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domingo, 13 de setembro de 2015

ENTREVISTA; HEITOR FERRER,"O PDT VIROU UM BOM FILÉ,PARA UM BOM PREDADOR"

Por ipuemfoco   Postado  domingo, setembro 13, 2015   Sem Comentários

Quando o médico Heitor Férrer decidiu entrar na política, no já longínquo junho de 1987, se viu dividido em respeito e
admiração entre o ex-governador gaúcho Leonel Brizola e o pernambucano Miguel Arraes. 

Na época, falou mais alto o trabalhismo brizolista, com Férrer disputando e se elegendo vereador pelo PDT. Quase trinta anos depois, às portas de trocar sua legenda pelo PSB de Arraes, hoje deputado estadual, ele diz ter apenas gratidão pelos antigos colegas, mas deixa um conselho: “O PDT virou um bom filé, para um bom predador”.

Os predadores, segundo Heitor Férrer, têm nome e sobrenome: Cid e Ciro Gomes (Pros), hoje de malas prontas para o PDT. Com trajetória inteira na oposição – inclusive a governos comandados por Ciro e Cid –, Heitor cresce na política cearense em embates com o ex-prefeito Juraci Magalhães (PMDB) e pela postura de cobranças e denúncias contra o Executivo.

No início dos anos 2000, presidiu o PDT do Ceará. Pedetista fiel mesmo como voz isolada de oposição, nunca se afastou do PSB, com quem chegou a ensaiar chapa em sua 1ª candidatura à Prefeitura de Fortaleza, em 2004. Veja entrevista de Heitor Férrer, que teve sua filiação simbólica ao PSB concretizada nesta sexta-feira, ao O POVO:

OP – Os Ferreira Gomes vão se adaptar bem ao perfil do PDT?

Heitor Férrer – Nós vemos por história, por estatísticas, por história pregressa. Em nenhum momento, a entrada dos Ferreira Gomes a um partido se deu por uma identificação ideológica. Até porque não é possível que a pessoa tenha tantas ideologias ao longo da vida, mudando, como é o caso agora do Ciro, que vai para o sétimo partido. 

Também tem que se fazer uma defesa de que os partidos políticos, com raras exceções, não têm esse perfil ideológico tão formatado. Nós temos quantos partidos ideológicos? O PCdoB e o PT, que agora se degenerou quando chegou ao poder. Houve essa degeneração ética e moral, culminando com essa crise política. 

Mas os demais partidos, inclusive o PDT, não têm uma posição tão formatada. Então eles (Cid e Ciro) entram em partidos políticos obviamente vendo e estudando a conveniência do momento. Isso foi em todos os partidos. Com o PDT não foi diferente, porque a história tem mostrado o pouco tempo de permanência nesses partidos. Veja a história do PSB e veja a história do Pros. Eles tiveram um prefeito que concorreu pelo PSB, passou para o Pros e agora já vai concorrer por uma outra legenda. 

OP – O senhor acha que eles permanecerão no partido?

Heitor Férrer – A história tem mostrado que não. Eles podem até surpreender e demorar, mas a história diz que não. O PDT está em um bom momento para abraçar uma candidatura à Presidência. O PDT está em bom momento, pois não tem nenhum escândalo que envolva o partido. Está em bom momento no Ceará, porque o André Figueiredo, que é o presidente, foi exemplarmente condutor desse processo de fundamentação do partido no Estado, ampliando nossas comissões provisórias em quase todos os municípios. Então o PDT virou um bom filé, para um bom predador. O PDT virou um partido simpático e charmoso.

OP – O que o senhor quer dizer com “bom predador”?

Heitor Férrer – Com todo o respeito, vou dar um exemplo. O PSB deixou de ter todos os parlamentares que tinha após passagem do grupo. Ele tinha representante na Câmara de Vereadores, deputado estadual e deputado federal pelo Estado. O PSB não tem mais nada. Nem tem vereador na Capital, nem tem representante na Assembleia, nem tem representante cearense na Câmara dos Deputados. 

