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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

ESCÂNDALO; SÉRGIO CABRAL E O PASSADO INGLÓRIO DA IGREJA CARIOCA

Por ipuemfoco   Postado  quarta-feira, fevereiro 27, 2019   Sem Comentários


Gastos exorbitantes com luxos dispensáveis e euros escondidos nas meias de um padre integram o histórico de falcatruas promovidas por religiosos cariocas.

Na tarde desta terça-feira, 26, o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, já havia admitido seu vício em dinheiro e poder ao confessar que costumava embolsar propinas milionárias de contratos públicos enquanto comandava o governo quando, en passant , deixou escapar: 

“Não tenho dúvida de que deve ter havido esquema de propina com a O.S. da Igreja Católica, da Pró-Saúde”, disse. “O dom Orani devia ter interesse nisso, com todo respeito ao dom Orani, mas ele tinha interesse nisso. Tinha o dom Paulo, que era padre, e tinha interesse nisso. E o Sérgio Côrtes nomeou a pessoa que era o gestor do Hospital São Francisco. Essa Pró-Saúde certamente tinha esquema de recursos que envolvia religiosos. Não tenho a menor dúvida”.

As frases foram pronunciadas por meros segundos, mas foi o suficiente para aludir ao passado de escândalos que mancham a história da igreja católica no Rio de Janeiro.

Dez anos atrás, um quadro de gastos inexplicáveis promovidos pelo padre Edvino Alexandre Steckel, então ecônomo responsável por administrar os bens da Arquidiocese do Rio, foi revelado pelo jornal O Dia . Chegado a ternos finos e vinhos caros, o padre gastou ao menos R$ 15 milhões em pouco menos de um ano e meio em que esteve à frente dos negócios da igreja. 

Do montante, R$ 2,2 milhões serviram para adquirir um apartamento de 500 metros quadrados no Flamengo, designado como moradia para o então arcebispo Dom Eusébio Oscar Scheid.

Steckel também decidira reformar andares da Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, o prédio em formato de vulcão inaugurado na Glória em 1976. Comprou sofás com almofadas de penas de ganso revestidas de couro em uma loja de luxo de Ipanema, com os quais gastou nada menos que R$ 38,5 mil, além de poltronas de quase R$ 7 mil cada. Três carros, sendo um blindado, também foram comprados por Steckel por mais de R$ 200 mil.

O caso se tornou ainda mais escandaloso quando colocado em contexto. Meses antes, o mesmo padre que torrava o dinheiro da igreja com itens de luxo havia demitido 67 funcionários da Arquidiocese e extinguido núcleos de ajuda solidária a crianças pobres e refugiados, por exemplo. Para tanto, contratou uma consultoria da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e alegou que a igreja deveria ser tocada como uma empresa.

Comprado em dezembro de 2008, o apartamento no Flamengo, por conta dos pisos e revestimentos trocados e da estrutura reformada antes da farra com o dinheiro católico ser descoberta, foi posto à venda por um preço menor do que o da compra. Steckel devolveu dois carros, mas Dom Eusébio ficou com o dele.

Steckel e Dom Eusébio também fundaram, em 2006, a Associação de Solidariedade, Justiça e Paz (ASJP), que no mesmo período lançou um cartão de crédito para os fiéis cuja anuidade era recolhida para os cofres da igreja.

O padre Steckel acabou afastado dos cargos de ecônomo da Arquidiocese e de diretor da Rádio Catedral. Mestre e doutor em História Eclesiástica pela Pontifícia Universita Gregoriana, de Roma, Steckel trabalha atualmente como coordenador de cátedra na Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio). 

Continua vivendo em um apartamento na Lagoa, costuma consumir os pães artesanais feitos pelo amigo, o maestro panificador Marcos Cerutti, da padaria de luxo S.P.A Pane, e mantém contato com gente da alta sociedade carioca, como a empresária Maria Clara Tapajós. Seu caso nunca foi parar na Justiça.

Cardeal-arcebispo aposentado, Dom Eusébio, por sua vez, também permaneceu incólume. Vive hoje em um condomínio de casas de luxo em São José dos Campos, São Paulo. “Nunca houve punição pra ele”, diz Adionel Carlos da Cunha, de 77 anos, 52 dos quais à serviço da Arquidiocese como assessor de imprensa. 

“Que eu saiba não houve nem investigação”, continuou, em referência a Dom Eusébio, que foi arcebispo entre setembro de 2001 e fevereiro de 2009, quando o cardeal Dom Orani João Tempesta assumiu o comando da Arquidiocese. “Não tem nada a ver que Dom Eusébio seja culpado por isso, não”.

À época, Dom Orani assumiu o lugar de Dom Eusébio e logo contratou uma auditoria para calcular o tamanho do prejuízo promovido por Steckel. Também decidiu recontratar os 67 funcionários que haviam sido demitidos.

Não demorou muito, e a imagem de bom gestor foi maculada por outro escândalo. 

O monsenhor Abílio Ferreira da Nova, escolhido por Dom Orani para ocupar o lugar de Steckel na administração da Arquidiocese, foi preso no aeroporto do Galeão em setembro de 2010, um ano depois do afastamento de Steckel. Tentava embarcar rumo a Portugal com 52 mil euros escondidos em comida enlatada, na mala despachada, e nas meias. Foi denunciado pelo Ministério Público Federal por evasão de divisas, mas pagou uma multa para viver em liberdade.

O padre Edvino Steckel não respondeu às mensagens enviadas pela reportagem. Dom Eusébio também não atendeu aos telefonemas de ÉPOCA. Até o fechamento desta reportagem, a Arquidiocese não havia informado o resultado da investigação interna aberta na ocasião.

Caso Sérgio Cabral decida falar mais, o cardeal Dom Orani terá um passado não tão longínquo com o qual se preocupar.

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