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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

ENTREVISTA; "BOLSONARO PARTICIPOU DAS QUADRLHAS DA SAÚDE"

Por ipuemfoco   Postado  sexta-feira, setembro 24, 2021   Sem Comentários



Defensor da prorrogação dos trabalhos da CPI da Covid no Senado, o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues

(Rede-AP), tem sido um dos parlamentares mais incisivos durante a investigação que revelou, dentre outras coisas, fortes indícios da existência de um grande esquema de corrupção na compra de vacinas no governo Bolsonaro. Rodrigues ajudou a convencer o relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), a adiar a apresentação do relatório final prevista para a última sexta-feira, 24. 


Ainda não há definição sobre a nova data, mas Randolfe estima que isso possa acontecer na primeira semana de outubro. “Sou da seguinte opinião: enquanto tivermos bambu, tem flecha”, afirmou o parlamentar à ISTOÉ. Na conversa, Rodrigues antecipou alguns pontos do relatório. De acordo com ele, Bolsonaro deve ser indiciado por cerca de oito infrações penais contra a saúde pública, cuja pena pode lhe render mais de 30 anos de cadeia. 


Para o senador, o mandatário tinha conhecimento das quadrilhas desbaratadas pela CPI e até participou de algumas delas. “Tenho certeza que Bolsonaro tinha conhecimento dessas quadrilhas. E, em alguns momentos, teve participação direta nisso. Ele indicou o diretor do Instituto Evandro Chagas. Aí tem a digital de Bolsonaro”, disse.


Por que a CPI resolveu adiar a apresentação do relatório?

A CPI tem um prazo regimental para ser concluída, que vai até o dia 5 de novembro. Na verdade, o que estávamos pensando era antecipar o fim dos trabalhos. Sempre tive minhas reticências quanto a isso, porque sou da seguinte opinião: enquanto tivermos bambu, tem flecha. Se há fatos novos, temos que aprofundar a investigação. Surgiu agora esse escândalo da Prevent Senior. Não podemos ficar sem investigar. Tínhamos pedido há algum tempo a busca e apreensão na sede deles. Só foi deferida agora. Não podemos encerrar sem analisar os documentos apreendidos. Tenho ponderado com o relator e com o presidente da CPI que temos de ter cautela para tocar a investigação, mas não precisamos ter pressa. Acredito ser mais razoável concluir na primeira semana de outubro.


O caso da Prevent Senior pode complicar a vida do presidente Bolsonaro?
Isso é mais um elemento doloroso de uma das páginas mais tristes da nossa história, que só aprofunda os crimes que já tínhamos constatado que o presidente cometeu. Só aprofunda os elementos de crime contra a vida, de crime contra a humanidade, só acrescenta mais dor na trama dos crimes na pandemia.


Por quais crimes Bolsonaro deverá ser acusado no relatório final da CPI?
Temos elementos de que ele cometeu crime de epidemia, crime contra a saúde pública, crime contra a ordem sanitária e prevaricação. Ainda precisamos ter uma análise maior sobre corrupção passiva. Acho que, ao todo, hoje, temos de sete a oito tipos infrações penais que pesam contra o presidente. Só o crime de epidemia prevê de 10 a 12 anos de prisão. E com o agravante de ser praticado por agente público, quando a pena pode chegar a 20 anos. Sem falar de charlatanismo, prevaricação e os outros malfeitos que pesam contra Bolsonaro.


Jair Renan, o filho 04 do presidente, pode ser convocado a depor?
Independentemente do desaforo que ele fez contra a CPI na última segunda-feira, 20, que foi uma atitude de moleque mimado, característica de alguém que não recebeu educação dos pais, acho que ele precisa responder por isso na CPI. E tem ainda outras circunstâncias. Ele surge sendo beneficiado por um personagem da CPI, que é o Marconny Faria, um lobista que está sendo investigado. A CPI obteve arquivos desse lobista e o esquema que ele montou conta a participação de Ana Cristina Valle, mãe de Renan, para que o lobby se concretize. Ela tem participação na indicação de um rapaz (Márcio Nunes) para o Instituto Evandro Chagas, do Pará. Isso resulta numa operação da PF, chamada Operação Parasita. Nela, foram presas pessoas que participavam desse esquema criminoso, envolvendo propinas de R$ 1,4 milhão. Jair Renan é beneficiado por esse lobista. Isso já é elemento suficiente para incluir Jair Renan e a mãe dele no relatório final.


Serão acusados de praticar tráfico de influência?
Sim, tráfico de influência para beneficiar um lobista, resultando numa operação da PF, onde o agente que foi nomeado é preso por corrupção ativa, corrupção passiva e formação de quadrilha.


Como a CPI pretende abordar o envolvimento de Bolsonaro nas quase 600 mil mortes na pandemia?
Para concluir que Bolsonaro tem participação direta nas mortes de brasileiros na pandemia, nem precisaria da CPI. Basta reunir as reportagens da imprensa, os vídeos produzidos por ele próprio e pronto. São declarações dadas por ele em meio a aglomerações; participação em eventos em que ele disseminou o vírus; campanhas que ele comandou contra o uso das máscaras; declarações contra as vacinas etc. A CPI só reuniu todos esses elementos. Seria ridículo se o presidente não fosse indiciado, pelo menos pelo crime de epidemia. E isso já é certo que vai acontecer.


