Pages

segunda-feira, 18 de março de 2013

TENSÃO RODEIA O RELACIONAMENTO DO PAPA COM OS KIRCHNER

Por .   Postado  segunda-feira, março 18, 2013   Sem Comentários

                          
Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, cumprimenta o novo papa
Foto: AP

Em setembro de 2010, um mês antes de morrer, o ex-presidente argentino Néstor Kirchner (2003-2007) foi internado e operado de urgência na clínica portenha Los Arcos. 

Na época, meios de comunicação locais informaram que o então cardeal e Arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio enviara um sacerdote de sua confiança para que oferecesse assistência espiritual à família presidencial. 

Por decisão da presidente Cristina Kirchner, indicaram as mesmas informações, o representante de Bergoglio foi expulso do hospital. O incidente confirma a tensão que sempre rodeou o relacionamento entre o novo Papa e os Kirchner. 

Hoje, Cristina será a primeira chefe de Estado a ser recebida pelo Papa Francisco e tentará dar novos contornos a seu vínculo com um homem que era considerado por ela e seu marido um forte adversário político. 

A presidente, opinaram analistas ouvidos pelo GLOBO, está ciente dos riscos de seguir os conselhos da ala mais radical do kirchnerismo, que questionou publicamente a escolha do sucessor de Bento XVI.


- Ter uma disputa com um Papa já seria difícil, mais ainda tratando-se de um Papa peronista, que defende o combate à pobreza e a justiça social - afirmou Hugo Haime, diretor da Haime e Associados.

Na Argentina, como em muitos outros países, os primeiros gestos de Bergoglio como Papa despertaram grande entusiasmo na comunidade católica, que representa cerca de 75% da população. Ontem, por exemplo, foi realizada uma missa em homenagem a Francisco na Catedral Metropolitana da capital, presenciada por centenas de pessoas.

- O governo, apesar de seus desejos e convicções, está condenado a buscar uma relação de harmonia com o novo Papa argentino - disse Juan Tokatlián, professor da Universidade Di Tella.

Para ele, Cristina sabe que o mundo “a está observando” e já deu “alguns sinais positivos”, como o convite a membros da oposição e ao presidente da Corte Suprema de Justiça, Ricardo Lorenzetti, atuais adversários de seu governo (o conflito com Lorenzetti começou no ano passado, em meio às disputas judiciais da Casa Rosada com o grupo Clarín), para que integrassem a delegação que chegou ontem à Roma.

Na véspera de um encontro que jornalistas locais asseguram que Cristina não imaginou “nem em seus piores pesadelos”, os principais diários publicaram artigos sobre o que considera-se uma das maiores saias justas já sofridas pela presidente. 

Um deles, escrito por Pablo Sirvén para o “La Nación”, intitulou-se “Papa argentino, castigo divino”. Para ele, a escolha de Bergoglio é um castigo divino para a Casa Rosada, entre outros motivos, porque “os que na semana anterior, diante da morte de Hugo Chávez, haviam deposto seu ateísmo militante para exercer uma espécie de estranha religiosidade bolivariana, ficaram descolocados quando voltaram a suas difamações habituais após conhecer-se a designação de Bergoglio, sem reparar que surgia um genuíno sentimento de alegria popular”.

Sirvén referiu-se, assim, a dirigentes kirchneristas que não cumpriram à risca as ordens da presidente, que pedira cautela a sua tropa. A lista de rebeldes esteve integrada pelo líder piqueteiro Luis D´Elia, para quem “Francisco será para a América Latina o que João Paulo II foi para a União Soviética: uma nova tentativa do império de destruir a união sul-americana”. 

Outra das que desconheceu as instruções presidenciais foi a jornalista Agustina Kämpfer, namorada oficial do vice-presidente Amado Boudou, que, na contramão da onda de fervor nacional pelo novo Papa argentino, declarou no Twitter: “Ai! Não, não estou feliz. Não me enche de orgulho”. Depois da sinceridade inicial, a jornalista reenviou mensagens que denunciavam a suposta cumplicidade de Bergoglio com a última ditadura (1976-1983).

As acusações contra o novo Papa explicam, em parte, seu distanciamento dos Kirchner. Os conflitos também surgiram por declarações de Bergoglio sobre pobreza e corrupção e por seus encontros com dirigentes da oposição. No livro “O Jesuíta, conversas com o cardeal Jorge Bergoglio”, o novo Papa ressalta seu “esforço e o de toda a Igreja para construir pontes (de diálogo com os Kirchner), mas com dignidade”. 

Informações extra-oficiais indicam que o ex-Arcebispo de Buenos Aires solicitou várias vezes audiência com Kirchner e Cristina, mas ,na maioria dos casos, não obteve resposta. Seu último encontro com a presidente foi em março de 2010, segundo informa o site da Presidência argentina.

Cristina nunca escondeu suas divergências com o novo Papa e nos últimos dias, apesar de ter enviado saudadões a Francisco e solicitado rapidamente um encontro, mostrou-se contida em suas declarações. 

Quando em 2005 especulava-se sobre a possibilidade de que Bergoglio fosse o sucessor de João Paulo II, a presidente, de acordo com o jornal “Clarín”, disse a um grupo de colaboradores que “ainda bem que não existe papisa, porque senão eu disputava”.

A estratégica reaproximação com Bergoglio não significará, segundo o jornalista Mariano Obarrio, do “La Nación”, o engavetamento de projetos ambiciosos, como a reforma do Código Civil, que prevê, entre outras mudanças, o polêmico “divórcio express” (será necessário, apenas, a decisão de uma das partes).

- Por enquanto, a diretriz oficial é conciliar, sem mudar o modelo. Mas tudo dependerá de futuras avaliações políticas da presidente - apontou Obarrio.O GLOBO


Sobre o autor

Adicione aqui uma descrição do dono do blog ou do postador do blog ok

0 comentários:

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
.
Voltar ao topo ↑
RECEBA NOSSAS ATUALIZAÇÕES

© 2013 IpuemFoco - Rádialista Rogério Palhano - Desenvolvido Por - LuizHeenriquee