãe ao titular da 5ª Vara do Juizado da Infância e Juventude, Manoel Clístenes, para que ele, ao invés de liberar o garoto, de 17 anos, do Centro Educacional Patativa do Assaré, o mantivesse apreendido. "Ou é isso ou meu filho vai morrer nas mãos dos traficantes assim que voltar para casa", diz.

A atitude de Maria (nome fictício) emocionou, além do juiz, representantes do Ministério Público, da Defensoria Pública e funcionários da Vara. "Infelizmente, esse é o enredo de quase 80% das 40 audiências que realizo diariamente aqui. E o pior, não temos saídas e, com isso, presenciamos um massacre social", lamenta o magistrado.

Para ele, as situações são gravíssimas, e as famílias não podem mais esperar. É preciso agir rápido, aponta, para salvar as futuras gerações, pois a atual só poderá contar com medidas paliativas como internações, desintoxicação e reinserção social.

"O número de dependentes cresce de forma vertiginosa, enquanto as ações de combate andam de fusquinha", constata a socióloga Marinita Arruda. Segundo ela, a rede existente com 953 leitos, incluindo hospitais psiquiátricos, comunidades terapêuticas e Centros de Atenção Psicossocial (Caps), são uma gota no oceano. "Até porque os poucos leitos do Hospital Mental de Messejana são disputados quase a tapa e, sinceramente, lá não é lugar para o dependente químico. Quando ele sai, volta à rotina das pedras e a perambular pelas ruas da cidade", assegura.

É caso de José de Oliveira, de 27 anos. Ele começou a usar drogas aos 13 anos e conheceu o crack aos 18. Hoje, vive o "inferno". Sua avó, d. Fátima, diz que não tem mais para onde apelar para tentar salvar a vida do neto. "Já perdi as contas das vezes que fui buscá-lo nas bocas e tentei interná-lo. Só faço orar e chorar atualmente", emociona-se.

Zumbis
O grande número de mulheres usuárias também preocupa. Em contrapartida, quase não existem leitos para elas. "Não é mais raro, ao percorrer as ruas de Fortaleza, nos depararmos com as dependentes quase como zumbis", salienta a psicóloga Julieta Galvão Diniz.

Para ela, as políticas públicas deveriam andar junto com o crescimento do crack. Em muitos casos, o tempo de internação não é suficiente ou a mão de obra para o tratamento não é qualificada.

"Dizer que a questão é grave e só informar números, não resolve mais. É preciso agir", aponta o Conselho Federal de Medicina, que lançou, recentemente, uma cartilha para nortear o tratamento dos usuários.


 O médico José Maria Pontes aponta como saída para combater o mal é necessário o envolvimento de toda sociedade. "É preciso que o poder público possa trabalhar a prevenção, o tratamento, o combate ao tráfico e que dê oportunidade de trabalho para os que forem tratados. A ocupação é uma continuidade do tratamento. A dependência química não tem cura e sim controle", ressalta.

O psicanalista e autor do livro "Droga - internar não é prender", Odailson da Silva, afirma que não faltam vagas em instituições que cuidam do dependente em drogas para os que podem pagar. "O que falta é uma rede forte para os pobres", alega.

A titular da Assessoria Especial de Políticas Públicas sobre Drogas, a ex-procuradora geral de Justiça do Estado, Socorro França, trabalha na tentativa de conter o avanço das drogas no Estado do Ceará. Para isso, informa, um Plano de Ações Integradas está pronto para ser apresentado, em breve, ao governador Cid Gomes e começar a sair do papel. "O Ceará terá uma Rede de Atenção Psicossocial (Raps)", adianta ela.

Entre as estratégias, a ampliação da oferta de leitos, passando dos 953 atuais em todo o Estado para 1.500. Os hospitais gerais serão preparados para receber dependentes químicos, incluindo o Albert Sabin, que poderá ofertar 20 leitos para crianças. A Prefeitura de Fortaleza também participa dessa discussão.

Serviço
Também serão implantados os núcleos de Acolhimento adulto e infanto-juvenil e os Centros de Atenção Psicossocial 24 horas (Caps-24h). "O serviço funcionará o dia todo em ambiente residencial para pessoas com necessidades decorrentes do uso do crack, álcool e outras drogas, para homens e mulheres que apresentem acentuada vulnerabilidade social e/ou familiar e demandem acompanhamento terapêutico e protetivo de caráter transitório", informa a supervisora do Núcleo de Atenção à Saúde Mental, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Virna de Oliveira.

Socorro França reconhece que é necessário "apertar o passo" e aposta na Raps para conter a proliferação do crack no Estado. O Centro de Referência sobre Drogas (CRD) só espera local para começar a funcionar. "Acredito que ainda no primeiro semestre do ano vamos inaugurá-lo. Assim, famílias e dependentes terão um local de referência para procurar e iniciar o tratamento", pontua.dn

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