Então isso mostra que houve uma ação predatória: eles entraram e o partido ficou todo na mão deles. E aí acho que, me perdoem os que pensam diferente, o Eduardo Campos não foi muito zeloso com a figura do Sérgio Novais, que presidia o partido e foi quem historicamente fez o PSB no Ceará. Preteriu o Sérgio e deu o partido para os Ferreira Gomes. Terminou que, no final, houve desentendimento entre eles próprios.

OP – Que conselho o senhor daria para os que ficam no PDT?

Heitor Férrer – Tenho muito apreço ao André Figueiredo, e disse para ele isso, que o histórico dos Ferreira Gomes é esse. E Deus queira que no PDT seja diferente. Até porque hoje o PDT é maior do que o PPS e PSB quando os Ferreira Gomes entraram. O PDT é mais robusto, mais fundamentado. Então, uma ação predadora, vindo desse grupo, talvez tenha maior dificuldade em abater a caça.

OP – Como vê a perspectiva de entrar em disputa contra o PDT em 2016, que deve lançar Roberto Cláudio?

Heitor Férrer – Não digo disputa contra o PDT, e sim a favor do PSB. Não tenho disputa contra, e sim a favor. Vou disputar a favor de um partido simpático, histórico, socialista, que é o PSB. E nessa saída, não guardo qualquer rancor do meu partido ou dos meus companheiros. 

Muito pelo contrário: guardo gratidão, porque ele me abrigou por 28 anos e cinco meses. E obviamente que essa modificação que o partido passa a ter, porque o partido que traz para si um bloco, um grupo de militantes, que já militou em seis, sete, oito partidos, é porque ele mudou de postura. O PDT mudou de fisionomia.

OP – Como foi sua filiação ao PDT?

Heitor Férrer – A época em que nós nos filiamos ao PDT foi época de grandes mudanças no Brasil, chegada da anistia, e Brizola era uma das figuras de maior representatividade no País. Pela sua história, pela sua resistência. E o que me encantava era a defesa que ele fazia da educação, e da reforma agrária que ele fez no Rio Grande do Sul, quando era governador, usando as terras da própria mulher. 

Isso tudo e aquele discurso forte dele. Mas na época, eu tinha também uma simpatia muito grande pelo PSB, pelas figuras do partido, como o Miguel Arraes. Mas prevaleceu a história do Brizola para mim, então me filiei ao PDT em junho de 1987. 

Eu era médico, do IJF e do Estado. Eu fazia atendimento, quando me formei, em 1981, fiz cinco anos de atendimento em periferia, uma vez por semana, como promessa que havia feito. Entrei no PDT em 1987 e concorri em outubro de 1988. Nessa época o prefeito eleito foi o Ciro Gomes, a quem fiz oposição.

OP – Como é ir para o PSB?

Heitor Férrer – Eu busquei mesmo ele para ver a possibilidade de me filiar caso o grupo do ex-governador Cid viesse. E o Roberto, muito sinceramente, disse que tinha compromisso com o Capitão Wagner. Então fui convidado por outros partidos, conversei com eles. Mas aí a nacional me convidou a Brasília, terminou firmando esse aceno concreto de entrar no PSB. 

E está tudo completamente combinado de ingressar, mas com uma pendência: eu só saio do PDT com ato vinculado. O grupo coordenado pelo ex-governador Cid Gomes entra e eu saio. porque é que eu não me filiei formalmente? Porque tenho pacto comigo mesmo de que não saio do meu partido, a não ser que eu seja preterido, dando todas as deferências, privilégios e respeitos ao Roberto Cláudio, candidato a prefeito, e a um grupo em que nós tivemos aqui embates históricos de 2007 até 2014.

OP – Fidelidade partidária é importante?

Heitor Férrer – A fidelidade partidária falta porque os partidos são frágeis. Eles estão sempre a cometer erros, por exemplo quando querem estar sempre na situação, e em certo momento na oposição. Isso mostra que o ideal do partido quase sempre não é o estatutário. É o ideal de conveniência, o da sobrevivência. Isso fragiliza.

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