Desde o início do mandato, nunca Bolsonaro foi tão diretamente desafiado pelos militares.
O exemplo mais recente e contundente foi a carta do almirante Antonio Barra Torres, presidente da Anvisa, exigindo que o presidente se retratasse de suas insinuações contra a agência, que recomendou a vacinação de crianças contra a Covid. Se o mandatário não voltar atrás, diz Barra Torres, deverá apontar as suspeitas de corrupção contra a Anvisa, sob pena de cometer crime de prevaricação.
Foi uma bem-vinda meia-volta do oficial, que no início do mandato chegou a acompanhar o presidente em manifestações golpistas. Desde o recrudescimento da pandemia, Barra Torres posicionou-se a favor da ciência, da população, dos servidores e da própria ordem institucional do País.
No mesmo momento, o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, divulgou uma instrução às tropas recomendando a vacinação e vetando a divulgação de fake news. Como ele faz parte da nova cúpula das Forças Armadas, substituída porque os chefes anteriores se recusaram a politizar os quartéis, como queria Bolsonaro, isso mostra que a Defesa continua impermeável aos arroubos autoritários do presidente.
O ministro da Defesa demitido, aliás, general Fernando Azevedo e Silva, acaba de assumir a direção-geral do TSE, onde supervisionará as eleições, garantindo a lisura do pleito por meio das urnas eletrônicas. Foi mais uma derrota de Bolsonaro.
Até nas estatais os sinais são ruins para o mandatário. O general da reserva Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras, avisou que a companhia não fará o represamento dos preços dos combustíveis para fins políticos. Ele foi conduzido ao posto exatamente para plantar uma cunha bolsonarista na maior companhia estatal do País, mas o efeito foi contrário. É um ex-fardado que garante a independência e a integridade da empresa, contra os interesses politiqueiros.
Fica afastado, assim, o risco de o presidente instrumentalizar as Forças Armadas para seu projeto autoritário de poder, o mesmo processo que causou a ruína da Venezuela. É um sinal alentador de força das instituições, que se sobrepõem às ovelhas desgarradas (em baixa, mas ainda abrigadas no Planalto) que enxergaram em Bolsonaro uma forma de retomar com o apoio da população o ciclo militar de 64.
As Forças Armadas, ao contrário, mostraram que aprenderam a lição da história, e que estão do lado da sociedade e da democracia. Que esses sinais permaneçam no duríssimo ano de 2022.ISTOÉ
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