Houve formação de quadrilha nos esquemas investigados pela comissão?
O que encontramos no Ministério da Saúde é que o órgão se transformou, há muito tempo, num balcão de negócios montado pelo deputado Ricardo Barros quando ele foi ministro da Saúde. O que chama a atenção é que o motoboy da VTC Log tenha feito nos últimos dias de 2018 pelo menos cinco saques, exatamente pela empresa que assumiu os contratos de logística no Ministério da Saúde. Os dois diretores anteriores do departamento de logística respondem a processos na Lava Jato. E o terceiro, que é Roberto Ferreira Dias, respondia a processos no MPF de Brasília, no âmbito da Operação Falso-Negativo. E foi agora também indiciado na CPI. Todos os diretores do departamento de logística estão indiciados ou respondem a algum processo de corrupção. A história não para por aí. O que nós percebemos é que esse esquema se aprofundou no governo Bolsonaro. Apareceu a história da Precisa, surgiu a atuação dos lobistas, como Marconny Faria atuando junto à família do presidente. São vários esquemas distintos.


Acha que existe um mandante único por trás disso tudo?
Tenho certeza que Bolsonaro tinha conhecimento de tudo isso. E em alguns momentos tem participação direta, como é o caso da nomeação do diretor do Instituto Evandro Chagas, Márcio Nunes, que foi preso na Operação Parasita. Isso é um lobby articulado pelo Marconny Faria, que tem também a participação de Ana Cristina Valle. Nunes foi nomeado pelo próprio presidente. Nos diálogos de Marconny Faria está declarado ali que Marconny não consegue avançar na nomeação junto a Wanderson de Oliveira, que era do Ministério da Saúde. Wanderson era um entrave para Marconny. Ele então diz o seguinte diálogo: “Temos que tentar por cima”. Isso tem a digital de Bolsonaro. O “por cima” é o presidente, porque é o presidente quem nomeia. Márcio Gomes foi nomeado por cima, sem passar pelo Ministério da Saúde.


Como garantir que os trabalhos da CPI surtam efeito depois do seu término?
Vamos utilizar de todos os meios necessários para que isso aconteça. Não somente oferecendo a denúncia à PGR, não somente apresentando o relatório para o deputado Arthur Lira. Também existe a figura da ação penal subsidiária, um caminho que vamos utilizar para levar a denúncia diretamente ao Supremo Tribunal Federal. Isso é uma estratégia para evitar que ela acabe sendo engavetada pelo PGR Augusto Aras e pelo presidente da Câmara.


Qual sua avaliação sobre a suposta participação de Flávio Bolsonaro no esquema de compra de vacinas?
Flávio tem relação direta com alguns personagens investigados na CPI. Um deles chegamos a ouvir, que é Willer Tomaz. O outro é o Danilo Trento, que tem relação com os negócios de Flávio. Não acho razoável a CPI terminar sem ouvir o Trento. Para mim, o depoimento dele é o mais importante nesta reta final das investigações.


O senhor defende a criação de uma nova CPI?
Precisamos de uma nova CPI, principalmente a da rachadinha. Um outro esquema nebuloso é o caso das fake news. A CPI das fake news precisa ser retomada com a apuração aprofundada dos esquemas de corrupção ali existentes.


Quantas pessoas serão indiciadas no relatório?
Já perdi a conta. Mas alguns indiciamentos são inevitáveis. O presidente Bolsonaro e o deputado Ricardo Barros devem ser denunciados no relatório. Mas não podemos deixar de lembrar ainda de Eduardo Pazuello, Élcio Franco e Roberto Ferreira Dias. O atual ministro da Saúde também tem se esforçado muito para ser incluído no relatório.


Por quê?
Lamentavelmente, o ministro Marcelo Queiroga rasgou o jaleco e vestiu a camisa de Bolsonaro.


Acha que a CPI errou em algum momento?
A CPI foi muito mais longe do que imaginávamos. Começamos a trabalhar imaginando que íamos investigar ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia, mas descobrimos um esquema de corrupção. Quando a CPI começou, vacinávamos 200 mil brasileiros por dia. Depois dela, demos um salto para 2 milhões de vacinados por dia. Antes da CPI, o governo só falava em cloroquina — fala ainda hoje, mas de uma forma um pouquinho mais envergonhada. Bolsonaro teve que correr atrás de vacinas por causa da CPI. Se não fosse a comissão, os cofres públicos brasileiros teriam sofrido um golpe de R$ 1,6 bilhão na compra da superfaturada Covaxin.


O que achou de Bolsonaro ser o único chefe de Estado que não se vacinou na Assembleia Geral da ONU?
Bolsonaro conseguiu bater recordes. Promoveu a ida mais vexatória de um chefe de Estado do Brasil à Assembleia da ONU desde a sua fundação. O segundo foi ter feito a participação mais vexatória de um líder de estado em todo o planeta num evento da ONU. O povo brasileiro não merecia passar por tanto constrangimento. Bolsonaro revelou que teremos uma tarefa hercúlea para reerguer o País depois da tragédia bolsonarista no governo.

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